Título: IPI reduzido não empolga
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 03/07/2012, Economia, p. 11
O mercado está convencido de que a prorrogação da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para produtos da linha branca e móveis, anunciada na última sexta-feira pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, não deverá surtir o efeito esperado no aumento do consumo das famílias.
Especialistas consultados pelo Correio afirmam que a decisão de prolongar as desonerações de produtos como geladeiras, micro-ondas e máquinas de lavar, terá impacto reduzido nas vendas. "Esse instrumento será cada vez menos eficaz, pois o governo já fez lá atrás essa antecipação do ciclo de consumo de bens duráveis", avalia o pesquisador Mauricio Canedo, do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE-FVG).
Esgotamento
O IPI menor será estendido por mais dois meses para itens da linha branca e por mais três meses para móveis e luminárias. Segundo o assessor econômico da Serasa Experian, Luiz Rabi, o equívoco do governo foi não ter levado em consideração o endividamento elevado da população e o esgotamento da demanda reprimida. "Enquanto o consumidor estiver endividado e inadimplente, o efeito prático é baixíssimo", disse.
O economista Nelson Barrizzelli, da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), é mais otimista, mas, ainda assim, fala em tom de descrédito. "Isso tem um efeito psicológico, porque o grosso da população vai raciocinar que, se o IPI está menor, a hora é boa para comprar", disse. Mas emendou: "Ainda assim, o que se esperam são vendas bastante tímidas, já que essa extensão apenas impediu que o varejo da linha branca despencasse".
Estratégia repetida
Essa não é a primeira vez que o governo baixa impostos para alavancar as vendas do varejo e. com isso, salvar o crescimento econômico. Em 2009, apenas alguns meses após o país ser atingido pela crise econômica global, a equipe do ministro Guido Mantega editou um pacote que reduzia impostos para produtos da linha branca e automóveis. Deu tão certo que, um ano depois, em 2010, o PIB (Produto Interno Bruto, a soma das riquezas produzidas) cresceu 7,5%. Agora, no entanto, as circunstâncias são diferentes e analistas acreditam que o efeito não será o mesmo.