Título: Choques na Espanha
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 12/07/2012, Economia, p. 15

Madri — O clima de tensão aumentou ontem na Espanha. Enquanto o primeiro ministro, Mariano Rajoy, pedia mais sacrifícios à população e anunciava um novo pacote de ajuste para economizar 65 bilhões de euros, milhares de trabalhadores ocuparam as ruas da capital espanhola para protestar contra a redução dos subsídios à mineração. Houve choques com a polícia, que prendeu cinco manifestantes, e 23 pessoas ficaram feridas.

O arrocho adicional nas contas públicas — que inclui um aumento do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) — foi exigido pela União Europeia em troca do plano de socorro de 100 bilhões de euros aos bancos espanhois. O principal tributo do país o IVA da maior parte das mercadorias subirá de 18% para 21%. O IVA reduzido para alguns produtos irá de 8 para 10%, mas será mantida a taxa super reduzida de 4% para produtos de primeira necessidade, incluindo alimentos básicos.

As medidas também afetarão a administração do Estado. Serão suprimidas empresas públicas e reduzido em 30% o número de vereadores. Além disso, neste ano, os funcionários não terão abono de Natal. Nem os desempregados — num país com taxa de desocupação de 24,44% — foram poupados: a partir do sexto mês de recebimento do seguro-desemprego, o benefício cairá de 60% para 50% do valor base.

Sacrifício "Fizemos a única coisa que podíamos: aplicamos medidas excepcionais para um momento excepcional", afirmou Rajoy, em uma sessão extraordinária do parlamento. "Sei que os passos que estamos dando doem em cada pessoa, mas depois do sacrifício virá a recompensa", completou.

Em troca do aperto nos cintos, os ministros de Finanças da Zona do Euro concederam à Espanha mais prazo para alcançar as metas de redução do deficit fiscal. O rombo, que totalizou 8,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011, deverá ficar em 6,3% neste ano, um ponto acima do previsto anteriormente, e cair para 4,5% em 2013 e para 2,8% em 2014.

Nas ruas de Madri, os choques entre manifestantes e policiais explodiram em frente ao Ministério da Indústria quando um grupo começou a jogar pedras e garrafas contra os agentes. Em greve desde maio, mineiros começaram à chegar à capital na terça-feira, vindos do norte do país, depois de uma marcha de 400 quilômetros em 20 dias. Os sindicatos esperavam reunir 25 mil pessoas para protestar contra a decisão do governo de cortar em 63% a ajuda pública ao setor, que emprega 8 mil trabalhadores. "É a morte da mineração, das bacias e de todos os povos que vivem nas proximidades", afirmou Rafael Blanco, um dos líderes do movimento.

» Greve em Portugal

Centenas de médicos com jalecos brancos protestaram ontem em Lisboa, no primeiro dia de uma greve nacional contra os cortes orçamentários feitos pelo governo em troca da ajuda financeira internacional obtida no ano passado. "Não ao fechamento dos serviços de qualidade", "Acesso para todos e não só para os que podem pagar", indicavam os cartazes dos manifestantes, que se concentraram diante do Ministério da Saúde, no centro da capital portuguesa. Apoiados pela Ordem dos Médicos, os sindicatos, que convocaram dois dias consecutivos de greve, informaram que houve adesão de mais de 90% dos profissionais no primeiro dia do movimento. Nos hospitais, pacientes se queixavam do atraso no atendimento. Segundo o Ministério, caso receba forte adesão, a greve pode provocar o adiamento de cerca de 40.000 consultas e de cerca de 4.500 cirurgias.