O Estado de São Paulo, n. 45712, 13/12/2018. Política, p. A8

 

'Se algo estiver errado, que paguemos'

Tulio Kruse

13/12/2018

 

 

Em transmissão na internet, Bolsonaro comenta caso que envolve movimentações atípicas de ex-assessor de seu filho; ‘dói no coração’, diz ele

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, afirmou ontem que, se tiver “algo errado” no caso que envolve movimentações financeiras “atípicas” de ex-assessor de um de seus filhos, o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSLRJ), “que paguemos a conta”. Bolsonaro, no entanto, disse que nem ele nem Flávio são investigados no caso. A declaração foi feita em transmissão nas redes sociais.

O caso envolve depósitos em espécie recebidos por Fabrício José Carlos de Queiroz, que até o ano passado trabalhava no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). “Se algo estiver errado, que seja comigo, com meu filho, com o Queiroz, que paguemos a conta desse erro, que nós não podemos comungar com o erro de ninguém”, disse. “Aconteça o que acontecer, enquanto eu for presidente, nós vamos combater a corrupção com todas as armas do governo, inclusive o próprio Coaf”, acrescentou ele, em referência ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras, que relatou a movimentação “atípica”.

O presidente eleito disse que está “aberto” a qualquer pergunta do público sobre o caso. “Dói no coração da gente? Dói, porque nossa maior bandeira é o combate à corrupção.”

A transmissão foi a primeira de Bolsonaro em um mês, em sua página oficial no Facebook. Na live de ontem, disse que a partir desta semana fará transmissões semanais.

Bolsonaro também comentou temas como multas ambientais, o Acordo Climático de Paris e a saída do Pacto Global de Migração – anunciada nesta semana. O presidente eleito disse que fará sugestões de mudança no Acordo de Paris após consultar o ministro indicado para o Ministério das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Caso as propostas não sejam acatadas, disse, o Brasil sairá do acordo. Ele justificou sua resistência ao pacto citando exigências de que o País faça reflorestamento de grandes territórios, e disse que sediar a Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP-25 – outro compromisso do qual o País se retirou – custaria cerca de R$ 400 milhões, o que ele considerou muito caro.

“Não podemos nos dar ao luxo de fazer um evento como esse. As informações que eu tenho podem estar um pouco imprecisas, mas entre as exigências do Acordo de Paris se exige que se faça reflorestamento de uma área enorme, algumas vezes o tamanho do Estado do Rio de Janeiro. Nós não temos como cumprir”, disse.

Sobre a saída do pacto migratório, Bolsonaro disse que não poderia “escancarar” a entrada de imigrantes “com uma cultura completamente diferente” no Brasil. Ele questionou a “cota migratória” e disse que países da Europa teriam a intenção de “se livrar” de imigrantes indesejados. “Não podemos admitir deixar chegar gente de uma determinada cultura e quererem se casar com nossas filhas e netas de 10, 11 ou 12 anos de idade. Porque isso é cultura deles”, disse, sem especificar nacionalidades.

Bolsonaro lembrou que é descendente de italianos, mas deu a entender que processos migratórios anteriores teriam ocorrido antes da formação de uma “nação”. “A minha família mesmo é de imigrantes italianos, como todos nós aqui somos. Mas tem um detalhe: (hoje) nós já somos uma nação, uma pátria, somos um País.”

 

'Erro'

Se algo estiver errado, seja comigo, meu filho ou Queiroz, que paguemos. Não podemos comungar com o erro de ninguém.”

Jair Bolsonaro

PRESIDENTE DA REPÚBLICA ELEITO

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Bolsonaro quer lei trabalhista mais 'informal'

Julia Lindner

13/12/2018

 

 

Presidente eleito diz que artigo da Constituição que trata de direitos como férias e 13.º salário está ‘engessado’

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, voltou ontem a criticar a legislação trabalhista e defendeu aproximá-la da “informalidade”. Em reunião com parlamentares do DEM, também criticou a atuação do Ministério Público do Trabalho e de ambientalistas em contraposição ao avanço do agronegócio.

“No que for possível, sei que está engessado no artigo sétimo (da Constituição), mas tem que se aproximar da informalidade”, disse durante reunião com a bancada do DEM no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). O artigo 7.º citado por Bolsonaro trata dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, como férias, 13.º salário, descanso semanal remunerado, licença-maternidade, seguro-desemprego e fundo de garantia. Ele, porém, não detalhou se pretende mudar algum desses pontos.

Na semana passada, Bolsonaro disse que “hoje em dia continua muito difícil ser patrão no Brasil”, mesmo após o Congresso aprovar projeto do governo Michel Temer que muda trechos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Ele também afirmou ser a favor de um “aprofundamento” da reforma trabalhista em seu governo, com medidas mais favoráveis aos empregadores para estimular novas contratações, mas não especificou de que forma isso seria feito. A ideia também foi apresentada de maneira genérica a parlamentares do MDB e do PRB.

Bolsonaro disse mais uma vez “ser patrão no Brasil é um tormento”. “Eu poderia ter microempresa, mas sei das consequências depois se meu negócio der errado. Devemos mudar isso daí.”, afirmou.

Ao se referir ao Ministério Público do Trabalho (MPT), Bolsonaro afirmou que “se tiver clima a gente resolve esse problema”. “O Ministério Público do Trabalho, por favor, se tiver clima, a gente resolve esse problema. Não dá mais para continuar quem produz sendo vítima de uma minoria, mas uma minoria atuante”, disse.

Ele também criticou a decisão do MPT de pedir multa de R$ 100 milhões da empresa Havan e de seu dono, Luciano Hang, por suposta coação de funcionários durante período eleitoral para apoiarem Bolsonaro.

Ainda defendeu que os patrões e as empresas sejam tratados como amigos. “Nós queremos que tenha fiscalização sim, mas que chegue no órgão a ser fiscalizado e que a empresa seja atendida como amiga. Vê o que está errado, faz observações, dá um prazo, e depois volta pra ver se a exigência foi atingida. E aí multa. Não fazer como está aí. Ser patrão no Brasil é um tormento.”

Na conversa com o DEM, Bolsonaro reforçou seu alinhamento com os interesses do agronegócio e foi aplaudido em pelo menos duas ocasiões. Ele afirmou que percebeu que acertou na escolha de Ricardo Salles para o comando do Meio Ambiente quando viu a crítica de entidades.

O presidente eleito também voltou a defender o fim da demarcação de terras indígenas e quilombolas. “Já acabou esse tempo”, declarou.

“Não posso acordar e ver que via portaria se iniciou demarcação de terras. Isso vai deixar de existir. Isso mudou. Agora nós somos governo. Mas temos que estar unidos”, declarou.

Ao lado da futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina, Bolsonaro afirmou que ela também acumularia a função de ministra do Meio Ambiente, mas recuou após perceber que teria

“problemas fora do Brasil”. “Demos um passo atrás. A gente namora, fica noivo e casa. Não namora e casa. Recuamos e veio o garoto Ricardo Salles. Quando vi entidades ambientais criticando ele, eu falei: ‘poxa, Onyx (Lorenzoni), acho que acertamos’”, contou, provocando risadas entre os presentes.

Ele sinalizou que quer extinguir decreto que permite descontos de até 60% nas multas ambientais e que transforma o restante em investimento para recuperação de florestas.

Ao falar da questão indigenista, Bolsonaro citou o caso de um empresário que quer iniciar uma obra no Paraná, mas depende de um laudo da Fundação Nacional do Índio (Funai)

“Não demarcaremos um centímetro quadrado a mais de terra indígena e ponto final.” Ao falar dos quilombolas, atuais habitantes de comunidades negras rurais formadas por descendentes de africanos escravizados, Bolsonaro fez menção ao deputado eleito Helio Bolsonaro, um de seus apoiadores, que é negro. A menção ao aliado provocou novas risadas.

 

‘Engessado’

“No que for possível, sei que está engessado no artigo sétimo, mas tem que se aproximar da informalidade.”

 

“Quando vi entidades ambientais criticando ele, eu falei: ‘poxa, Onyx (Lorenzoni), acho que acertamos’”

Jair Bolsonaro​, PRESIDENTE ELEITO

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Tiros e flexão em visita a comando de elite da PF

13/12/2018

 

 

 

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, visitou ontem, em Brasília, o Comando de Operações Táticas (COT) da Polícia Federal (PF), considerada a unidade de elite da PF. Depois de posar para fotos, Bolsonaro foi filmado por sua assessoria fazendo exercícios de flexão, mesmo usando uma bolsa de colostomia. O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito, publicou no Instagram um vídeo no qual o pai também pratica tiro. A visita durou pouco mais de uma hora.