O Estado de São Paulo, n. 45711, 12/12/2018. Política, p. A8
Prefeito de Niterói é preso sob acusação de desviar R$ 10 milhões
Denise Luna
12/12/2018
Rodrigo Neves (PDT) é suspeito de comandar esquema de propinas no setor de transporte; ele nega irregularidades
Alvo. Rodrigo Neves é preso, ontem, na Operação Alameda
O prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PDT), foi preso ontem na Operação Alameda, um desdobramento estadual da Operação Lava Jato. Também tiveram a prisão decretada o ex-secretário municipal de Obras Domício Mascarenhas de Andrade e três empresários do ramo de transporte público rodoviário. Todos são acusados de integrar uma suposta organização criminosa que estaria envolvida em atos de corrupção ativa e passiva. O prefeito se declarou “perplexo” e afirmou ser inocente.
Segundo as acusações, o esquema foi articulado para o pagamento de propina de empresários do setor aos agentes públicos da cidade. A investigação do Ministério Público Estadual do Rio e da Polícia Civil apontou que, entre 2014 e 2018, foram desviados aproximadamente R$ 10,9 milhões dos cofres públicos para pagamentos ilegais.
A Operação Alameda foi executada pela Polícia Civil, pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MP-RJ) e pela Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MP-RJ).
As buscas, prisões e apreensões foram realizadas na manhã de ontem. Elas aconteceram nas residências dos acusados, no gabinete do prefeito e em sedes de oito empresas de ônibus que prestam serviço no município. Também houve ações em escritórios dos consórcios Transoceânico e Transnit e do Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (Setrerj).
A denúncia afirma que o prefeito e Domício Mascarenhas integram o núcleo político da organização criminosa. O suposto grupo criminoso teria solicitado vantagens indevidas e desviado recursos públicos decorrentes dos contratos de concessão. Por eles, seria cobrada propina de 20% sobre os valores pagos pela prefeitura às empresas consorciadas. O pretexto seria o reembolso da gratuidade de passagens, previsto para alunos da rede pública, pessoas idosas e portadores de deficiência.
Os promotores também afirmam que a administração municipal controlava a liberação dos recursos devidos aos consórcios por causa da gratuidade. Segundo a denúncia, a prefeitura retardaria a liquidação e o pagamento dessas despesas, para pressionar as empresas a liberar o suborno. Em troca, o Poder Executivo municipal apoiaria projetos de interesse do setor. Também promovia atividades de combate ao transporte clandestino.
Defesa. Ao chegar ontem preso à Cidade da Polícia, na zona norte do Rio, Neves negou as acusações. Ele afirmou também que abriu o sigilo bancário para provar que as acusações não procedem.
“Estou absolutamente perplexo. Trabalho desde os 18 anos de idade, tenho 20 anos de vida pública, não tenho bem, não viajo para o exterior, fecho minhas contas como qualquer cidadão de classe média”, afirmou Neves, de 42 anos. Ele começou a carreira política como vereador pelo PT, em 1997, teve uma rápida passagem pelo PV, em 2015, antes de se filiar ao PDT, em 2017.
Até a conclusão desta edição, o Estado não havia conseguido localizar a defesa do ex-secretário de Obras do município Domício Mascarenhas.