O Estado de São Paulo, n. 45719, 20/12/2018. Política, p. A13
PGR afirma que Kassab recebeu R$ 50 mi da J&F
Fabio Serapião
2012/2018
Ministro e futuro secretário de Doria é alvo de operação da Polícia Federal, que apreende R$ 300 mil em espécie em seu apartamento
Suspeito de receber R$ 58 milhões do Grupo J&F, dono da JBS, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab (PSD), foi alvo ontem de busca e apreensão da Polícia Federal. A ação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que chegou a ser secretário de Kassab durante sua gestão como prefeito de São Paulo, entre 2008 e 2012.
A partir de janeiro, Kassab será o secretário da Casa Civil do governo João Doria (PSDB), em São Paulo. Durante o cumprimento da busca, os policiais federais encontraram cerca de R$ 300 mil no apartamento do ministro em São Paulo (SP).
Ao Estado, o ministro afirmou que está “tranquilo” e que a Procuradoria-Geral do República ainda não concluiu a investigação. “Esta ainda é uma fase de apuração e eu me coloquei à disposição para colaborar como puder. Todos os documentos relacionados a esse assunto já foram devidamente encaminhados”, afirmou Kassab (mais informações nesta página).
Além de Kassab, foram cumpridos mandados de busca em locais relacionados ao governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), e ao irmão do ministro, Renato Kassab. Ao todo, a PF cumpriu oito mandados de busca e apreensão – aproximadamente 40 policiais federais cumpriram aos mandados de busca e apreensão, sendo seis mandados no Estado de São Paulo e dois no Rio Grande do Norte.
De acordo com a PF, a ação teve como objetivo “investigar o recebimento de vantagens indevidas”, entre os anos de 2010 a 2016, por parte de Kassab. O ex-prefeito de São Paulo (20062012) comandou primeiro o Ministério das Cidades do governo Dilma entre 2015 e 2016. Em 2016, com o impeachment da petista, Kassab assumiu no governo Michel Temer o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
Segundo a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, os repasses foram feitos em duas situações distintas. Uma delas, entre 2010 e 2016, período em que Kassab teria recebido R$ 350 mil mensais, alcançando, ao todo R$ 30 milhões.
“O objetivo dos pagamentos era contar com poder de influência do ministro em eventual demanda futura de interesse do referido grupo”, diz a PGR. Os repasses teriam sido feitos por meio de contratos falsos entre a J&F e uma empresa de prestação de serviços com uma empresa do ramo de transportes.
Na segunda ocasião, em 2014, cita a PGR, foram pagos R$ 28 milhões ao diretório nacional do PSD, na época, presidido por Kassab. O objetivo dos pagamentos era garantir o apoio do PSD ao PT na disputa presidencial de 2014. “Neste caso, o repasse foi operacionalizado por meio de doações oficiais de campanha e outros artifícios como a quitação de notas fiscais falsas. Também há registro da entrega de dinheiro em espécie”, diz a Procuradoria.
Tanto Kassab como Faria são investigados por corrupção passiva e falsidade ideológica eleitoral. Ao longo da investigação, diz a PF, descobriu-se que os repasses para Kassab e Faria teriam sido efetuados por meio da assinatura de contratos falsos com simulação de serviços entre as empresas do Grupo J&F e firmas indicadas pelos políticos.
Uma das empresas que teriam emitido essas notas é a Yape Consultoria, ligada à família de Kassab.
Mandatos
40 policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão, sendo seis deles no Estado de São Paulo e dois no Rio Grande do Norte
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‘Estou muito tranquilo quanto à legalidade dos serviços’
20/12/2018
Ministro diz ao ‘Estado’ que enviou documentação sobre negócio com grupo empresarial envolvendo locação de caminhões
O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, disse estar “muito tranquilo” quanto à legalidade dos serviços prestados por sua empresa à JBS e pelas doações feitas pela companhia ao PSD, que levaram a Polícia Federal a executar ontem mandados de busca e apreensão em seus endereços.
Em conversa por telefone, Kassab disse ao Estadão/Broadcast que espera que o andamento das investigações demonstre que todas as movimentações citadas ocorreram dentro da legalidade. “A PGR ainda não concluiu seu trabalho – isso está evidente – e certamente esclarecerá todos esses pontos. Esta ainda é uma fase de apuração e eu me coloquei à disposição para colaborar como puder. Todos os documentos relacionados a esse assunto já foram devidamente encaminhados”, afirmou Kassab.
Ao falar especificamente sobre o contrato de sua empresa com a JBS, Kassab disse que a operação ocorreu dentro da legalidade e se refere a serviços de locação de caminhões. “Eu estou muito tranquilo quanto à legalidade de todos os serviços prestados pela minha empresa”, afirmou. O ministro insistiu no fato de o contrato ter sido firmado antes de a contratante ser adquirida pela JBS. A empresa em questão era o frigorífico Bertin, que foi alvo de denúncias durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, adquirida em 2009 pela JBS.
“Todos os serviços contratados foram prestados. Foram serviços de natureza diversas”, disse Kassab. “Esta minha empresa atuava no transporte de cargas. E eu tive diversos outros clientes. Toda a documentação vai atestar isso”, continuou.
Kassab comentou ainda o fato de a Polícia Federal ter encontrado R$ 301 mil em dinheiro vivo em seu apartamento localizado no bairro dos Jardins, em São Paulo. “Esta é uma consequência do bloqueio de bens com o qual estou convivendo”, afirmou o ministro.
Em setembro deste ano, o juiz José Gomes Jardim Neto, da 9.ª Vara da Fazenda Pública da capital, abriu ação de improbidade contra Kassab e determinou o bloqueio de R$ 21 milhões. Ele é investigado por suposto recebimento de valores por meio de caixa 2 entre 2008 e 2014.
Doria. O governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), disse confiar na Justiça e no “amplo direito de defesa” de Kassab, escolhido para chefiar a Casa Civil do futuro governo paulista e alvo de busca e apreensão da Polícia Federal (PF).
“A propósito das medidas tomadas em relação ao ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações Gilberto Kassab, o governo João Doria confia na conduta da Justiça e no amplo direito de defesa do ministro para os esclarecimentos necessários”, diz a nota encaminhada pela assessoria do futuro governador.
Embora admitam em caráter reservado que o caso causa constrangimentos a Doria às vésperas da posse, os aliados do tucano minimizaram o caso. “Não há comprovação de nada. Confiamos na investigação da justiça na defesa dele. Não há constrangimento”, disse o deputado Marco Vinholi, líder do PSDB na Assembleia Legislativa.
A defesa do governador do Rio Grande do Norte, Robison Faria (PSD), não retornou aos contatos da reportagem.
Defesa
“Todos os serviços contratados foram prestados. (...) Tive diversos clientes. A documentação vai atestar isso”
Gilberto Kassab​, MINISTRO DA CIÊNCIA