Correio braziliense, n. 20246, 26/10/2018. Política, p. 4

 

Bolsonaro teme atentado 

Murilo Fagundes 

26/10/2018

 

 

Ministro da Defesa em um eventual governo Bolsonaro, o general reformado Augusto Heleno atribuiu a ausência do candidato do PSL no debate que seria transmitido hoje pela TV Globo a uma possível ameaça de atentado terrorista. O que seria o primeiro e único confronto direto entre os candidatos à Presidência da República não deve se concretizar, segundo o militar, porque Jair Bolsonaro “está realmente ameaçado” por “uma organização criminosa”. Com a recusa, é a primeira vez, desde a redemocratização, que não haverá debate presidencial no segundo turno.

“O (não) comparecimento ao debate, muita gente está vinculando ao medo dele (Bolsonaro) de sair, de debater com o Haddad... Não se trata disso. Ele está realmente ameaçado. Não é um mero tiro de sniper. É um atentado terrorista, onde tem uma organização criminosa, que eu não vou citar o nome por motivos óbvios, envolvida. (Foi) comprovado por mensagens, por escutas telefônicas. Então, isso é absolutamente verídico”, disse o general no vídeo publicado no Twitter.

Os temores da equipe de campanha de Bolsonaro chegaram também à casa do capitão reformado, na Barra da Tijuca. A segurança foi reforçada com equipamento de uso militar, e o local onde ele concede entrevistas e recebe visitas ganhou uma rede de camuflagem. O candidato tem sido orientado a permanecer atrás dessa proteção, sem circular pela área descoberta da casa, onde estaria mais exposto a ameaças. Ontem, o presidenciável saiu da residência e seguiu para a Zona Sul apenas para gravar os últimos programas de televisão, na casa de um empresário. Fora isso, passou parte da manhã no condomínio e se reuniu com um grupo de apoiadoras. Como tem sido comum, usou as redes sociais para se comunicar e à tarde falou à imprensa.

Fernando Haddad, do PT, reservou a manhã para se reunir com a ex-presidente da Costa Rica Laura Chinchilla, chefe da missão de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) no processo eleitoral brasileiro. O presidenciável se queixou das notícias falsas disseminadas para favorecer o adversário. Haddad definiu a campanha deste ano como “a mais baixa de todos os tempos”. Depois de cumprir agenda em São Paulo, viajou para o Nordeste, onde teve compromisso em Recife. Ele voltará a São Paulo no sábado, para encerrar a campanha na favela de Heliópolis.

 

Sem debate

Na reta final da disputa pela Presidência da República, os dois candidatos seguem se confrontando, mas a distância. Com o cancelamento do debate que seria transmitido hoje pela TV Globo, Bolsonaro e Haddad perderão a chance de estar frente a frente pela primeira vez na campanha. Para o cientista político Leonardo Barreto, a ausência de um encontro direto diminui a qualidade da decisão sobre o voto.

“A lógica da democracia é que o eleitor possa escolher um candidato próximo de seus valores e interesses. Para fazer uma boa escolha, ele precisa de informações a respeito do que os candidatos pensam e acerca do que vão fazer”, avalia Barreto. “Sem o debate, não se tem isso integralmente, já que as propagandas eleitorais têm um ambiente protegido: o candidato fala apenas o que quer falar, tenta construir uma marca e desconstrói o adversário. Já o ambiente de debate é menos protegido: o candidato é desafiado a falar sobre vários temas e recebe o contraponto”, analisa.

A legislação eleitoral não torna obrigatória a participação de postulantes a cargos políticos em debates com os adversários. Existe uma regra informal que, até o momento, não havia sido quebrada. “Vale ressaltar que o candidato do PSL passa por uma complicação, e locomover-se com a bolsa da colostomia é um fator que deve ser considerado. Mas, no caso de o candidato não querer ir, essa já é uma informação para o eleitor. Não seria desejável tornar a participação compulsória”, defende o cientista político.