Correio braziliense, n. 20235, 15/10/2018. Diversão & Arte, p. 1

 

Só falta sair do papel

Adriana Izel e Nahima Maciel

15/10/2018

 

 

Fechado desde 2014 após o Corpo de Bombeiros apontar 112 problemas que precisavam ser resolvidos para que o espaço não fosse uma ameaça aos frequentadores, o Teatro Nacional pode, finalmente, vislumbrar uma solução. Depois de um processo de estudo junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e à Central de Aprovação de Projetos (CAP) do Governo do Distrito Federal, foi concluído o projeto de fracionamento da obra em cinco etapas, o que permitirá entregar os espaços do teatro aos poucos. A primeira etapa consiste na reforma da sala Martins Pena, para a qual estão previstos ajustes estruturais, como novas saídas de emergência e reformulação dos espaços entre as cadeiras.

Depois de um chamamento público realizado em 2017, o Instituto Pedra foi escolhido para realizar a captação, que pode ser feita via Lei Rouanet, do valor necessário para a obra, estimada em R$ 43.891.107,46 para a primeira de cinco etapas. A instituição precisa captar 10% desse valor para poder dar início à obra, cuja previsão é de conclusão em 18 meses. No entanto, segundo o secretário de Cultura, Guilherme Reis, há previsão do valor integral da reforma no orçamento de 2019. Dos R$ 42 bilhões do Projeto da Lei de Orçamento Anual (PLOA) para o próximo ano, R$ 1,6 bilhão será destinado a investimentos e parte desse dinheiro está reservado para o Teatro Nacional.

As obras da maior casa de espetáculos da cidade não devem, portanto, ter início ainda este ano, mas está tudo pronto para que possam começar em 2019. “Está sendo finalizada a revisão integral do projeto, visando adequar o projeto a esse fracionamento por etapas, buscando entender onde se pode baratear custo sem perder a qualidade jamais”, explica Guilherme Reis. “Nós vamos deixar essa gestão com todas as etapas entregues e quem for cuidar desse teatro vai receber o ‘kit teatro’, com aprovação e o que tinha de ser adequado em termo de fracionamento da obra, de atendimento do Corpo de Bombeiros, de atendimento do Iphan. Está prontinho.”

No total, serão cinco etapas que consistem nas salas Martins Pena, na Villa-Lobos, no anexo, no elevador do palco e no foyer da Villa-Lobos. Com 437 lugares, a Martins Pena será a primeira a ser entregue. Segundo o subsecretário de patrimônio cultural, Gustavo Pacheco, só foi possível fracionar a obra, porque a estrutura do teatro permite que os espaços sejam reformados em partes. “Estruturalmente, é como se fossem dois teatros juntos. Essa junta de dilatação favorece muito a possibilidade de trabalhar de forma independente. Se não tivesse essa característica estrutural, talvez não fosse possível fazer esse projeto. Mas, até ter certeza, foram meses”, explica Pacheco.

 

Mais barato

Fracionar é também uma maneira de desonerar os custos, mas realizar esse trabalho acabou por atrasar o cronograma de início das obras. Foi necessário revisar todas as partes do projeto licitado em 2013 e dividi-lo em cinco etapas. “Parcelar a obra significa reaprovação da obra. Significa, na prática, fazer um novo projeto de aprovação no Iphan. E mudou a superintendência do Iphan. Não é um processo formal”, explica Pacheco, ao lembrar que foi feita uma adequação do projeto existente. “O que significa não mexer em projeto. Se mexe em projeto, tem de passar por uma nova aprovação completa, inclusive, passar por Bombeiros.”

Em licitação realizada em 2016 para o projeto executivo da reforma, o valor total da obra ficaria em R$ 260 milhões. “Agora, pelo menos, você tem a possibilidade de, em um ano e meio, entregar a primeira sala, enquanto continua a obra. A segunda etapa ataca o foyer da Villa-Lobos e todo o acesso e a possibilidade de abrir lá em cima finalmente”, diz Reis.

Desde o fechamento, em 2014, o destino do maior teatro de Brasília passou por vários obstáculos. O primeiro deles foi em 2013, com uma proposta que, aprovada em licitação, estimava os custos de reforma em R$ 180 milhões. Realizado pelo escritório de arquitetura e engenharia Acunha Solé Associados, do Rio Grande do Sul, a projeto apresentava um valor muito alto. No entanto, no ano seguinte, o secretário de Cultura explicou que o valor ainda era baixo para atender a todas as necessidades do prédio e o custo passou para R$ 260 milhões após um processo de revisão.

 

Impasse

Em 2016, em entrevista ao Correio, Antonela Solé, diretora executiva da Solé Associados, disse que a o orçamento realizado pela empresa poderia ser desmembrado para que o restauro pudesse ser feito por partes. Mas o ministério da Cultura (MinC) recusou o projeto por achá-lo excessivamente caro. Partiu-se, então, para uma proposta menos onerosa.

Em outubro de 2017, o Governo do Distrito Federal lançou um edital de chamamento para a reforma da casa com um orçamento de R$ 35 milhões, que seria destinado a uma parte da obra. A iniciativa foi uma parceria com o ministério da Cultura (MinC). A ideia era de que o projeto fosse realizado por meio de uma parceria entre a sociedade civil e a iniciativa privada e que contasse com captações por meio da Lei Rouanet. Seria uma maneira de não onerar a população. O valor foi reajustado para R$ 43.891.107,46 após o Instituto Pedra assumir o projeto.

A expectativa da secretaria de Cultura era de que as obras começassem em março do ano passado e que as áreas do Teatro Nacional fossem entregues à medida que a reforma avançasse. Essa data foi postergada para maio de 2018.

O projeto prevê uma reforma em cinco etapas, sendo a primeira a reforma da sala Martins Pena, que seria a primeira a ser entregue. O foyer da sala Villa-Lobos, no entanto, foi reaberto em dezembro de 2017. O local tem sido usado para exposições e recepções. Na época, a secretaria ainda acreditava que seria possível abrir a sala Martins Pena até o final de 2018.

 

Espaços culturais do DF

Centro de Dança do DF

• Após cinco anos fechado, o espaço foi reaberto em 28 de fevereiro, como parte da Política de Estímulo e Valorização da Dança, lançada em agosto do ano passado. As reformas do Centro de Dança foram financiadas pela Terracap, com valor aproximado de R$ 3,2 milhões. Atualmente, o espaço funciona com atividades formativas e eventos.

 

Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul

• Interditado desde 2013, foi reaberto neste ano. As obras de revitalização custaram

R$ 6,2 milhões e tiveram início em novembro de 2016. O Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul foi entregue em 30 de junho. Desde então, recebeu exibições de filmes, exposições, além de parte da programação do 51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

 

Complexos Culturais de Planaltina e Samambaia

• No último dia 4, foi inaugurado o Complexo Cultural de Planaltina, um espaço multifuncional para manifestações culturais. A estrutura contempla teatro coberto (345 lugares), teatro de arena, sala multiuso, foyer e galeria de arte. Está previsto para o dia 20 o lançamento do Complexo Cultural de Samambaia.

 

Polo de cinema e vídeo Grande Otelo

• Em agosto de 2017, a Secretaria de Cultura anunciou a desativação do centro de produções do audiovisual em Sobradinho, com substituição pelo Parque Audiovisual de Brasília, a ser construído no Setor de Clubes Sul. A mudança está prevista em decreto assinado pelo governador Rodrigo Rollemberg, além de um termo de cessão de uso do terreno pertencente à Terracap.

 

MAB

• As obras de recuperação do Museu de Arte de Brasília, fechado desde 2007, recomeçaram no ano passado após nova licitação no valor de R$ 7.698.574,15, com investimentos da Terracap e do Banco do Brasil. Por conta de problemas no projeto, as obras tiveram de ser paradas. A previsão é de que sejam retomadas ainda neste mês.