Título: O Brasil é o país do presente
Autor: de Moraes, Marcílio
Fonte: Correio Braziliense, 13/07/2012, Economia, p. 12

Presidente do Santander Brasil diz que o governo tem munição para defender a economia e afirma que o banco vai ampliar as operações

Marcílio de Moraes

A crise financeira na Europa e os indicadores negativos da economia brasileira no primeiro semestre não reduziram o otimismo do presidente do Banco Santander Brasil, Marcial Portela Alvarez. Para ele, os próximos meses serão melhores e o país deve chegar ao fim do ano com ritmo de crescimento entre 3% e 4% e registrar expansão nos próximos três anos. Marcial avalia que a alta da inadimplência da famílias é um problema conjuntural provocado, em parte, pelas medidas restritivas adotadas pelo governo no início de 2011. "Elas foram um pouco mais forte do que precisava. Mas, depois, as autoridades fizeram uma correção importante, que foi a queda da taxa de juros", afirmou o executivo ao Correio. O Santander, por sinal, está apostando no aumento do crédito e, ontem, cortou os juros das principais linhas de crédito ao consumidor.Marcial descartou a venda de ativos no país ao afirmar que o banco busca oportunidades de compra no Brasil.

Como o senhor está avaliando a situação hoje no Brasil?. Fechamos um semestre no qual a procura por crédito caiu e a inadimplência aumentou muito. Ou seja, mexeu diretamente com os bancos. O senhor imagina que isso mude a partir das medidas do governo? Sim. Nos últimos trimestres o PIB ficou bem abaixo do esperado pelos agentes e pelos operadores, não só pelo governo. Teve um PIB muito baixo no primeiro semestre e, logicamente, a expectativa do ano vai ser bem abaixo do que era contemplado há seis meses ou um ano atrás.

E qual era a previsão do Santander para o PIB no início do ano e agora? Estávamos trabalhando com um incremento do PIB de 3% ou 3,5% neste ano. Hoje, prevemos 2%, aproximadamente. A inadimplência, para nós, é um problema mais conjuntural do que estrutural, porque estamos vendo uma fortaleza grande no nível de emprego. A inadimplência responde a múltiplos fatores. De um lado, a ascensão de grupos sociais que antes não tinham crédito e agora podem tomar empréstimos, mas nem sempre têm formação financeira suficiente para graduar bem o nível de endividamento. Os bancos também não avaliaram bem a capacidade de endividamento desse grupo de famílias. De outro lado, há alguns fatores como os spreads elevados dos bancos, em resposta a algumas medidas econômicas que foram tomadas no início de 2011.

Essas medidas restritivas foram mais fortes do que o país precisava? Um pouco mais fortes. Depois, as autoridades econômicas fizeram uma correção importante, que foi a queda da taxa de juros, e adotaram medidas como a desoneração da folha de pagamento em alguns setores da indústria. Essas medidas vão nos ajudar a ter um segundo semestre bem melhor do que o primeiro. Acreditamos que a economia, no quarto trimestre, poderá ter uma velocidade de crescimento bem maior, entre 3% e 4%.

O senhor acha que, nesse cenário, o Brasil hoje seria, em relação a todos esses aspectos positivos que o Santander enxerga, perene? Eu acho que o Brasil hoje já não é o país do futuro, é um país do presente. Isso não quer dizer que não tenha problemas, todos os países do mundo têm. Aqui há problemas de infraestrutura e de educação, entre outros. Se essa situação de um futuro que já é presente veio para ficar, ou vai ser se volatilizar, como em outras épocas... eu acho que veio para ficar, porque há uma solidez muito forte das grandes instituições do Estado. Os fundamentos econômicos do país, se você tomar a agricultura, tomar a mineração, tomar as empresas em termos tecnológicos, na medicina, na aviação, o país tem uma solidez muito grande. O Santander está convencido de que o Brasil, que é hoje a 6ª potência mundial, vai chegar a 5ª potência nos próximos cinco ou sete anos. O governo tem muita munição para defender-se da crise e está se utilizando dessa munição. A mais importante, uma das mais importantes, é a queda da taxa de juros, se essa taxa de juros ficar estável em um dígito.

No primeiro trimestre, o Santander Brasil teve lucro de R$ 1,7 bilhão e isso ajudou muito a matriz na Espanha, contribuindo com 28% das receitas. No segundo trimestre, a situação se manteve? Estamos num período no qual não podemos dar informações privadas, teriam que ser para todo o mercado. Mas o razoável é pensar que o peso do Brasil — eu não falo de um trimestre, mas períodos mais longos, nos próximos dois ou três anos — sobre o total do grupo Santander deve ser crescente, e basicamente porque tem um posicionamento bem privilegiado. O país está crescendo. Quando você vê a tendência dos últimos anos e olha para a frente, para os próximos dois ou três, o Brasil é um dos países que está melhor posicionado diante da crise internacional. Nossa visão é que o Brasil vai ter um bom crescimento em 2013, 2014 e 2015. Nesse contexto, normalmente o peso do nosso resultado no grupo tende a crescer para um terço, que seria um patamar razoável.

O Santander vai reforçar as operações no Brasil? Exato. Se nós tivermos oportunidade, vamos comprar ativos aqui no Brasil. Temos uma situação de capital muito boa, privilegiada dentro do sistema. Então, nós compraríamos ativos aqui, mas não achamos. Nosso objetivo é abrir a cada ano de 100 a 120 agências — uma a cada três dias. Estamos investindo cerca de R$ 3 bilhões por ano em captação de clientes, infraestrutura, agências, tecnologia.

O Brasil pode ir bem, mesmo com a Europa em crise e a China crescendo menos? Sim. Primeiro, achamos que a crise internacional ainda vai nos acompanhar durante um tempo longo, mas tende a melhorar. Não temos uma visão negativa de que o mundo vai ser dissolvido. Existe crise, sim, há dificuldades em diferentes poloss do mundo, mas essas dificuldades vão ser superadas, e então teremos um cenário em que parte dos países pode ficar em crise durante um tempo, mas o mundo todo tenderá a melhorar.

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