Título: Militares desertam e vão para a Turquia
Autor: Fernanda Seixas, Maria
Fonte: Correio Braziliense, 03/07/2012, Mundo, p. 17

Após 16 meses de uma complexa escalada de violência que já deixou mais de 15 mil mortos na Síria, o governo ditatorial do presidente Bashar Al-Assad sofreu ontem golpes significativos. Enquanto a comunidade internacional procura alcançar um consenso em relação às propostas de transição para o país, 85 militares sírios desertaram e se refugiaram na Turquia. Além deles, um jornalista sírio da emissora de televisão Al Dunya, pró-Assad, juntou-se aos rebeldes e fez graves denúncias de manipulação de notícias por parte do governo.

Para o presidente do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, Rami Abdelraham, a revolução síria tomou um rumo de desobediência civil para a violência por causa da brutalidade do regime e da inércia da comunidade internacional. Por isso, opinou, a tendência é que as deserções continuem ocorrendo, enfraquecendo cada vez mais o governo. "O regime sírio está chegando ao seu limite e está perdendo o controle sobre o país. Não só pelos desertores, mas por aqueles que pegaram armas e estão ocupando e controlando várias áreas na Síria", afirmou Abdelraham ao Correio.

Entre os 85 militares sírios que anunciaram suas deserções, estariam um general, um coronel, um tenente-coronel e outros 18 oficiais, de acordo com a agência de notícias Anatólia. Além deles, Ghatan Sleiba, um famoso jornalista sírio que acaba de se refugiar em território, revelou ontem sua oposição ao poder em entrevista ao jornal britânico The Guardian. "O que estávamos fazendo não era reportagem, era simplesmente agir como a voz do regime", contou. O jornalista admitiu que durante os últimos meses trabalhando no canal televisivo pró-Assad repassava informações importantes às forças revolucionárias.

Tensão

Na fronteira com a Turquia, a tensão é crescente. Helicópteros sírios se aproximaram pelo segundo dia seguido das tropas vizinhas, mesmo após o governo turco avisar que qualquer presença militar na área seria encarada como ameaça. Minutos depois, jatos turcos começaram a sobrevoar o local, aumentando as desconfianças de que o desentendimento entre os dois países possa se agravar.

O conflito sírio foi debatido pela Liga Árabe ontem, em reunião no Cairo. Junto dos ministros das Relações Exteriores do Egito, da Turquia, do Iraque e do Kuwait, o Conselho Nacional Sírio, principal órgão de oposição, afirmou que a intenção é encontrar uma visão unificada sobre o período de transição e o futuro da Síria, sem que se permita, como propôs a reunião da ONU no último sábado, a participação de Bashar Al-Assad no novo governo.

Ontem, a chefe dos Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, pediu que os 15 membros do Conselho de Segurança submetam a situação na Síria ao Tribunal Penal Internacional. Pillay denunciou que tanto o governo de Al-Assad quanto os opositores são responsáveis pelas graves violações aos direitos humanos, citando recentes ataques contra hospitais sírios. 85 Total de militares que deixaram ontem o Exército sírio