Título: Economia encolhe e assusta governo
Autor: Martins, Victor; Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 13/07/2012, Economia, p. 10
Nada foi capaz de impulsionar o Brasil no primeiro semestre do ano. Mesmo depois de R$ 102 bilhões injetados na economia pelo governo por meio de oito pacotes de estímulos, o país esbarrou no elevado endividamento das famílias e no baixo ritmo de investimentos dos setores público e privado. Pelos dados do Banco Central, o Produto Interno Bruto (PIB) amargou, em maio, retração de 0,02%, desempenho que pode comprometer o resultado do segundo trimestre e impedir que 2012 registre taxa de expansão acima de 2%. As atenções do governo, agora, se voltam para os dados do mês passado, que carregam a expectativa de ser o início da retomada. Se a atividade apresentar um bom resultado, pode garantir avanço de até 0,5% entre abril e junho.
Conforme os dados são divulgados, os especialistas alertam que fica mais evidente a fragilidade do país comparado a outras economias que, mesmo em crise, devem crescer mais que o Brasil. Enquanto aqui o teto das projeções está em 2% para 2012, nos Estados Unidos, que enfrentam desemprego e sérios problemas de consumo, a expectativa é de expansão entre 2,2% e 2,7%. "Isso, com uma inflação de 2% ao ano por lá", observou Flávio Serrano, economista do Espírito Santo Investment Bank. "Como um país que não cresce, como o Brasil, tem uma inflação acima de 4,5%?", questionou. Eduardo Velho, economista-chefe da Corretora PlannerProsper, calcula que, se o país avançar 1% em junho e crescer a uma taxa média de 0,5% nos meses seguintes, ainda assim o PIB do ano chegaria apenas a 2%. "Um cenário, na nossa avaliação, que tem baixa possibilidade de ocorrer", disse.
Diante da reação negativa dos analistas e dos empresários, que relutam em tirar das prateleiras projetos de investimentos, a presidente Dilma Rousseff aproveitou seu discurso na IX conferência dos Direitos da Criança e do Adolescente para afirmar que um país não deve ser medido pelo seu PIB. "Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz pelas suas crianças e pelos seus adolescentes. Não é o Produto Interno Bruto, é a capacidade do país, do governo e da sociedade de proteger o que é o seu presente e o seu futuro, que são suas crianças e seus adolescentes", defendeu. Pelas contas do BC, de janeiro a maio, a economia cresceu apenas 0,4% e, em 12 meses, 1,27%.
Discurso à parte, a presidente Dilma não pensa em outra coisa que não seja a economia. Tanto que, no último mês, conversou diariamente com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ela tem cobrado o porquê de o país não estar reagindo a todos os estímulos dados ao consumo desde 2010. Seu auxiliar garante que, já no fim do ano, o PIB estará crescendo a um ritmo anualizado de 4%. Mas os economistas privados duvidam. Alegam que esse modelo se esgotou, devido ao elevado endividamento das famílias. Dados do BC mostram que o comprometimento dos lares com dívidas atingiu o recorde de 43,3% (veja dados no quadro).
Contas não honradas Com uma fatura tão grande a ser paga, os consumidores tiveram dificuldades para honrar as contas e o calote explodiu: a taxa de inadimplência para as famílias ficou em 8% e o índice geral de todo o sistema, em 6% — o maior desde dezembro de 2009, quando o país e o mundo ainda saíam da crise desencadeada pela quebra do Banco Lehman Brothers. Em números absolutos, os brasileiros devem R$ 81,7 bilhões, a maior cifra já registrada pelo BC, uma conta que tem impedido as famílias e as empresas de aproveitar as reduções dos juros e os benefícios tributários para a aquisição de veículos e outros bens — em maio, as vendas do comércio encolheram 0,8%, o pior desempenho em 42 meses.
Na avaliação de economistas, as medidas de estímulo pelo menos conseguiram zerar os elevados estoques da indústria, setor que, desde o fim do ano passado, segue em marcha lenta. "Os indicadores de junho sugerem melhora, o que pode significar um PIB de 0,5% no segundo trimestre", ponderou Fernanda Consorte, economista do Banco Santander. Essa expectativa, entretanto, não impediu a indústria de cortar empregos. Em maio houve uma redução de 0,3% nos postos de trabalho, a terceira queda mensal consecutiva.
Com todos esses números frustrantes da atividade, que levaram o Banco Central a derrubar a taxa básica de juros (Selic) para 8% ao ano anteontem, o mercado começa a rever as suas apostas e já prevê pelo menos mais dois cortes no indicador, para 7%. Os cálculos se baseiam na preocupação do governo em não entregar mais um pibinho em 2013, quando começará a corrida para o Palácio do Planalto. Dilma acredita que, com uma economia frágil, sua reeleição pode ficar comprometida. "O Copom tem a urgência e a responsabilidade de evitar a obstrução ainda maior dos investimentos produtivos por conta de expectativas ruins", afirmou André Perfeito, economista-chefe da Corretora Gradual Investimento. No seu entender, para ser mais eficaz, o BC poderia derrubar a taxa para 6%.