O globo, n. 31156, 25/11/2018. Opinião, p. 2
É preciso cautela na pressão do Brasil e EUA sobre a Venezuela
25/11/2018
Uma válvula defeituosa paralisou Amuay, a maior refinaria de petróleo da Venezuela. A unidade tem uma capacidade de refino de 645 mil barris por dia, mas só conseguiu processar 70 mil diários na média dos últimos 12 meses. Interrupções na produção de óleo da Venezuela têm sido constantes por escassez de insumos, equipamentos e peças para reposição nessa indústria estatal, responsável por 90% das exportações do país. Sem receita de petróleo, com reservas cambiais esgotadas e acossada pelo bloqueio dos Estados Unidos, a cleptocracia chavista pediu socorro à China, seu maior credor.
O governo Nicolás Maduro resolveu entregar a Pequim fatia maior do controle da Sinovensa, sociedade com a venezuelana PDVSA , que explora a bacia do Rio Orinoco. O governo chinês passa dos atuais 40% para 49,9% do capital da Sinovensa, enquanto a Venezuela recua de 60% para 50,1%. Pretende-se que tal modelo seja replicado em outras áreas, como a mineração de ferro e a produção de alumínio. Com essa reafirmação de pragmatismo, Pequim avança para assegurar, no longo prazo, uma grande plataforma de investimentos (energia e infraestrutura) e de abastecimento de matérias-primas (agrícolas e industriais) na América do Sul.
É fato relevante aos planos estratégicos dos Estados Unidos e do Brasil, cujos presidentes Donald Trump e o eleito Jair Bolsonaro ensaiam uma aproximação. O desastre construído na Venezuela pela cleptocracia chavista sugere que a ditadura de Maduro não terá longa vida. A rede de corrupção erguida por Hugo Chávez está sendo desmontada em tribunais de Nova York e da Flórida. São importantes, portanto, as sanções dos EUA e o gradual isolamento do regime ditatorial, como tem sido proposto pelo Brasil. A pressão externa induz às negociações domésticas para a aposentadoria do chavismo pela via democrática das eleições.
Na próxima quinta-feira, no Rio, está previsto um encontro do assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, com o presidente eleito Jair Bolsonaro. “Trabalharemos de perto para aumentar a liberdade e a prosperidade em todo o Hemisfério Ocidental” — anunciou Bolton. Toda cooperação é essencial. Especialmente, para encerrar a ditadura chavista. É preciso, no entanto, calibrar a ação para evitar delírios militaristas e o agravamento da situação do povo venezuelano, que já amarga as consequências de uma catástrofe humanitária inédita no continente.