O globo, n. 31151, 20/11/2018. Opinião, p. 2

 

Mais Médicos precisa ampliar cobertura da saúde pública

20/11/2018

 

 

Se houve imprevidência do presidente eleito Jair Bolsonaro em voltar a fazer críticas à forma como vieram profissionais cubanos pelo Programa Mais Médicos, antes de o país se precaver contra a saída abrupta desses médicos, também há responsabilidade de Cuba, pelo fato de romper unilateralmente o acordo e retaliar o Brasil, porque a maioria de eleitores elegeu um adversário do stalinismo tropical da Ilha e do PT.

A uma ação nada sensata, impulsionada por ideologia, houve uma reação também política, e agora cabe ao governo Temer se desdobrar para reduzir ao máximo os danos causados pela falta de assistência médica mínima em cidades carentes. Calcula-se que dos 3.228 municípios atendidos pelo Mais Médicos, 611 podem ficar sem cobertura a partir do final do ano.

Descontado o aspecto ideológico, Bolsonaro tem razão na essência das críticas que faz. Se o regime de trabalho dos médicos cubanos não é escravocrata, chega perto disso, devido ao confisco de 70% dos salários pagos pelo Estado brasileiro, canalizados para os cofres da ditadura cubana. Sob o risco, em muitos casos, de qualquer insubordinação poder gerar retaliações sobre os familiares dos médicos, algo como reféns do regime.

A cessão de médicos é parte de um pacote de boas vizinhanças que o regime usa no apoio a aliados pelo mundo. No caso da Venezuela, o pacote inclui assessoria de polícia política, para reprimir opositores do chavismo bolivariano de Maduro. A própria segurança do virtual ditador seria feita por cubanos.

A vinda de cubanos pelo Mais Médicos foi uma ideia matreira: de alguma forma, preenchia o vazio na saúde pública em áreas carentes, servia de peça de propaganda lulopetista e ainda desviava dinheiro do contribuinte brasileiro para ajudar a debilitada ditadura companheira.

O Brasil padece de um velho problema de má distribuição de profissionais de saúde pelo território nacional. Não é questão insolúvel, e precisa ser atacada para valer agora.

Como não haverá o paliativo cubano, trata-se de usar o programa para os brasileiros, sem prejuízo de profissionais de outras nacionalidades que queiram integrá-lo.

O Revalida, que testa os conhecimento de profissionais estrangeiros, para o registro de diploma, não pode mesmo ser driblado, como foi feito com os cubanos, ato de puro companheirismo ideológico.

Mas ele não pode servir de instrumento de reserva de mercado, muito menos contra brasileiros que se formam no exterior.