O Estado de São Paulo, n. 45711, 12/12/2018. Política, p. A6

 

MP do Rio investiga ex-motorista de filho de Bolsonaro

Constança Rezende e Fábio Serapião

12/12/2018

 

 

Órgão apura operações financeiras atípicas em nome de 75 assessores na Assembleia do Estado; Fabrício Queiroz movimentou R$ 1,2 mi

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) investiga movimentações atípicas em contas bancárias de 75 assessores e ex-auxiliares de 22 deputados estaduais fluminenses detectadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Um dos investigados é o ex-motorista Fabrício José Carlos de Queiroz, que trabalhou como assessor parlamentar do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente eleito, Jair Bolsonaro.

A partir do relatório do Coaf foram encontradas movimentações atípicas em contas de funcionários ou ex-comissionados de deputados da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). As investigações apuram também doações feitas aos parlamentares por parte dos auxiliares investigados, além de pagamentos de contas pessoais dos parlamentares ou de seus familiares por alguns servidores.

“No total, foram identificados 75 servidores e ex-servidores da Alerj que apresentaram movimentação financeira suspeita registrada em contas de sua titularidade”, afirma o relatório obtido pelo Estado.

De acordo com relatório produzido pelo Coaf, revelado pelo Estado na quinta-feira passada, Queiroz movimentou de 1.º de janeiro de 2016 a 31 de janeiro de 2017, R$ 1,2 milhão. A quantia é considerada incompatível com as condições financeiras do ex-funcionário. O caso está sendo analisado pelo Grupo de Atribuição Originária Criminal da Procuradoria-Geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. É desse órgão a atribuição legal para analisar supostos crimes de deputados estaduais.

 

Operação. As investigações abertas no âmbito estadual pela Procuradoria-Geral de Justiça do Rio são independentes das apurações conduzidas pelo Ministério Público Federal (MPF) na Operação Furna da Onça, que levou à prisão 10 deputados estaduais. A Furna da Onça está a cargo da Lava Jato do Rio que teve acesso ao relatório do Coaf há cerca de seis meses. De acordo com fontes ouvidas pelo Estado, dentro do âmbito da operação que prendeu os deputados fluminenses, não foram encontrados elementos de envolvimento dos citados no documento no esquema desmantelado na investigação da Lava Jato.

A Furna da Onça apura crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, loteamento de cargos públicos e de mão de obra terceirizada, principalmente no Detran-RJ. Como o MPF não tem competência legal para investigar crimes não federais supostamente cometidos por deputados estaduais, a parte das apurações que envolve as movimentações atípicas ficou com o MPRJ.

O ex-motorista, que atuava também como segurança, foi exonerado do gabinete de Flávio Bolsonaro em 15 de outubro deste ano. Queiroz, que também é policial militar, mas estava cedido ao Poder Legislativo, trabalhou para Flávio Bolsonaro por mais de dez anos, segundo nota divulgada pelo gabinete do parlamentar. O Coaf detectou que da sua conta saíram recursos depositados em nome da futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Foram R$ 24 mil reais, segundo o relatório do conselho.

O documento também afirma que foram identificadas na conta transações envolvendo dinheiro em espécie, embora Queiroz exercesse atividade cuja “característica é a utilização de outros instrumentos de transferência de recurso”. Foram achados ainda depósitos de outros assessores de Flávio na conta de Queiroz.

O Coaf informou que foi comunicado das movimentações de Queiroz pelo banco onde o ex-assessor mantém a sua conta. A instituição considerou que elas são “incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional e a capacidade financeira” do ex-motorista