O globo, n. 31189, 28/12/2018. País, p. 10
Alvo da Operação Lava-Jato, doleiro é preso no Paraguai
Daniel Biasetto
28/12/2018
Bruno Farina é acusado de lavar dinheiro para o esquema de Sérgio Cabral
Alvo da operação “Câmbio, Desligo”, etapa da Lava-Jato que investigou uma rede de doleiros que lavava dinheiro para o esquema do ex-governador do Rio Sérgio Cabral, Bruno Farina foi preso na noite de anteontem no Paraguai. A Interpol cercou sua casa, no Paraná Country Club, área residencial de luxo na cidade de Hernandarias, perto de Ciudad del Este.
Ao lado de Dario Messer, ainda foragido e apontado como o “doleiro dos doleiros”, Farina já foi denunciado pelo Ministério Público Federal acusado de formar uma organização criminosa que promoveu a evasão de divisas e lavagem de dinheiro desde a década de 1990. Os doleiros são suspeitos de movimentarem US$ 1,6 bilhão em 52 países.
Depois de preso, ele foi levado ao aeroporto de Luque, na região metropolita nade Assunção,e encaminhado ao Departamento de Investigação de Crimes da Polícia Nacional.
— Não tenho nada a dizer. No Brasil, nunca fui acusado de nada. É uma investigação e vamos esclarecer tudo com o tempo — disse Farina ao ser preso, de acordo com o jornal paraguaio “ABC Color”.
Farina fazia parte de uma lista de 17 foragidos da Lava-Jato que, de acordo com os investigadores, estão fora do país e têm paradeiro desconhecido.
Da relação, só há certeza sobre o paradeiro de três deles: Arthur Soares, o Rei Arthur, empresário que o governo americano reconheceu estar em seu território, Felipe Paiva e José Carlos Lavouras, refugiados em Portugal por terem cidadania lusitana.
A Lava-Jato incluiu os 17 nomes na difusão vermelha da Interpol (alerta internacional para fins de extradição) e busca acordos de cooperação internacional.
Messer, foragido desde abril, é o principal alvo da operação “Câmbio, Desligo" — que mandou prender 44 doleiros. A suspeita é que ele esteja no Paraguai, onde tem cidadania. O presidente paraguaio, Horacio Cartes, é amigo de Messer e já o chamou de “irmão de alma”. O nome do doleiro também foi incluído na lista da Interpol.
Para driblar a fiscalização dos órgãos de controle financeiro, as organizações criminosas passaram a desenvolver sofisticados esquemas de movimentação de recursos, no Brasil e no exterior. O sistema de compensação permite aos grupos praticar crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e gestão fraudulenta de instituição financeira, por exemplo, por meio de uma rede de doleiros.