O Estado de São Paulo, n. 45760, 30/01/2019. Metrópole, p. A16

 

Após 84 mortes e 5 prisões, Vale anuncia desativação de barragens

30/01/2019

 

 

Mineradora decidiu acabar com operações como as de Brumadinho e Mariana; juíza manda prender engenheiros responsáveis pela estrutura que rompeu na sexta-feira ou que atestaram sua segurança

O quinto dia após o desastre em Brumadinho, Minas Gerais, começou com a prisão de cinco engenheiros responsáveis pela segurança da barragem – três da mineradora Vale e dois da empresa alemã Tüv Süd, responsável pelo laudo que atestou a estabilidade da estrutura que ruiu. Acusados de homicídio qualificado, crime ambiental e falsidade ideológica, eles tiveram a prisão temporária decretada.

À noite, outro fato importante. O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, anunciou que a mineradora decidiu paralisar as operações e iniciar processo de descomissionamento (procedimento técnico para encerrar a estrutura) de todas as barragens construídas pelo método de alteamento à montante, usado no Fundão, em Mariana, e no Córrego do Feijão, em Brumadinho. As duas barragens se romperam em pouco mais de três anos. O desmonte custará R$ 5 bilhões e deve reduzir a produção da companhia em 10%.

Ao longo do dia, o trabalho de resgate de corpos continuou em Brumadinho. Os socorristas conseguiram chegar ao que seria o refeitório da Vale, que foi completamente destruído pela lama, e o número de mortos subiu. Balanço oficial registra 84 vítimas fatais e 276 pessoas desaparecidas oficialmente. O Estado conversou 12 pessoas que têm passado os dias à procura de qualquer notícia – de vida ou de morte – de pai, mãe, filho, marido ou mulher.

No plano oficial, o assunto mobilizou uma reunião ministerial. Ao fim, o governo federal anunciou que órgãos federais fiscalizarão mais de 3,3 mil barragens que se encontram em alto risco ou têm grande possibilidade de dano. Dessas, 205 são de resíduos de mineração e terão prioridade. Responsável por monitorar as barragens de rejeitos, a Agência Nacional de Mineração tem dificuldade em executar seu trabalho: há apenas 35 fiscais capacitados para atuar nas 790 barragens de rejeitos de minérios em todo o País.