Título: Manifesto por segurança na construção
Autor: Garcia, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 05/07/2012, Cidades, p. 28
Quase um mês após o acidente de trabalho que matou o ajudante de pedreiro José Afonso de Oliveira, o Tribunal Superior do Trabalho (TST), em parceria com o Tribunal Regional do Trabalho (TRT), promoveu ontem o Ato pelo Trabalho Seguro no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Com o objetivo de conscientizar e alertar trabalhadores da construção civil, mais de 4 mil operários participaram da iniciativa, receberam kits com cartilhas de instrução e assistiram a vídeos educativos. O governador Agnelo Queiroz (PT), o ex-jogador de futebol e deputado federal Romário (PSB) e o velejador Lars Grael também compareceram ao evento. Neste ano, sete pessoas já morreram no Distrito Federal em acidentes de trabalho.
A ação foi criada em 2011 por conta do crescente número de mortes no país. Segundo dados do Ministério da Previdência Social, foram 2.796 vítimas no último ano. Composto por ações educativas, o programa tem como tema de 2012 a construção civil, setor econômico com maior número de vítimas mortas. O ato já passou por estádios de Belo Horizonte, São Paulo, Natal, Cuiabá e Rio de Janeiro e deverá ser realizado em outras 10 cidades.
"A maioria dos acidentes é causada por desatenção e imprudência, como a falta do uso de equipamentos de segurança. Os funcionários devem ser conscientizados e as empresas punidas nesses casos", afirmou em seu discurso o presidente do TST, João Oreste Dalazen. "Essa é uma grande proposta do TST para a conscientização (dos trabalhadores)", afirmou o governador.
Alerta O ministro lembrou ainda a morte de José Afonso de Oliveira durante o evento. "Os trabalhadores presenciaram há um mês a morte de um colega. No ano passado, em média sete pessoas perderam a vida por dia no Brasil (em acidentes de trabalho)", afirmou. "Em 2011, foram 84 mortes a mais que no ano anterior, que também teve saldo maior em relação a 2009. Isso tem que mudar", defendeu José Afonso de Oliveira.
Números da Previdência Social mostram que, a cada mil trabalhadores de Brasília, 12,31 são vítimas de acidente de trabalho. "Esses dados não incluem os trabalhadores informais, então calculamos que esse número deve ser bem maior", avaliou o presidente do TST. No ano passado, o Distrito Federal registrou 17 mortes.
Para os mais de 4 mil operários que trabalham nas obras do Estádio Nacional, a morte de José Oliveira serviu de alerta. "Todos nós usamos os equipamentos de segurança. O acidente serviu para que todos fiquemos mais atentos, estamos tomando mais cuidado. A fiscalização também está mais atuante", afirmou Almir de Alcântara, 25. Ele e José Raimundo dos Santos, 42, ganharam por sorteio uma das 10 camisas da Seleção brasileira sorteadas ontem no evento.
O medalhista olímpico Lars Grael contou aos operários sobre seu acidente, em 1998, enquanto velejava. Na ocasião, ele teve de se afastar por algum tempo da prática desportista. "Fui vítima de um incidente causado por terceiros e desde então passei a defender a segurança no trabalho. O Brasil tem passado por grandes evoluções, e vocês são a parte principal disso", afirmou. Também presente ao evento, o deputado Romário lembrou-se do tempo em que trabalhou como operário. "Sei como é estar desse lado. É muito difícil. Poderia propor um minuto de silêncio para o amigo de vocês que sofreu o acidente, mas proponho uma salva de palmas."
62% prontos O Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, que terá capacidade para abrigar cerca de 70 mil pessoas, já tem 62% da obra concluída. O Governo do Distrito Federal estima um custo total de aproximadamente R$ 800 milhões. A arena será administrada por uma empresa privada, contratada por meio de licitação. A construção é realizada pelo Consórcio Brasília 2014, formado pela Via Engenharia e pela construtora Andrade Gutierrez. A expectativa é que o empreendimento seja concluído entre o fim deste ano e o início de 2013.