O globo, n. 31142, 11/11/2018. País, p. 12

 

Kassab, um articulador quase nunca sem emprego

Silvia Amorim

11/11/2018

 

 

Ministro da Ciência e Tecnologia de Temer, ele já foi anunciado como chefe da Casa Civil do futuro governo de São Paulo

Somente uma vez em 26 anos de carreira política Gilberto Kassab, hoje ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, viu-se “desempregado”. Foi quando encerrou seu mandato como prefeito de São Paulo, em 2012, e ficou dois anos sem cargo público, só cuidando de seu partido, o PSD, até ingressar no governo Dilma Rousseff (PT).

Kassab é conhecido pela desenvoltura com que transita de cargo em cargo, não importando a coloração partidária da gestão. Na última semana, ele incluiu mais um feito ao currículo. Antes de terminar sua temporada no governo Michel Temer, já acertou a próxima ocupação: a chefia da Casa Civil do futuro governo de João Doria (PSDB), em São Paulo.

A fama de hábil articulador político venceu o receio de carregar para o governo a mancha da Lava-Jato. Kassab é réu por caixa 2 na Justiça de São Paulo e responde a um inquérito por suspeita de receber dinheiro do empresário Joesley Batista, da JBS. Um mês atrás, teve R$ 21 milhões bloqueados. Ele nega ter cometido irregularidades.

Nas eleições deste ano, Kassab apostou, no plano nacional, em Geraldo Alckmin (PSDB), que terminou a eleição em quarto lugar, com apenas 5% dos votos. No estado, quase viu sua aposta naufragar — Doria venceu a eleição por uma margem apertadíssima. Confirmada a vitória do tucano, foi preciso pouco mais de uma semana para que o cargo de Kassab na futura gestão fosse anunciado.

Aliados dizem que o maior projeto do atual ministro e futuro secretário daqui para frente é tornar o PSD o principal partido de centro do país, desbancando PSDB e MDB, seus atuais parceiros políticos.

O partido, que ele criou do zero quando prefeito, sob o lema de não ser nem de direita, nem de esquerda, nem de centro, sobreviveu à onda conservadora desta eleição e será a terceira maior força na Câmara e no Senado a partir de 2019. Kassab tem planos de tornar a sigla a segunda bancada no Senado e vai tentar atrair para o PSD senadores de partidos que não atingiram a cláusula de barreira.

— O Kassab avalia que o PSDB vai deixar de ser uma força política de centro, se posicionando mais à direita. Isso abriria espaço para o PSD no centro — afirmou um parlamentar do partido.

Gestão rejeitada

Kassab iniciou a militância política no grupo de jovens da Associação Comercial de São Paulo. A primeira eleição foi para vereador em 1992, depois elegeu-se deputado estadual e federal e foi vice-prefeito de José Serra (PSDB). Como prefeito, terminou o mandato com um dos piores índices de aprovação. Aliados dizem que o talento de Kassab está na articulação política e não na linha de frente do jogo eleitoral.

— Em público, ele é tímido e travado. No reservado, é brincalhão, passa trote nos amigos, distensiona qualquer situação. É bom papo, daí a facilidade para a negociação política — contou um ex-assessor.

Kassab só não permite conversas políticas aos domingos à tarde, quando almoça com os irmãos na capital paulista. Fã de macarrão e pizza, tem uma queda incontrolável por doces. Uma das últimas aquisições para seu apartamento em São Paulo foi uma fritadeira elétrica que funciona sem óleo. A um amigo contou a novidade ressaltando que poderia comer sem culpa mandioca frita.

— Apesar do peso, ele é uma pessoa leve — brincou o amigo.

Kassab conseguiu a proeza de sair do ministério de Dilma e, um mês depois, entrar no governo Temer, a quem a petista acusa de ter dado um “golpe” contra ela. De algoz de Alckmin desde 2008, ele se tornou nesta eleição o maior fiador do tucano ao articular a aliança com o centrão e ter sido um aliado de primeira hora em uma eleição difícil para o PSDB.

Outro antigo desafeto era o vice de Doria, Rodrigo Garcia (DEM), de quem Kassab já foi amigo, ficou rompido por anos e agora será parceiro de governo: — O Kassab é pragmático. Não faz política com o estômago, mas com cálculo de engenheiro —disse um tucano.

Além da formação em Engenharia Civil, Kassab é economista e já atuou como corretor de imóveis.