Título: Demóstenes reassume cargo de procurador
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 13/07/2012, Política, p. 4

O ex-senador Demóstenes Torres (GO), cassado na quarta-feira por quebra de decoro parlamentar após denúncias de que seria o braço político do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, assumiu, na tarde de ontem, as funções de procurador de Justiça na 27ª Procuradoria do Ministério Público de Goiás (MPGO). Novo trabalho: denunciar organizações criminosas. A assessoria de imprensa da instituição comunicou que ele esteve no prédio do MPGO, mas teria passado pouco tempo. O ex-parlamentar vai receber salário de R$ 24 mil, além dos benefícios inerentes ao cargo. Hoje pela manhã, a Corregedoria do MPGO divulgará nota detalhando todos os procedimentos investigativos disciplinares que serão tomados.

O processo de cassação foi publicado ontem no Diário Oficial do Senado. Demóstenes estava licenciado do cargo de procurador de Justiça havia 13 anos. No novo emprego, será chefiado pelo irmão, o procurador-geral de Justiça do MPGO, Benedito Torres. Por meio da assessoria de imprensa, o senador cassado informou, ontem à tarde, que não iria falar sobre o assunto.

O ex-senador afirmou, no Twitter, que vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar reaver o mandato. Por isso, trocou de advogado. O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) criticou a postura adotada pelo ex-colega. "É uma decisão em vão. Não creio que o Supremo promova uma invasão de competência. O julgamento que ocorreu foi político. É diferente do julgamento que ocorre no Poder Judiciário. Não cabe ao STF interferir no processo feito aqui, que respeitou todos os trâmites regimentais e constitucionais. Há absoluta transparência e legalidade no ato do Senado Federal."

Sanguessugas Demóstenes utilizou o Twitter depois de muito tempo para atacar o senador Humberto Costa (PT-PE), relator do pedido de cassação no Conselho de Ética. "Onde estão as provas dessas relações promíscuas? São as mesmas que o senhor sofreu no escândalo dos sanguessugas?", questionou. Pouco antes, ele havia postado que estava de volta ao Twitter para conversar com os seguidores. "Vamos voltar a conversar aqui. Falar de música, literatura, política. A esquerda me tirou o mandato, mas não a coragem." Na manhã de ontem, funcionários começaram a esvaziar o gabinete do ex-senador goiano. A faxina durou o dia inteiro.

O ex-parlamentar foi cassado por 56 votos a 19. Houve ainda cinco abstenções. Dos 81 senadores, apenas Clovis Fecury (DEM-MA) faltou a sessão. Ele informou que resolvia problemas particulares no Maranhão. Para ser cassado, eram necessários 41 votos. Demóstenes é o segundo senador da história a perder o mandato em plenário — o primeiro foi Luiz Estevão, em 2000. Com a cassação, o ex-senador goiano teve os direitos políticos suspensos por oito anos, a contar do fim do mandato parlamentar, que se encerraria em 2019. Portanto, ele fica inelegível até 2027.

"Não cabe ao STF interferir no processo feito aqui, que respeitou todos os trâmites regimentais e constitucionais" Alvaro Dias, líder do PSDB no Senado