Título: Valorização de 700% em quatro anos no poder
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 08/07/2012, Cidades, p. 28/29

Discreto, o chefe do Executivo de Vila Propício dirige um Santana 1998 e mora numa casa simples. Ele concentra seus investimentos imobiliários em Goiânia e Pirenópolis, num total de R$ 2,9 milhões

De Brasília para Vila Propício, município de 5 mil habitantes emancipado de Pirenópolis em 1995, o acesso à cidade é um rally de 32 quilômetros em estrada de chão. Desde a criação, o município realizou quatro eleições e escolheu dois prefeitos. Teodoro Aragão Araújo Filho (PMDB) foi o primeiro a assumir, em 1997. Perdeu a disputa seguinte, mas emplacou dois mandatos consecutivos. Teodoro deixará a cidade sem ter conseguido resolver questões fundiárias. Moradores reclamam que as escrituras das propriedades não têm valor legal, pois parte da cidade é composta por fazendas ainda presas em processos de inventário.

Para evitar a dor de cabeça dos imóveis ainda não regularizados de Vila Propício, o prefeito concentra suas propriedades entre Pirenópolis e Goiânia, essa última é a cidade onde vive. O patrimônio de Teodoro teve uma valorização superior a 700% da sua eleição em 2004 até a segunda candidatura, em 2008, saltando de R$ 334 mil para R$ 2,9 milhões. Ele alega que grande parte da variação se deve à atualização dos valores dos imóveis e que, no período, adquiriu uma residência em Pirenópolis, uma em Praia Grande, no litoral de São Paulo, e cinco alqueires de terras. "Tem uma casa que eu peguei com honorários que recebi de um processo em que atuei para a Companhia de Saneamento de Goiás. Eu mexia com advocacia de terras. Devo ter uns R$ 800 mil em honorários para receber ainda. Eu tenho duas manias, comprar camisa gola polo e imóveis,", afirma Teodoro.

Apesar do extenso patrimônio, composto por fazendas, salas comerciais em regiões nobres de Goiânia e casas em Pirenópolis, em Vila Propício, o prefeito não ostenta riqueza. Dirige um Santana 1998 e mora em uma casa com o mesmo padrão das residências dos trabalhadores locais.

Indisponibilidade Assim como os municípios de Vila Boa e Vila Propício, a paisagem de Abadiânia põe em xeque a qualidade da administração pública. Eleito um dos municípios mais sujos do Brasil durante a gestão de Itamar Vieira Gomes (PP), que está à frente da prefeitura desde 2004, o Executivo municipal coleciona pelo menos 10 ações de improbidade administrativa nos últimos 18 meses. Quando Itamar assumiu o comando de Abadiânia, alegou que seu único patrimônio era um carro popular ainda em fase de financiamento. Ao fim do primeiro mandato, no lugar do veículo ele afirmou ter um caminhão ano 1982, avaliado em R$ 35 mil.

No cartório de imóveis da cidade, no entanto, o CPF do prefeito dá conta que ele tem dois terrenos no Prolongamento 2, bairro de Abadiânia, e um imóvel à beira do Lago Corumbá, área que vem atraindo investimentos imobiliários, a 36 quilômetros de Abadiânia. Averbações aos três imóveis indicam indisponibilidade dos bens, determinada pelo Ministério Público. O Correio questionou o MP sobre o bloqueio e o oficial de Justiça que notificou o Itamar Vieira Gomes indicou o endereço da casa do lago. No local, um imóvel com acabamento de luxo recebe os últimos retoques. Procurado pela reportagem, o prefeito negou ser donos dos bens, apesar de os registros estarem em seu nome. "O meu patrimônio não mudou. Isso é mentira."