O Estado de São Paulo, n. 45712, 13/12/2018. Política, p. A6

 

‘Tem de investigar todos da lista do Coaf. O que tiver de ser, será’

Marianna Holanda, entrevista Janaina Paschoal, advogada

13/12/2018

 

 

Eleita pelo PSL para a Assembleia paulista, Janaina Paschoal diz que não se pode ‘ter medo da verdade’

 

Eleita com votação recorde para ocupar uma cadeira na Assembleia de São Paulo, a advogada Janaina Paschoal defende investigar todos que aparecem em relatório do Coaf com movimentação financeira atípica – entre eles, o policial militar Fabrício de Queiroz, ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro, seu correligionário do PSL. “Tem de ser investigado. Todos”, disse ela, ontem à noite, ao Estado. “Vamos apurar e, o que tiver de ser, será. Não é isso que o presidente (eleito, Jair Bolsonaro) sempre fala? Que não temos de ter medo da verdade? Seja ela qual for.”

Mais cedo, Janaina relatou em uma rede social o que ouviu de um corregedor da Assembleia de São Paulo, em uma “aula” para os novatos da Casa. Ele contou casos em que os assessores eram contratados por parlamentares e deixavam uma fatia de seus salários com os deputados. Sem citar diretamente Flávio e o Coaf, ela criticou o que chamou de “lamaçal”. A seguir, os principais trechos da entrevista:

 

A sra. acha que esse caso do Coaf sobre o ex-assessor de Flávio Bolsonaro é, possivelmente, o mesmo caso relatado na sua postagem na rede social?

Se eu afirmar, estou sendo irresponsável. Mas um bom investigador não pode descartar.

 

A sra. acha que o caso deve ser investigado?

Tem de ser investigado. Todos (os assessores e parlamentares da Alerj que estão no relatório do Coaf). Não estou falando dele (Flávio), especificamente. O que talvez as pessoas não compreendam é que, mais do que o PT, eu critiquei e critico o comportamento petista. ‘Quando alguém é da minha turma, meu partido, e faz, é legal; se alguém de outro partido vai e faz, aí é crime’. Não dá mais para viver assim. Não estou acusando ninguém. O que eu acho é que não dá para deixar isso para lá.

 

O futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, também defendeu investigação, mas disse que as explicações do presidente eleito a respeito do episódio foram suficientes. A sra. concorda?

Acho que só a autoridade competente, por uma eventual futura investigação, poderá dizer. A gente não pode partir do pressuposto que as pessoas são incorretas, mas não podemos descartar a possibilidade. Pode ser o caso de um assessor muito próximo que fez esse recolhimento em nome do parlamentar, sem ele saber. O que não pode é a gente deixar de apurar. Bolsonaro pode ter dado explicação daquilo que ele conhece. Pode haver uma parte da história que ele desconhece, entendeu? Ele pode falar que houve um empréstimo. A explicação dele é lógica, razoável, factível. Mas eu não sou a autoridade competente para falar nada.

 

E o Flávio deveria ter dado explicações melhores? O ex-assessor até agora não apareceu.

O silêncio é um direito constitucional para quem, eventualmente, está numa situação que pode vir a ser investigada. Então, não posso criticar o silêncio deles.

 

A sra. defende uma investigação sobre o caso, mas o governo nem começou...

Vamos apurar e, o que tiver de ser, será. Não é isso que o presidente sempre fala? Que não temos de ter medo da verdade? Seja ela qual for. Nosso País tem de amadurecer.