Título: Espetáculo do crescimento. Do patrimônio
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 08/07/2012, Cidades, p. 28/29
Após comandar por dois mandatos consecutivos as prefeituras de municípios goianos que circundam o Distrito Federal, quatro gestores deixarão o cargo com aumento substancial de bens. As cidades, no entanto, continuam em situação precária
Eles ficaram oito anos no poder, administrando cidades de 5 mil, 15 mil e 170 mil habitantes. Três dos quatro prefeitos do Entorno que encerram em 2012 dois mandatos consecutivos deixarão as cidades com fisionomia de terra arrasada. O quarto gestor aplica em ano eleitoral o montante de investimentos que não veio em dois mandatos, mas uma coisa eles têm em comum: deixarão a administração pública com patrimônio maior.
Abadiânia, Luziânia, Vila Boa e Vila Propício são os quatro dos 20 municípios goianos que renovaram, em 2004, o mandato de seus prefeitos. O Correio visitou as cidades e apurou registros de carros no CPF dos administradores, cartórios de imóveis, declaração de bens perante à Justiça Eleitoral, participação em empresas e checou informação de patrimônio deles em nome de familiares.
A lupa na vida administrativa e financeira dos prefeitos começa em Vila Boa, município com população de 5 mil pessoas. Os problemas na gestão de Waldir Gualberto de Brito (PT) custaram a cassação do prefeito, a seis meses das eleições. As denúncias de desvios em recursos da previdência, superfaturamento de aparelho de saúde e de pagamento indevido de diárias e de gasolina explicam, em grande parte, o afastamento.
Para fugir da precariedade do município que administrou por mais de sete anos, Waldir Gualberto permaneceu com residência fixa em Formosa, a 70 quilômetros de Vila Boa. E foi em Formosa que o patrimônio dele floresceu. A vida de Waldir mudou muito desde que o então servidor municipal de Vila Boa, dono de um Gol 1983, foi alçado ao posto de prefeito. Além da chácara que tem em Vila Boa, ele mora em um confortável imóvel no Bairro Abreu, em Formosa, é sócio da fábrica Baby Brasil, de travesseiros e fraldas, também no município, e seus irmãos apresentam considerável melhora financeira, com aquisição de duas lotéricas e participação na construção de um prédio de cerca de 20 apartamentos. O prefeito, agora, dirige um Fox 2011.
Em 2008, Waldir Gualberto declarou à Justiça Eleitoral que o montante de seus bens era de R$ 110 mil, valor de uma casa. O sucesso alcançado na vida financeira do prefeito não é compartilhado pelos moradores de Vila Boa. Lá, os cidadãos sofrem com ambulâncias e ônibus escolares sucateados, a Câmara Municipal funciona há 20 anos em um prédio alugado e as atividades das fazendas vizinhas contratam trabalhadores de fora para o corte da cana-de-açúcar. A única motoniveladora (patrola) usada para abrir ruas foi leiloada por R$ 17 mil pelo prefeito Waldir Gualberto. Agora, o município, que já possuiu o equipamento, paga R$ 200 a hora pelo aluguel da máquina.
Com o afastamento do prefeito vieram à tona as contas até então secretas da prefeitura. Relatório de gastos com diárias mostra que, durante o mandato, o prefeito recebeu R$ 192 mil. Muitas delas, no valor de R$ 500, em Formosa, município onde reside. As diárias para Goiânia tinham valor de R$ 1,2 mil. Apesar do ressarcimento de despesas, ele deixou a administração com dívidas em posto de gasolina.
Ao Correio, o prefeito, que continua no cargo por meio de uma liminar, nega ser o dono do prédio em construção, em frente à sua casa, e diz que o edifício pertence a um amigo de infância que é "faxineiro do Governo do Distrito Federal". "Pessoas simples também podem ter as coisas", alega. Ainda de acordo com Waldir Gualberto, sua profissão de dentista e a economia do salário de R$ 9 mil que recebia como prefeito explicam o aumento do patrimônio. "A casa em que eu moro é do meu irmão, que é gerente de banco, eu fico lá para descansar. A fábrica custa R$ 60 mil, mas está falida, porque não conseguimos botar ela pra frente. As lotéricas são do meu irmão, que participou de licitação, mas não vai ficar com elas, não. Eu não tenho nada com o prédio, é do Gilberto. Ele é faxineiro do GDF e tem um boteco. Não é meu, mas, em sete anos economizando esse salário (de R$ 9 mil), daria para fazer", afirmou o prefeito.
Namorada nomeada
Em Vila Boa, é conhecida a história da namorada do prefeito que foi nomeada para o gabinete e exonerada após sua cassação. Waldir Gualberto, no entanto, acha que a contratação não fere os princípios da administração pública. "A companheira da gente, todos os prefeitos têm como secretária de assistência social, independentemente de eu estar casado, legalmente, ela trabalha comigo, está me ajudando na busca de recursos. Ela é a única pessoa da família que eu nomeei."
"A casa em que eu moro é do meu irmão, que é gerente de banco, eu fico lá para descansar. A fábrica custa R$ 60 mil, mas está falida, porque não conseguimos botar ela pra frente" Waldir Gualberto, prefeito de Vila Boa