O Estado de São Paulo, n.  45708, 09/12/2018. Política, p. A10

 

Bolsonaro diz que conta de Michelle é como se fosse sua

Renata Batista

09/12/2018

 

 

Presidente eleito reitera que recursos depositados na conta de mulher são parte de dívida e admite arcar com sua ‘responsabilidade perante o Fisco’

 

Renata Batista/ RIO

 

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, disse ontem que assume a responsabilidade por recursos depositados na conta de sua mulher e futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro, pelo policial militar Fabrício José Carlos de Queiroz, ex-assessor de seu filho, o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL). Em um relatório sobre movimentações atípicas de funcionários da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou um depósito de R$ 24 mil de Queiroz para Michelle.

Bolsonaro reafirmou ontem que o montante é parte de uma dívida que Queiroz tinha com ele. Conforme o presidente eleito, o pagamento foi feito em dez cheques de R$ 4 mil.

Ele disse, contudo, que montante não foi declarado ao Imposto de Renda (IR) porque os repasses foram “se avolumando”. “O empréstimo foi se avolumando e eu não posso, de um ano para o outro, (colocar) mais R$ 10 mil, mais R$ 15 mil. Se eu errei, eu arco com a minha responsabilidade perante o Fisco. Não tem problema nenhum”, declarou o presidente eleito após participar de uma cerimônia na Escola Naval, no Rio.

O Estado revelou que relatório do Coaf apontou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta de Queiroz quando ele era assessor parlamentar no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. O montante foi movimentado no período de janeiro de 2016 a janeiro de 2017.

O documento lista dados financeiros e patrimoniais de funcionários da Assembleia Legislativa do Rio, alvo da Operação Furna da Onça. Nela, foram presos dez deputados estaduais. Flávio Bolsonaro não foi alvo.

Bolsonaro disse que os depósitos foram feitos na conta de sua mulher e não na própria conta porque não costuma ir a banco. “(Se) Foi na (conta) da minha esposa, pode considerar na minha. Só não foi na minha por uma questão de mobilidade”, disse. “Ninguém recebe ou dá dinheiro sujo com cheque nominal.”

Bolsonaro disse não ter se encontrado com o ex-assessor após a divulgação das investigações do Coaf sobre a movimentação atípica. “Eu não conversei com ele. Se ele quiser conversar comigo… mas acho que não seria prudente”, declarou.

 

Servidores. Para o presidente eleito, operações como as que foram detectadas entre os assessores do filho são normais entre colegas de trabalho. O relatório do Coaf mostra que ao menos sete servidores da Assembleia que passaram pelo gabinete de Flávio Bolsonaro fizeram transferências bancárias para uma conta em nome de Queiroz. Da mesma forma, ele não considera um problema que a filha do policial militar, Nathalia, trabalhasse

em seu gabinete em Brasília. De acordo com o Coaf, Nathalia repassou mais de R$ 84 mil ao pai no período pesquisado. Queiroz e a filha foram exonerados dia 15 de outubro, após o primeiro turno das eleições, porque “não estavam correspondendo”, disse o presidente eleito.

“Da conta do Queiroz, não tenho nada a falar”, disse. “Não quer dizer que eles sejam criminosos”, completou.

Para o presidente eleito, advogados de parlamentares fluminenses presos vazaram as informações. “O pente-fino do Coaf foi feito no início do ano. Foram advogados que vazaram isso agora para tentar desviar o foco da atenção, deles para o meu filho.”

 

‘Mobilidade’

“(Se) Foi (depositado) na (conta) da minha esposa, pode considerar na minha. Só não foi na minha por uma questão de mobilidade.”

Jair Bolsonaro, PRESIDENTE DA REPÚBLICA ELEITO

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Temer define plano de intervenção em RR com governador eleito

Vera Rosa

09/12/2018

 

 

Presidente e futuro governador, Antonio Denarium, vão discutir como enfrentar a crise da 'ordem pública' no Estado

 

O presidente Michel Temer vai  se reunir na próxima terça-feira com o interventor de Roraima, o futuro governador Antonio Denarium (PSL), e com os secretários Eduardo Pazuello, que ocupará a Fazenda, e Paulo Rodrigues da Costa, escolhido para a Segurança Pública, na tentativa de traçar diretrizes para enfrentar a crise no Estado.

Os dois foram indicados ontem por Temer para ajudar na intervenção integral até o dia 31 deste mês. O decreto que estabelece a medida será publicado amanhã no Diário Oficial da União. A partir daí, o Congresso terá 24 horas para aprová-lo.

O crédito extraordinário da União para Roraima deve ficar em R$ 160 milhões.O governo federal diz que a intervenção tem o objetivo de "por termo ao grave comprometimento da ordem pública" provocado pela greve de agentes penitenciários e da Polícia Militar, além da crise causada pela imigração de venezuelanos.

De acordo com o decreto, o interventor terá atribuições de governador e ficará subordinado ao presidente da República.

O texto diz ainda que "não se aplica ao interventor sanção por não pagamento ou não repasse de recursos pelo Poder Executivo" que seja anterior à data da intervenção.

Os passos sobre como ficará a situação em Roraima foram detalhados ontem pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sérgio Etchegoyen, depois de uma reunião no Palácio da Alvorada com Temer e o Conselho da República e de Defesa Nacional.

Além de Etchegoyen, estiveram no encontro outros seis ministros, o presidente Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e os comandantes das Forças Armadas.

"O relatório de inteligência deixou claro a deterioração das contas públicas de Roraima e a impossibilidade do pagamento de salários, o que levaria riscos para a segurança pública", disse Etchegoyen. Segundo ele, há duas facções criminosas que se confrontam no sistema penitenciário do Estado, o que demandou "agir com firmeza" para enfrentar a situação.

Etchegoyen também citou a necessidade de continuar dando suporte à operação de acolhida de imigrantes venezuelanos.

O senador Romero Jucá (RR), presidente do MDB e líder do governo na Casa, afirmou que há uma expectativa de que a intervenção continue a partir de janeiro, mas será preciso o aval do presidente eleito Jair Bolsonaro, do mesmo partido de Denarium. "O governador também está pedindo isso", afirmou Jucá. Enquanto durar a intervenção, o Congresso fica impedido de votar propostas de emenda à constituição.

Jucá defende urna medida provisória destinando crédito de R$ 200 milhões para pagar servidores e outras despesas.

"Tudo tem maracutaia em Roraima. É preciso uma investigação para ver o que é devido ou não", argumentou o senador. Adversário político da governadora afastada Suely Campos (PP), ele também é alvo de denúncias e investigações.