O globo, n. 31148, 17/11/2018. País, p. 4

 

Apagão na saúde

André de Souza

Cleide Carvalho

Rafael Ciscati

17/11/2018

 

 

Conselho alerta que 611 cidades podem ficar sem nenhum médico após saída dos cubanos

Dos 3.228 municípios atendidos apenas pelo Programa Mais Médicos, 611 correm risco de ficar sem nenhum profissional na rede pública a partir do Natal, após a decisão do governo de Cuba de não participar mais do programa. Segundo Mauro Junqueira, presidente do Conselho Nacional de Secretarias municipais de Saúde( Conas e ms ), esse éon úmero de municípios que só possuem médicos cubanos. Representantes do Conasems vão se reunir nesta segunda-feira com o Ministério da Saúde, que anunciou a abertura, na semana que vem, de edital para que médicos formados no Brasil ocupem as vagas que serão deixadas por cubanos. Numa segunda etapa, serão convocados brasileiros formados no exterior. O objetivo é que as vagas sejam repostas ainda em novembro.

— Nossa intenção é que,à medida em que forem surgindo as vagas, os médicos brasileiros, com CRM daqui, já possam fazer opção. Nós acreditamos que existe um universo de cerca de 15 a 20 mil médicos que estão aptos a participarem do edital — disse o ministro da Saúde, Gilberto Occhi. O ministro afirmou que vais e reunir na próximas emana coma equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro.

Abatimento no FIES

Como alternativa para substituir os cubanos, o Ministério da Saúde quer atrair profissionais formados pelo Programa de Financiamento Estudantil (Fies). Eles ingressariam no programa e, em troca, abateriam parte da dívida. A proposta será levada à equipe de transição de Bolsonaro.

O Fies foi instituído em 2001 e concede financiamento a estudantes em cursos superiores pagos. Depois de formados, eles têm que pagar o empréstimo. A forma como os participantes do Mais Médicos teriam sua dívida abatida não foi definida. Não se sabe ainda, por exemplo, se haverá um desconto no salário de R$ 11.865,60 pago todos os meses aos médicos do programa. O desafio, diz Mauro Junqueira, é conseguir repor o mais rapidamente possível os profissionais cubanos, que atendem basicamente comunidades em áreas de vulnerabilidade social, com alto índice de criminalidade, comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhos e mora- dores de áreas de floresta. — Algumas regiões possivelmente ficarão sem médico por um período entre 60 e 90 dias. Tudo vai depender da celeridade do Ministério da Saúde e do número de inscritos na primeira chamada. O Conselho Federal de Medicina afirmou que tem médicos disponíveis no Brasil, vamos torcer para que todos se inscrevam — disse Junqueira. Ontem, a Defensoria Pública da União (DPU) anunciou ter entrado com uma ação civil pública, na Justiça Federal de Brasília, para manter as regras atuais do Mais Médicos. Segundo a DPU, mudanças no programa, como a exigência da revalidação do diploma, precisam passar por um estudo prévio de impacto e comprovação da eficácia imediata de medidas compensatórias.

Opinião do GLOBO - Imprevidência

CEDO OU tarde, o programa Mais Médicos teria de ser revisto, pela sua forte contaminação ideológica. Funcionou mesmo como generosa fonte de dinheiro para a ditadura cubana, que recebia 70% dos recursos pagos pelo governo brasileiro, ficando com os médicos apenas os 30% restantes.

MAS ISSO não significa que os 8,3 mil profissionais cubanos pudessem ser dispensados de uma hora para outra, o que terminou acontecendo. Faltou ao presidente eleito Jair Bolsonaro o devido cuidado ao tratar do assunto, para a substituição dos médicos ser feita de forma planejada.

AGORA, MUITAS pessoas correm o risco real de ficar desassistidas enquanto as vagas dos cubanos não forem preenchidas. A ideologia também interferiu na necessária revisão do programa.

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Grupo de 196 profissionais já deixou o Brasil

Adriana Mendes

Daniel Gullino

Igor Mello

17/11/2018

 

 

Governo dos EUA elogia posição de Jair Bolsonaro, que diz que cubanos vivem em sistema de ‘praticamente escravidão’

Após o anúncio da suspensão da participação de Cuba no programa Mais Médicos, 196 profissionais cubanos, que atuavam no Brasil, retornaram a Havana ontem. A televisão estatal cubana registrou o retorno dos médicos ao país, menos de 24 horas após o anúncio da decisão. Segundo a Agência Cubana de Notícias (ACN), os médicos chegaram “felizes por terem cumprido sua missão”, mas também “preocupados com a sorte do povo brasileiro com o novo presidente eleito”. Os médicos foram recebidos pela vice-ministra de Saúde Pública, Regla Angulo Pardo, que elogiou os profissionais cubanos e agradeceu pelo apoio dos brasileiros a eles: — Durante esses cinco anos, vi eles partirem, se prepararem, compartilhei com eles a preparação para o idioma, para a geografia do Brasil, para as condições da saúde. Não continuamos no programa , mas acho importante reconhecer a maneira com que o povo brasileiro sempre tratou a nossos médicos. O governo dos Estados Unidos elogiou ontem a postura do presidente eleito Jair Bolsonaro.

“Que bom ver o presidente eleito Bolsonaro insistir em que os médicos cubanos no Brasil recebam seu justo salário ao invés de deixar que Cuba leve a maior parte para os cofres do regime”, escreveu no Twitter Kimberly Breier, a principal funcionária do Departamento de Estado para a América Latina. O perfil do Conselho de Segurança Nacional, órgão ligadoà Branca, também elogiou Bolsonaro: “Elogiamos o presidente eleito do Brasil por tomar posição contra o regime cubano por violar os direitos humanos de seu povo, incluindo médicos enviados para o exterior em condições desumanas ”. Também no Twitter, Bol sonar o agradeceu, em inglês: “Thank you (obrigado)”. Ontem, o presidente eleito voltou a defender mudanças no programa Mais Médicos — Nunca vi uma autoridade no Brasil dizer que foi atendida por um médico cubano. Será que nós devemos destinar aos mais pobres profissionais sem qualquer garantia de que sejam realmente razoáveis, no mínimo? Isso é injusto e desumano. Bolsonaro disse que os médicos cubanos vivem, no Brasil, em situação de “praticamente escravidão”: —Imaginou ficar longe dos seus filhos por um ano? É a situação de praticamente escravidão que estão sendo submetidos os médicos e as médicas cubanas no Brasil.