O globo, n. 31137, 06/11/2018. País, p. 5

 

Equipe tem 27 indicados e nenhuma mulher

Aguirre Talento

Amanda Almeida

Letícia Fernandes

06/11/2018

 

 

Presidente eleito, Jair Bolsonaro escolheu para o gabinete de transição um time 100% masculino; no Congresso, algumas parlamentares fazem críticas e outras minimizam falta de representatividade

Divulgada ontem pelo Palácio do Planalto, a primeira lista de assessores do gabinete de transição do presidente eleito, Jair Bolsonaro, tem 27 nomes e nenhuma mulher. A relação de assessores, publicada no Diário Oficial da União, foi entregue na semana passada ao governo do presidente Michel Temer pelo futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

A ausência de mulheres na equipe causou preocupação entre parlamentares da bancada feminina no Congresso Nacional. Elas dizem que o futuro governo reproduz a desvalorização da mulher pela sociedade em espaços de poder no país.

A presidente do PSDB Mulher, deputada Yeda Crusius (PSDB), afirmou que a equipe de transição reproduz o “pequeno número de mulheres em postos de comando” .

— Mas espero que seja um governo inteligente, que sabe que mulher traz equilíbrio para qualquer foro de discussão, ainda mais o político —afirmou Crusius.

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB) fez referência à atuação de Bolsonaro no Congresso.

— Por mais que o entorno dele faça publicidade e tente desconstruir a imagem dele (Bolsonaro) de quase 30 anos de política, a prática não permite isso. O exemplo é esse, com a equipe de transição. Ele não tem proximidade com mulheres fortes e representativas.

Já a deputada Laura Carneiro (MDB) minimizou a ausência.

— Tenho certeza que a mulher terá espaço no governo —disse.

Procurado para comentar a ausência feminina, Onyx não respondeu.

Sem "justificativa”

Para o cientista político Adriano Codato, da Universidade Federal do Paraná, o anúncio de uma equipe de transição formada apenas por homens denota um “viés regressivo” do futuro governo:

— Não é normal só ter homens nas equipes de governo. Basta olhar os gabinetes dos países da Europa. São muitas mulheres na Alemanha, e elas ocupam quase metade dos ministérios da França, por exemplo. Um gabinete só de homens não é o padrão Ocidental e não há, para isso, nenhuma justificativa técnica.