Título: Câmara salva três e deixa um em risco
Autor: Caitano, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 12/07/2012, Política, p. 5

Os comentários sobre a cassação do mandato de Demóstenes Torres (sem partido-GO) por seu envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, ocorrida no início da tarde de ontem no Senado, ainda dominavam os corredores do Congresso quando a Câmara decidiu arquivar investigações sobre três deputados e pedir a cassação de outro por ligação estreita com o contraventor. Os casos de Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), Rubens Otoni (PT-GO) e Sandes Júnior (PP-GO) estavam sob análise quase ao mesmo tempo em que o senador era avaliado. Somente Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), porém, poderá ser investigado.

A situação de Protógenes era a única que já estava no Conselho de Ética. O parlamentar tornou-se suspeito ao surgirem gravações em que ele conversava com o araponga Idalberto Matias Araújo, o Dadá, integrante do esquema criminoso de Cachoeira. O relatório preliminar de Amauri Teixeira (PT-BA), pedindo a investigação do caso, foi sepultado com o aval de 18 deputados — somente Mendes Thame (PSDB-SP) votou a favor do texto. "Foi uma lição para que a Câmara não institucionalizasse uma disputa política", comentou Protógenes, criticando o PSDB, autor da representação contra ele.

Paralelamente, a Corregedoria da Casa havia organizado uma comissão de sindicância para analisar as acusações contra Sandes, Otoni e Leréia. Ligações interceptadas pela Polícia Federal identificaram Sandes Júnior pedindo patrocínio a Cachoeira e tratando de editais de concorrência pública. Já Otoni surgiu em um vídeo, gravado pelo próprio bicheiro em 2004, no qual negocia o pagamento de R$ 100 mil para gastos não declarados com campanha. Os relatores de ambos os casos, porém, consideraram não haver provas consistentes de que os deputados tenham agido irregularmente.

Clube do Nextel Carlos Alberto Leréia, por outro lado, colecionou motivos para ser investigado. Além de ser sócio de Cachoeira na compra de um avião, o tucano recebeu um aparelho da Nextel pago pelo esquema criminoso e foi pego em mais de 100 ligações conversando com o bicheiro. Nas conversas, pediu o cartão de crédito do contraventor emprestado para comprar um jogo de celular, negociou o recebimento de cheques e até atuou na demissão de servidores públicos e integrantes da polícia de Goiás a pedido de Cachoeira.

Para compor o parecer com pedido de cassação, que ainda é sigiloso, o relator Jerônimo Goergen (PP-RS) analisou os inquéritos da PF enviados à CPI do Cachoeira. O caso do tucano é considerado quase tão grave quanto o de Demóstenes Torres. "A diferença é que o Leréia não mentiu nem negou em momento algum sua ligação com Cachoeira", acrescentou.

O relatório da comissão de sindicância seguiu para a Mesa Diretora, que deve acatar a recomendação do grupo e enviá-la ao Conselho de Ética. Essa decisão, porém, deve ser tomada somente após o recesso, em agosto. Também no segundo semestre, a corregedoria deve concluir a análise do caso do deputado Stepan Nercessian (PPS-RJ), que assumiu ser amigo de Cachoeira e ter recebido emprestado dele R$ 179 mil.

"A diferença (para Demóstenes) é que o Leréia não mentiu nem negou em momento algum sua ligação com Cachoeira" Jerônimo Goergen (PP-RS), deputado federal