Título: Dólar vai para R$ 2,027
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 05/07/2012, Economia, p. 17
Nem o dólar acima de R$ 2 foi suficiente para que os exportadores repatriassem recursos para o Brasil em junho. Segundo o Banco Central, a diferença entre todo o capital trazido de fora pelos empresários e os recursos remetidos por meio das importações deixou um saldo negativo de US$ 962 milhões, o pior resultado do ano. O receio de oscilações acentuadas da norte-americana e a necessidade de financiar matérias-primas no exterior travaram as remessas para o Brasil. O mercado financeiro, em contraponto, voltou a injetar dólares no país. Depois de três meses consecutivos de fuga de capitais por essa porta, o mês passado apresentou saldo positivo de US$ 1,2 bilhão.
No balanço final da conta de capitais estrangeiros de junho, a diferença entre tudo o que saiu e entrou no país deixou um saldo de US$ 318 milhões, volume considerado pequeno quando comparado ao "tsunami" — como disse a presidente Dilma Rousseff — registrado nos primeiros meses de 2012 e em 2011. Todas os pedágios impostos pelo governo, a exemplo do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente na captação de recursos no exterior com prazo acima de dois anos, reduziu expressivamente esses fluxos e tem inibido, inclusive, os exportadores. Os empresários têm avaliado ser mais vantajoso deixar o capital aplicado no exterior, diante de tantas mudanças de regras na área cambial.
Para especialistas, os números devem piorar ainda mais neste segundo semestre, sobretudo pela escassez de linhas de crédito internacionais para as empresas brasileiras. O Banco Central, por sinal, já avisou que as captações de recursos no exterior devem secar na segunda metade do ano. Os analistas compartilham dessa visão. "Neste segundo semestre, vai se tornar efetivo um fluxo de recursos externos menos favorável para o país, o que vai conduzir a um fluxo cambial negativo", projetou Sidnei Nehme, diretor executivo da NGO Corretora de Câmbio. "Este será um ponto de sustentação e até de maior pressão na formação do preço da moeda americana", ponderou.
Perda
O fluxo tem sido tão minguado para o Brasil nos últimos dois meses que o BC praticamente não fez intervenções no mercado. Com exceção de US$ 63 milhões em um único dia de maio — volume considerado inexpressivo —, a autoridade monetária interrompeu a compra de dólares. A instituição, porém, tem operado no mercado futuro com o objetivo de influenciar a valor do dólar frente o real. "Isso desestabilizou a formação de preço da moeda norte-americana", disse Nehme que classificou as operações da autoridade monetária no mercado futuro como "excessivas".
Flávio Serrano, economista do Espirito Santo Investment Bank, calcula que o real é "a pior moeda do ano" entre as principais do mundo, pois foi a que mais se enfraqueceu ante o dólar. Perdeu 8,50% em 2012 e 29,55% nos últimos 12 meses. "O real não devia estar neste patamar, está pior até mesmo que as moedas da Argentina e da Índia", observou Serrano. Ontem, o dólar fechou cotado a R$ 2,027 para venda, com valorização de 0,42%, diante do reforço do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que o governo fará de tudo para manter a moeda norte-americana no atual patamar.
Ainda segundo Serrano, os últimos dados da indústria e de atividade revelam que o governo errou no diagnóstico. "O dólar não é o grande vilão da indústria, nem os juros. Os vilões são a infraestrutura deficitária e os impostos altos. O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton, ao sair de uma reunião na Câmara, deixou claro que um dólar alto não preocupa a autoridade monetária do ponto de vista de inflação. Segundo ele, o repasse da alta do dólar para os preço é pequeno