Correio braziliense, n. 20224, 04/10/2018. Cidades, p. 21

 

Troca pesada de acusações

Jéssica Eufrásio 

04/10/2018

 

 

 Recorte capturado

DEBATE 2018 » Eliana disse que Ibaneis cometeu crime ao prometer reconstruir casas derrubadas pela Agefis: "Está gravado que o senhor pagaria a construção. A lei veda". O advogado, por sua vez, disse que a candidata do Pros anda com "gente do mal"

Jéssica Eufrásio

 

O segundo bloco do debate entre postulantes ao Palácio do Buriti foi marcado pelo confronto direto e pela troca de acusações. A rodada foi aberta pelo advogado Ibaneis Rocha (MDB). Ele culpou o candidato à reeleição Rodrigo Rollemberg (PSB) por chefiar o governo que “mais aumentou tributos na história do Distrito Federal”. Ele questionou o atual governador sobre as propostas de impostos para as empresas em eventual novo mandato. Rollemberg, por sua vez, respondeu que focará no desenvolvimento e prometeu acabar com o diferencial de alíquotas para optantes do Simples Nacional. “Vamos encaminhar à Câmara Legislativa a mudança da LOA (Lei de Diretrizes Orçamentárias). A prioridade do desenvolvimento deve ser emprego com distribuição de renda e a retomada de obras importantes”, defendeu.

O debate ocorreu ontem e contou com a presença de sete dos 11 candidatos ao GDF. Em um dos principais momentos da troca de farpas, a empresária Eliana Pedrosa (Pros) acusou Ibaneis de cometer crime eleitoral durante a campanha. Os dois, respectivamente, encabeçam a corrida eleitoral, segundo as pesquisas. “O senhor prometeu reconstruir casas destruídas pela Agefis (Agência de Fiscalização do Distrito Federal). Qual é a origem do dinheiro para isso? O senhor não acha que é crime?”, questionou Eliana. O advogado rebateu dizendo que a adversária fez a mesma promessa. “É uma proposta de governo. As casas ilegalmente derrubadas serão reconstruídas com indenização do Estado. Fiz essa proposta genérica para ajudar as famílias. Não acho que seja compra de votos”, defendeu-se.

A discussão continuou depois de Ibaneis acusar Eliana de andar com “gente do mal” e de usar contas fakes nas mídias sociais durante a campanha. Em resposta, ela voltou ao tema inicial. “Muito me admira o senhor admitir que isso é crime eleitoral. Está gravado que o senhor pagaria a construção dessas casas. A lei nos veda dar até R$ 10 na rua, quanto mais construir uma casa. É ilógico prometer isso. O senhor terá de responder por esse crime, sim”, reforçou. Na tréplica, o emedebista alfinetou: “A senhora caminha com o que há de mais podre até entre aqueles que estão nos cemitérios que a senhora administra. Do lado da senhora, está o que há de pior nesta cidade”, criticou Ibaneis. Ele citou os nomes de Fábio Simão, Manoel Neto e Carlos Xavier; o primeiro, acusado de improbidade administrativa; o segundo, condenado no âmbito da Operação Caixa de Pandora; e o terceiro, por homicídio.

 

“Cinturão de miséria”

Coronel da reserva da Polícia Militar, Alberto Fraga (DEM) afirmou que o Distrito Federal está rodeado por um “cinturão de miséria” e quis saber os planos do economista Júlio Miragaya (PT) para o Entorno. O petista aproveitou para reprovar a “troca de baixarias” em frente às câmeras e defendeu a atuação conjunta dos serviços públicos do DF e de Goiás. “O Entorno é quase como um bairro do DF. O Estatuto das Metrópoles prevê isso por meio da aprovação das duas casas legislativas. Assim, a população pode acessar programas nas duas unidades federativas. É importante um planejamento integrado no atendimento à saúde, na mobilidade e na geração de empregos”, ressaltou.

Com foco no cenário eleitoral nacional, Miragaya escolheu a enfermeira sanitarista Fátima Sousa (PSol) para responder na sequência. Ele questionou como a socialista enxerga a situação da corrida presidencial após a divulgação dos áudios da delação de Antonio Palocci a cinco dias da votação em primeiro turno. Para a candidata, a Justiça tem tomado o poder na política. “Se Fraga sente isso, imagine nós, que somos da esquerda e somos perseguidos. O que nos deixa mais tristes é a tentativa de aniquilar o processo da democracia e de trazerem elementos que ainda não foram vistos”, respondeu.

Rogério Rosso (PSD) aproveitou a vez de perguntar a Eliana para apresentar mais uma proposta para os primeiros dias de governo. Ele prometeu direcionar os gastos da verba oriunda do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) a cada uma das regiões administrativas nas quais o imposto foi taxado.  Eliana, por sua vez, criticou o modo de trabalho nas administrações regionais e defendeu que os administradores preencham requisitos de competência. “Hoje, a população reclama que os administradores são teleguiados de outros personagens (que ficam) por trás deles”, disse.

 

Espaços públicos

Relembrando os últimos quatro anos, Rollemberg mencionou algumas das ações com foco nos espaços de lazer do DF, como a abertura da Orla do Lago Paranoá e a doação de 31 hectares (equivalente a 43 campos de futebol) da Residência Oficial de Águas Claras para o parque da região administrativa. Depois de citar os projetos de revitalização do Parque do Setor O e da criação do Parque Burle Marx, ele perguntou quais são as propostas de Rosso para democratizar locais públicos do DF.

Rosso citou feitos, segundo ele, da própria atividade parlamentar. “Cada cidade tem vocação turística de lazer, por isso a descentralização é tão importante. Precisamos criar condições para cada cidade do DF recuperar e fortalecer locais de lazer. Como parlamentar, dediquei algumas emendas a isso”, reforçou. Depois, Rollemberg citou o fato de a Bacia do Descoberto estar com 65% do volume total durante a seca após obras durante o governo dele. “Crise hídrica é sobre a política. Vários partidos que estão aqui sempre criticaram o governo Roriz, mas são essas obras, como Corumbá, que estão sendo fundamentais para nossas futuras gerações”, rebateu Rosso.

Última do bloco a perguntar, Fátima Sousa quis saber como Alberto Fraga define a corrupção. Ele criticou o abuso de poder econômico no DF e aproveitou o tempo de resposta para criticar Ibaneis. “Sabemos do abuso de poder econômico. Espero que a Justiça tenha essa visão. Ele (Ibaneis) fala que não é conluio, mas conluio é quando existe algo escondido, e ele promete construir casas das pessoas. Acho que corrupção é tudo aquilo que você adquire de forma ilegal”, finalizou.

 

Controvérsia

Na terça-feira, circulou pelas mídias sociais um vídeo em que Ibaneis Rocha (MDB) promete construir casas derrubadas pela Agefis com o próprio dinheiro durante uma reunião com apoiadores. A agência é responsável por coibir invasões e promover a desocupação de áreas habitadas irregularmente no Distrito Federal. Em nota, a assessoria do candidato afirmou que a Procuradoria-Geral analisará caso a caso. “‘O meu dinheiro’ é, obviamente, força de expressão. Até porque ele já registrou em cartório que vai transferir para os cofres públicos todo o valor que tiver a receber em honorários ganhos pelo escritório dele. Este dinheiro poderá ser usado inclusive nestes casos”, afirma o documento.

 

O que eles disseram

“É absurdo o que vemos no DF. Sabemos do abuso de poder econômico. Espero que a Justiça tenha essa visão. Ele (Ibaneis) fala que é conluio, mas conluio é quando existe algo escondido. E ele promete construir casas das pessoas. Hoje, fui abordado no meu comitê por pessoas dizendo que não estão recebendo pagamentos. Vou encerrar pagamento do meu pessoal para não dar calote. Corrupção é tudo aquilo que você adquire de forma ilegal”

Alberto Fraga (DEM)

 

“O senhor prometeu reconstruir casas destruídas pela Agefis (Agência de Fiscalização do Distrito Federal). Qual é a origem do dinheiro para isso? O senhor não acha que é crime?”

Eliana Pedrosa (Pros)

 

“A senhora caminha com o que há de mais podre até entre aqueles que estão nos cemitérios que a senhora administra. Do lado da senhora, está o que há de pior nesta cidade”

Ibaneis Rocha (MDB)

 

“Há candidatos que implantam informações das mais perversas. O Fraga foi humilde. Ele disse que Marielle Franco deveria ter morrido mesmo. Depois, retirou o que disse. Quem faz isso não tem autoridade para ser governador do DF. Assim como Ibaneis também não tem. Hoje, circulou um vídeo em que ele aparece usando da inocência dessas pessoas, mas ele não está pagando quem está bandeirando. Vai ter calote”

Fátima Sousa (PSol)

 

“O Entorno é quase como um bairro do DF. Isso dificulta a gestão dos serviços públicos de lá e de cá. O Estatuto das Metrópoles prevê isso através da aprovação das duas Casas Legislativas. (...) Se existe desigualdade dentro do DF, ela é maior se comparada aos municípios metropolitanos. Alguns praticamente não têm acesso ao ensino superior, sequer têm faculdades privadas. Atuar de forma integrada pode ser uma boa”

Júlio Miragaya (PT)

 

“A prioridade do desenvolvimento deve ser emprego com distribuição de renda e retomada de obras importantes. Na situação em que peguei esta cidade, se vocês estão prometendo hoje, é só porque colocamos ordem na casa. Tem estado em que o servidor está se mudando. Aqui, todos estão recebendo em dia. Com responsabilidade, temos condições de garantir recomposição salarial e contratações”

Rodrigo Rollemberg (PSB)

 

“Cada cidade tem sua vocação, parte econômica, cultural. Isso é muito importante. Mandei projeto de lei para Câmara Legislativa em 2010 criando um fundo progressivo de autonomia financeira para as administrações. Cada cidade tem sua especificidade e necessidade. É muito injusto, para um morador de Santa Maria, que o IPTU pago por ele seja levado para uma calçada no Lago Sul. Farei isso nos primeiros dias do meu governo”

Rogério Rosso (PSD)