O Estado de São Paulo, n. 45756, 26/01/2019. Política, p. A6

 

Bolsonaro muda tom sobre reeleição

Carla Bridi

26/01/2019

 

 

Presidente, que em várias ocasiões defendeu limitação do mandato a quatro anos, agora diz que não há decisão sobre voltar a disputar cargo

Em entrevista publicada pelo jornal norte-americano The Washington Post, o presidente Jair Bolsonaro deixou em aberto a possibilidade de concorrer a um novo mandato nas eleições de 2022. Durante a campanha eleitoral do ano passado, em diversas ocasiões Bolsonaro se declarou contrário à reeleição.

Durante a entrevista ao jornal dos Estados Unidos, publicada anteontem, a repórter Lally Weymouth mencionou declarações de Bolsonaro de que ele pretendia ser presidente por apenas um mandato por causa das medidas impopulares que teria de tomar. “Essa é uma possibilidade, sim”, respondeu o presidente. A jornalista então pergunta se ele já se decidiu a não disputar novamente a Presidência, e Bolsonaro declara que ainda não há definição sobre isso.

Em campanha. No dia 20 de outubro do ano passado, antes do segundo turno da eleição presidencial, o então candidato do PSL defendeu o fim da reeleição em entrevista à imprensa no Jardim Botânico, zona sul do Rio de Janeiro. “Da minha parte, vou conversar com o Parlamento com vistas a uma reforma”, disse. “Acabar com o instituto da reeleição e reduzir de 15% a 20% a quantidade de parlamentares.”

Também antes do segundo turno, em vídeo publicado nas redes sociais do próprio candidato mostrando os bastidores de uma entrevista à TV Bandeirantes, Bolsonaro novamente citou uma possível reforma política no Congresso com estabelecimento de mandato único para presidentes. “Eu botaria na balança o fim do instituto da reeleição. É a reforma política que você pode propor ao Parlamento”.

“Fim da reeleição, novo atentado e muito mais”, escreveu o próprio Bolsonaro no Twitter, ao difundir o link para o vídeo, publicado em seu canal no YouTube, com nove minutos de duração.

Projeto pessoal. Em dezembro, durante o período de transição, o presidente eleito, em reunião com a bancada do DEM, voltou a criticar a reeleição para cargos no Poder Executivo. Segundo relatos de parlamentares presentes no encontro, Bolsonaro citou o tema ao defender a necessidade de uma reforma política e disse apoiar o fim da reeleição justamente para demonstrar que não tem um projeto de poder pessoal.

Em dois posts no Twitter, um de maio de 2018 e outro de março de 2016, Bolsonaro criticou a aprovação da proposta de emenda constitucional da reeleição, proposta em 1997 por aliados do então presidente Fernando Henrique Cardoso, o que garantiu a mudança da duração do mandato presidencial de cinco para quatro anos e a possibilidade de uma reeleição.

Bolsonaro citou no Twitter a delação do ex-senador Delcídio do Amaral, que, segundo o presidente, afirmou que os votos de parlamentares para aprovar a emenda foram comprados. “Um dos votos que mais me orgulha (sic) foi o contra a reeleição de FHC. Não aceitei a propina do seu partido PSDB.”

Homofobia. Em outro trecho, Bolsonaro é questionado sobre a declaração dele em que afirma que preferiria ter um filho viciado a um filho homossexual. “Essa informação é nova para mim, nunca ouvi antes”, disse o presidente. “É o que foi publicado”, afirmou a repórter. Bolsonaro então perguntou à jornalista se ela realmente acredita na mídia impressa, insinuando que a imprensa brasileira teria publicado uma informação falsa.

A frase, porém, é verdadeira, e foi dita em entrevista do então deputado ao canal de YouTube TWTV, publicada em junho de 2013. “Tenho imunidade para falar que sou homofóbico, sim, com muito orgulho, se é para defender as crianças nas escolas”, afirmou Bolsonaro.

Associações criticam mudanças na LAI

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) emitiram ontem nota criticando o decreto do governo Bolsonaro que alterou a aplicação da Lei de Acesso à Informação (LAI). Com as mudanças, servidores comissionados podem classificar documentos por ao menos 25 anos. As associações disseram esperar que a medida seja revista. Outras entidades já haviam protestado contra o decreto.