O globo, n. 31190, 29/12/2018. Mundo, p. 23

 

'Irmãos'

Bruno Abbud

Chico Otavio

29/12/2018

 

 

Netanyahu diz que aliança com Bolsonaro une 'terra prometida e terra da promessa'

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, encontra-se com o premier de Israel, Benjamin Nethanyahu, que o chamou de “mito” em hebraico. Os dois se trataram como irmãos. O presidente eleito, Jair Bolsonaro, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, chamaram-se de “irmãos” e prometeram construir uma aliança inédita entre os dois países durante uma tarde juntos, ontem, no Rio de Janeiro. Bolsonaro anunciou ter aceitado um convite para visitar o país do Oriente Médio, e disse que o fará até março, “para colocarmos em prática o mais rápido possível essa política de grande parceria com o Estado de Israel” .

Os dois tiveram um encontro privado de cerca de meia hora, no Forte de Copacabana, e depois uma reunião ampliada coma presença dos futuros ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo; da Defesa, Fernando Azevedo; e da

Economia, Paulo Guedes. À tarde, visitaram juntos a sinagoga do bairro.

No templo, Natanyahu chamou Bolsonaro de “mito”, em hebraico, e foi secundado peloco rodos presentes. O presidente eleito retribuiu dizendo que o premier “é um capitão, como ele” eque os dois países formam uma irmandade. Ele destacou a afinidade ideológica entre ambos: — Como os Estados Unidos, entre tantos outros que pensam e têm uma ideologia pareci dacoma nossa, temos tudo para nos ajudar e fazer o bem para os nossos povos. Senhor ministro, obrigado pela oportunidade e que Deus nos abençoe —disse.

Sem menção à embaixada

Em breves declarações no Forte de Copacabana à TV NBR, do governo federal, Bolsonaro citou as áreas de tecnologia, agricultura, piscicultura, segurança e Forças Armadas como objetos de possíveis acordos bilaterais:

— Precisamos de bons aliados, amigos e irmãos como Benjamin Netanyahu. Netanyahu, o primeiro chefe de governo israelense a visitar o Brasil, respondeu no mesmo tom, afirmando que Bolsonaro será recebido como “um grande amigo, um aliado, como um irmão”. O premier classificou o encontro como “histórico”:

— É difícil acreditar que nunca tivemos esse tipo de contato no passado. Porque a aliança que você (Bolsonaro) menciono ué real e verdadeira e pode nos levar agrandes distâncias. Israel é a terra prometida, e o Brasil é a terra da promessa. O senhor se apoia na boa gestão do país para realizar essa promessa. Queremos ser parceiros do Brasil nessa empreitada —disse. Não houve menção pública à transferência da embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, uma promessa que Bolsonaro fez na campanha e reiterou depois de eleito. A medida é controversa, uma vez que resoluções da ONU determinam que o status da cidade deve ser decidido em negociações com os palestinos. Por isso, enfrenta a oposição dos países árabes, com os quais o Brasil tem relações comerciais importantes.

O premier israelense enfrenta investigações de corrupção e uma crise política em casa, quele vou à antecipação das eleições gerais para abril, e chegou a cogitar limitar sua visita ao Rio de Janeiro. Na última quarta-feira, porém, foi anunciado que ele ficará para aposse em Brasília. No poder desde 2009, já tendo chefiado o governo nos anos 1990, Netanyahu lidera a coalizão mais conservadora que já governou Israel. O processo de paz com os palestinos está parado há quatro anos. Ele conta, no entanto, com o apoio incondicional do governo de Donald Trump, e nos anos recentes vem se aproximando de líderes da onda populista de direita, como o húngaro Viktor Orbán, que também estará na posse de Bolsonaro. A balança comercial com Israel foi desfavorável ao Brasil em US$ 767 milhões no ano passado. As exportações brasileiras para Israel somaram US$ 293 milhões, valor 27,07% inferior ao que foi contabilizado no ano anterior. Já as importações de produtos israelenses atingiram US$ 1,060 bilhão, uma alta de 29,74%.