Título: Tentativa de salvar a CPI
Autor: Mascarenhas, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 05/07/2012, Política, p. 5
A base aliada resolveu ceder e afrouxar a blindagem a, pelo menos, um dos personagens que vinha protegendo até agora na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista de Cachoeira. Na sessão marcada para esta manhã, será votado, no mínimo, um requerimento de convocação entre os três mais pedidos pela oposição: Fernando Cavendish, sócio da construtora Delta; Luiz Antônio Pagot, ex-superintendente do Dnit; e Raul Filho, prefeito de Palmas (TO).
Presidente do colegiado, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) pode colocar em votação as três solicitações, atendendo apelos dos oposicionistas. Os petistas que integram a CPI chegaram a ensaiar uma iniciativa de esvaziamento da sessão. A estratégia é simples, sem quórum mínimo, a reunião teria de ser suspensa. "Falou-se muito nessa possibilidade hoje (ontem), mas a avaliação foi de que pegaria muito mal com a opinião pública. Decidiu-se, então, entregar um para sinalizar que a investigação está caminhando", justificou um cacique do PT.
O partido, porém, vai continuar trabalhando para evitar a todo custo a ida de Pagot. Até a noite de ontem, o maior consenso era: tendo que abrir mão de um aliado, os favoritos a perder o apoio são Raul Filho, principalmente, e Cavendish, que pode fazer valer seu direito constitucional de permanecer em silêncio durante toda a sessão. "Conseguir levar (à CPI) um desses três, seria uma vitória, dois, bom, mas três, seria demais", resumiu o líder do PSDB na Câmara, deputado Bruno Araújo (PE).
PSDB e PT vinham afinando o discurso para permitir que a comissão funcionasse durante o recesso parlamentar, que começa no dia 17 deste mês. No entanto, o insucesso das últimas sessões, quando a maioria dos convocados decidiu não responder às perguntas, aumentou a pressão sobre o colegiado. O bloco que trabalha para a investigação morrer na inércia já conquistou uma vitória, impedindo a convocação de Pagot e Cavendish até agora. A provável cassação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e o adiamento das oitivas consideradas mais delicadas para depois das férias do Congresso já se encarregarão de atenuar o desgaste.
Ontem, durante a sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em que foi aprovado processo de perda de mandato de Demóstenes, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) afirmou que a aproximação esboçada por tucanos e petistas, mostrada na edição do Correio de ontem, era gravíssima. Líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR) rebateu, negando qualquer possibilidade de acordo.
Um vídeo divulgado recentemente mostra o prefeito da capital do Tocantins oferecendo facilidades a Cachoeira em troca de financiamento de campanha, durante o período eleitoral, em 2004. Já a construtora de Cavendish acumula diversos contratos com o governo federal, do PT, enquanto Pagot já avisou que pretende falar sobre a influência no Dnit da organização criminosa comandada por Cachoeira.
"Conseguir levar (à CPI) um desses três, seria uma vitória, dois, bom, mas três, seria demais" Bruno Araújo (PE), líder do PSDB na Câmara
Casa polêmica de Perillo à venda A casa que o governador de Goiás, Marconi Perillo, teria supostamente vendido para o bicheiro Carlinhos Cachoeira está à venda por uma imobiliária de Goiânia. A mansão foi avaliada em R$ 2,5 milhões. A cifra é superior ao R$ 1,4 milhão recebido por Perillo do ex-vereador e braço direito de Cachoeira Wladimir Garcez em 2011. O preço divulgado inclui móveis. Sem a mobília, cai para R$ 1,8 milhão. O anúncio diz que o imóvel tem 450 metros quadrados e traz fotos da fachada, quartos, sala e cozinha. A residência, em que Cachoeira foi preso em fevereiro, estava ocupada pela mulher do contraventor, Andressa Mendonça, até março, quando ela se mudou do local. Só em decoração, ela e o marido gastaram cerca de R$ 500 mil. Essa informação foi fornecida à CPI que investiga as ligações entre Cachoeira e políticos pelo arquiteto Alexandre Milhomem, que trabalhou na obra.