O Estado de São Paulo, n. 45719, 20/12/2018. Política, p. A12
Ex-assessor de Flávio Bolsonaro adia depoimento
Constança Rezende
20/12/2018
Advogado de Fabrício Queiroz alega problema de saúde e pouco tempo para analisar autos; Coaf apontou movimento atípico em conta
Ex-assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), Fabrício José Carlos de Queiroz faltou ontem ao depoimento que prestaria ao Ministério Público Estadual do Rio. O MP informou, por nota, que o advogado do ex-funcionário da Assembleia Legislativa fluminense alegou problemas de saúde do cliente e pouco tempo para analisar os autos da investigação.
A audiência para esclarecer movimentações atípicas na conta do ex-servidor do Legislativo, apontadas em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) revelado pelo Estado, foi remarcada para amanhã. Segundo o MP-RJ, os advogados de Queiroz informaram os problemas no início da tarde de ontem. O ex-assessor estaria “em atendimento para a realização de exames médicos de urgência, acompanhado de sua família”.
A investigação corre sob sigilo. É conduzida pelo Grupo de Atribuição Originária em Matéria Criminal do MP-RJ. A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Queiroz ontem.
Nesta semana, o MP-RJ informou que abriu 22 procedimentos de investigação criminal com base no relatório do Coaf. O documento apontou movimentações atípicas em contas de ao menos 75 assessores de deputados estaduais. Entre os investigados está Queiroz, que também é policial militar.
O Coaf identificou movimentação atípica de mais de R$ 1,2 milhão em uma conta de Queiroz entre 1.º de janeiro de 2016 e 31 de janeiro de 2017. Para o órgão federal, que produziu o documento na Operação Furna da Onça, que investiga corrupção no Legislativo fluminense, a renda do ex-assessor é incompatível com esse montante.
Da conta de Queiroz, identificou o Coaf, saíram R$ 24 mil depositados em nome da futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O presidente eleito, Jair Bolsonaro, disse que se tratava do pagamento de uma dívida de R$ 40 mil do policial militar com ele. Bolsonaro não apresentou documentos comprovando suas afirmações e evita falar no assunto.
O Coaf também detectou que a conta de Queiroz recebeu repasses regulares de outros funcionários do gabinete de Flávio. O Estado mostrou que mais da metade desses depósitos ocorreu no dia do pagamento de salários na Alerj ou até três dias úteis depois.
Uma das funcionárias que fizeram repasses a Queiroz foi sua filha Nathalia. Ela foi assessora de Flávio e, depois, de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. No período, tinha outra atividade profissional no Rio, como personal trainer. O Estado mostrou que a servidora repassou ao pai o equivalente à maior parte do que ganhou.
Desde a divulgação dos dados, Queiroz não se justificou em público e está desaparecido. Para a reportagem, o ex-assessor disse que não sabia nada sobre o assunto. O nome de Queiroz consta na folha de pagamento da Alerj de setembro com salário de R$ 8.517. Ele era lotado com cargo em comissão de Assessor Parlamentar III, símbolo CCDAL- 3, no gabinete de Flávio. Conforme o relatório do Coaf, ele acumulava rendimentos mensais de R$ 12,6 mil da Polícia Militar. Queiroz foi exonerado em 15 de outubro.
Anteontem, Flávio Bolsonaro afirmou “não ter a menor dúvida” de que as denúncias que envolvem seu ex-assessor tinham ele e o presidente eleito como alvo. O parlamentar disse considerar mal explicado o fato de apenas questões envolvendo seus assessores terem se tornado públicas, quando haveria “um monte de gente lá nessa situação também”.
‘Erro’. No dia 12, em transmissão ao vivo no Facebook, o presidente eleito disse que nem ele nem Flávio são investigados no caso. “Se algo estiver errado, que seja comigo, com meu filho, com o Queiroz, que paguemos a conta desse erro, que nós não podemos comungar com o erro de ninguém”, declarou.
Em andamento
22 procedimentos de investigação criminal foram abertos nesta semana, com base no relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O documento apontou movimentações atípicas em contas de ao menos 75 assessores de deputados estaduais.
PONTOS-CHAVE
Movimentação de R$ 1,2 milhão sob apuração
Relatório
O ‘Estado’ revela que relatório do Coaf aponta movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em conta no nome de ex-motorista do deputado estadual Flávio Bolsonaro.
Operação
O documento foi anexado pelo MPF à investigação que deu origem à Operação Furna da Onça e que levou à prisão dez deputados estaduais da Alerj.
Depósitos
O ‘Estado’ identificou que 15 depósitos em espécie na conta de Fabrício Queiroz ocorreram nos mesmos dias de pagamento dos servidores da Alerj em 2016.
Alegações
Os advogados do ex-motorista alegaram questões de saúde e pouco tempo para analisar os autos para Queiroz faltar ao depoimento previsto para ontem.