Correio braziliense, n. 20232, 12/10/2019. Política, p. 2

 

Haddad busca apoio da Igreja Católica

12/10/2019

 

 

Concorrente do PT à Presidência mira eleitorado católico para tentar diminuir, no segundo turno, a distância que o separa do líder das pesquisas. Segundo as sondagens, petista tem 47% dos votos entre os que seguem a doutrina

Atrás na corrida eleitoral, Fernando Haddad (PT) vê na fé religiosa do povo brasileiro a esperança para  ultrapassar o adversário, Jair Bolsonaro (PSL). Ontem, o petista se reuniu com o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Steiner, para pedir o apoio da principal entidade católica do país. A última pesquisa Datafolha, divulgada na quarta-feira, aponta que o petista tem 47% dos votos válidos entre católicos, uma diferença de apenas seis pontos percentuais em relação ao rival. Faltando 16 dias para a eleição, a tática da campanha é mirar os grupos em que ainda pode abocanhar votos para diminuir a distância que o separa do capitão reformado do Exército.

Os católicos no Brasil são 173,6 milhões, segundo o Anuário Pontifício 2018 e o Annuarium Statisticum Ecclesiae 2016, redigidos pelo Departamento Central de Estatísticas da Igreja. Espaço para a aproximação entre PT e a Igreja Católica não falta. No primeiro turno, o presidente da CNBB e arcebispo metropolitano de Brasília, cardeal Sérgio da Rocha, disse que a Igreja não apoiaria candidatos que promovessem a violência. Na segunda-feira, após o primeiro resultado das urnas, dom Steiner sugeriu que os fiéis elejam um candidato favorável à democracia.

Os discursos dos líderes religiosos foram interpretados como acenos para a candidatura de Haddad. Na última quarta-feira, nas redes sociais, Bolsonaro adotou um tom comedido. Disse que dispensa o voto e qualquer aproximação de quem pratica violência contra eleitores que não votam nele. “A este tipo de gente, peço que vote nulo ou na oposição, por coerência”, declarou, em referência ao atentado que sofreu em setembro, em Juiz de Fora (MG).

Acompanhado do governador do Piauí, Wellington Dias (PT), e de Gilberto Carvalho, ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência no primeiro governo de Dilma Rousseff, o candidato do PT pediu que a Igreja recomende aos fiéis que tenham cuidado com as fake news. “As pessoas estão sendo bombardeadas com informações falsas na internet. Pedi que a Igreja recomende às pessoas para checar o que é verdade ou não. Se for verdade, as pessoas têm de saber. Se não for, têm de ter compromisso de barrar a mentira e a propagação”, declarou.

Em resposta, dom Steiner pediu, em caso de vitória do petista, combate rigoroso à corrupção, defesa da democracia, proteção do meio ambiente, atenção especial à questão indígena e quilombola, e que o aborto não seja legalizado. Haddad afirmou que as preocupações da igreja estão contempladas no plano de governo e que tais compromissos serão reforçados. Em nota, o secretário-geral da CNBB frisou que o candidato não foi pedir apoio e a entidade não tem “partido nem candidato.”

O pedido feito ao secretário-geral da CNBB, segundo Haddad, tem por intuito combater os ataques que ele tem sofrido da militância de Bolsonaro, sobretudo nas redes sociais. O petista disse que são inverdades as alegações a respeito da distribuição de materiais impróprios para crianças de seis anos. “Isso nunca aconteceu e é um desrespeito aos professores do Brasil. Veja se os professores vão receber material impróprio sobre sexualidade e usá-lo sem questionar. Isso é completamente impossível de acontecer. Mesmo que alguém tenha em isso em mente, nós temos uma rede de proteção que são as próprias escolas, diretoras, professoras”, disse.

 

Evangélicos

A disputa pelo público católico é uma missão mais acessível ao PT. Entre os evangélicos, a disputa é mais difícil. Na média, entre as diferentes correntes evangélicas, Haddad tem apenas 30% dos votos válidos, segundo o Datafolha. Ciente disso, Bolsonaro orientou seus interlocutores a articularem o apoio de pastores e bispos. A tendência, agora, é de que o trabalho seja reforçado, informou Coronel Tadeu (PSL-SP), um dos coordenadores da campanha do presidenciável do PSL em São Paulo.

O correligionário é braço direito do deputado Major Olimpio (PSL-SP), que foi eleito senador. Ambos estão entre os principais responsáveis pelas articulações com apoiadores civis, políticos e religiosos em São Paulo. As conversas com líderes evangélicos estão avançadas e a expectativa é de garantir votos de eleitores e suporte de legendas ligadas a religiosos, como PRB e PSC. “As principais lideranças estão declarando apoio e mais manifestações vão surgir”, destacou. Pastores e bispos pedem voto para Bolsonaro nas redes sociais e em aplicativos de mensagens.