Título: Articulação desafinada
Autor: Mascarenhas, Gabriel; Caitano, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 17/07/2012, Política, p. 2

A demora para a aprovação de duas medidas provisórias essenciais para as ações econômicas do governo acirrou as desavenças entre a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Como o risco de as MPs caducarem surgiu por problemas de articulação política na Casa, a presidente Dilma Rousseff busca o responsável pelo desastre, colocando tanto o deputado como a ministra na berlinda e exibindo o problema reincidente da falta de articulação entre Planalto e Congresso.

A disputa começou na primeira semana do mês, quando Chinaglia negociou a liberação de emendas com a oposição para evitar que as votações no plenário fossem paralisadas. Para garantir o acerto, o líder colocou a ministra no viva-voz durante a reunião — irritando Ideli.

Fechado o acordo, Chinaglia acreditou que o governo o cumpriria e a votação seria feita na semana passada. O líder, no entanto, viajou para os Estados Unidos na tarde de quarta-feira. Pouco depois, a rebelião dos oposicionistas impediu a votação no plenário e Chinaglia foi apelidado de comandante Francesco Schettino — em referência ao chefe do navio Costa Concórdia, que naufragou na Itália.

Quem substituiu o líder nas negociações foi a própria Ideli, que alterou o acordo e irritou ainda mais a oposição. Para se justificar, a ministra responsabilizou a ausência de Chinaglia pelo revés.

Governistas relacionam a situação à vivida pelo ex-ocupante do cargo Cândido Vaccarezza (PT-SP). Ele perdeu o posto depois de ter as mãos atadas por Ideli nas negociações do Código Florestal. "A Ideli não tem pulso, não é bem vista pelos parlamentares, mas é próxima da Dilma e, por isso, se garante no posto", comenta um petista. (AC)