Título: A economia pesa
Autor: de Luna, Thais
Fonte: Correio Braziliense, 12/07/2012, Mundo, p. 18

Dominada pelos aspectos políticos e jurídicos do processo, a discussão sobre o ingresso da Venezuela no Mercosul tem uma importante agenda econômica, que pouco foi abordada ontem no Senado — tampouco na extensa cobertura de imprensa sobre a crise paraguaia e a cúpula do bloco em Mendoza, há duas semanas. A partir do dia 31, em reunião de cúpula extraordinária marcada para o Rio de Janeiro, o mercado comum — ainda imperfeito — estabelecido há duas décadas entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai ganha um novo sócio, que agrega um peso considerável, mas igualmente uma bagagem cheia de problemas.

O PIB da Venezuela, calculado em US$ 373 bilhões para 2011, corresponde a pouco mais de metade do argentino e é três vezes superior à soma dos PIBs do Paraguai e do Uruguai. Como grande produtor e exportador de petróleo e gás, o país de Hugo Chávez aporta uma notável contribuição ao Mercosul no terreno energético. Especificamente para o Brasil, o mercado venezuelano tem sido um destino importante, tanto para produtos agropecuários — especialmente carne — quanto para alguns manufaturados.

O grande obstáculo para que o potencial de integração se transforme em saldo comercial é que, após seis anos de tramitação do pedido de adesão ao bloco, o governo venezuelano ainda não apresentou um cronograma concreto para a adoção interna das normas comerciais do Mercosul. Caracas já adiantou que, nos primeiros três anos como membro pleno, incluirá apenas 26% das mercadorias que importa à Tarifa Externa Comum (TEC). Mas não apresentou a lista dos produtos nem definiu prazos para adequar-se plenamente ao bloco.

É nesse terreno que se concentram os interesses imediatos do Brasil, que disputa o mercado venezuelano com manufaturados chineses, inclusive veículos montados no país vizinho com peças importadas da China. Nos últimos anos, os produtos brasileiros têm perdido terreno também para os americanos, a despeito das relações tensas entre Chávez e a Casa Branca.