Título: Servidores fazem curso de arapongagem nos EU
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 17/07/2012, Política, p. 4

O Senado enviou três servidores aos Estados Unidos para um curso de especialização em contravigilância e operação de equipamento destinado à captação de escutas telefônicas. Apesar de ter anunciado, em novembro, que recuaria no projeto de comprar um dos dispositivos mais modernos do mercado para rastrear grampos, na sexta-feira, o diretor da Polícia Legislativa do Senado, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, o diretor do Serviço de Tecnologia e Projetos da Polícia do Senado (Septro), Jacinto Murowaniecki, e o chefe do gabinete administrativo da Polícia do Senado, Rauf de Andrade Mendonça embarcaram para a cidade de Algood, no Tennessee, para participar de um treinamento de contraespionagem que começou ontem e terminará dia 27.

"Os alunos serão introduzidos a técnicas de testes de telefone, técnicas de pesquisa de rastreamento, bem como os procedimentos de investigação. Esse curso é projetado para introduzir e familiarizar o especialista em segurança técnica com diversos produtos de contravigilância e seus procedimentos básicos de varredura", informa a ementa do curso que os policiais do Senado estão fazendo. As técnicas de investigação fornecidas por consultores da fábrica dos aparelhos Oscor nos Estados Unidos serão demonstradas por meio de dispositivos cedidos pela própria empresa, com o objetivo de impulsionar vendas para órgãos e firmas que ainda não têm o sistema de rastreamento, ou para compradores já registrados. O preço do Oscor 5000 — modelo que o Senado chegou a aprovar a compra, em resposta a parecer elaborado por Jacinto Murowaniecki — gira em torno de R$ 150 mil. Na lista dos equipamentos que a fábrica do Tennessee deixará à disposição dos alunos, está um aparelho que tem capacidade para realizar grampos com a aplicação de um software específico. O método de investigação que utiliza mapeamento de imagens térmicas também está na descrição do curso.

O treinamento de contraespionagem que os policiais legislativos fazem são ministrados por cinco especialistas, três deles ex-militares das Forças Armadas dos Estados Unidos. Um tem histórico de atuação no conflito da Macedônia e experiência de cursos de espionagem para o Exército americano. Outro trabalhou como agente especial na chefia de equipe de investigações e o terceiro, analista de informações da Marinha. Os outros dois instrutores do curso são especialistas em eletrônica e equipamento de espionagem.

Custo

A fábrica do Oscor informa que o curso é pago, mas, até o fechamento desta edição, o Senado não havia informado o valor gasto para que os três servidores pudessem fazer as aulas de especialização em equipamento de grampo e detecção de escutas nem havia comentado o episódio. A viagem do diretor da Polícia Legislativa do Senado, do diretor de tecnologia e do chefe do gabinete administrativo custarão pelo menos R$ 28 mil em diárias para os três servidores, quem tem previsão de volta para 4 de agosto, apesar de o curso terminar em 27 de julho.

O excesso de preocupação da Polícia Legislativa do Senado com a segurança da informação telefônica da Casa extrapola a incumbência do departamento, segundo parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) emitido em março deste ano. Até 2002, o que hoje é chamado de Departamento de Polícia correspondia ao setor de segurança do Senado, que tinha o objetivo de zelar pela ordem nas dependências do Congresso, abertas à visitação dos cidadãos durante dias úteis e fim de semana.

Memória

À caça de informações

Em novembro de 2011, o Correio teve acesso a documentos que revelavam a movimentação da Polícia do Senado na montagem de um gabinete de contraespionagem equipado com dispositivos que atualmente são usados apenas por equipes policiais da elite da inteligência. Projeto básico elaborado pelo Serviço de Tecnologia da Polícia Legislativa pedia a compra de quatro maletas de rastreamento de grampos telefônicos com capacidade de monitorar toda a dependência da Casa, incluindo ligações feitas por sinal de internet.

Os equipamentos substituiriam as duas maletas já existentes, consideradas obsoletas pelos agentes. Internamente, o aval da administração da Casa à ampliação dos poderes da Polícia Legislativa explicou-se pelo fato de que parlamentares reclamavam de uma guerra de informações entre aliados Além de se equipar para barrar supostas ameaças telefônicas, a Polícia Legislativa do Senado foi beneficiada por um ato da Primeira-Secretaria, que abriu brechas para que os agentes pudessem monitorar informações trocadas por usuários da rede de internet da Casa sem precisar de ordem judicial. Após a denúncia do Correio, o ato foi cancelado pela Presidência do Senado. (JJ)