Correio braziliense, n. 20232, 12/10/2019. Política, p. 5

 

MDB declara neutralidade

12/10/2018

 

 

Legendas tradicionais, como PSDB e MDB, Nem  comandar o Senado. Na Câmara, o Centrão se articula para tentar barrar a candidatura de Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do favorito para conquistar o Planalto

O MDB declarou independência, ontem, ao anunciar que ficará neutro no segundo turno, mas deixou as portas abertas para um eventual apoio ao próximo presidente da República, independentemente de quem seja o eleito. Questionado se a legenda estaria na oposição a partir de 2019, o presidente do partido, senador Romero Jucá (RR), foi enfático: “ser oposição é ser contra o Brasil”.

Desde a redemocratização, o MDB sustenta — em especial, no âmbito congressual — governos de programas e visões que já chegaram a ser antagônicas. A ideia é manter esse padrão. Mesmo que tenha declarado autonomia e afirmado que a legenda “tende” a viver um novo momento, o partido é comandado por caciques regionais. Por isso, Jucá também afirmou que o MDB não será oposição. “Medidas que forem boas (para o país), nós vamos apoiar e votar a favor. As que forem ruins, vamos denunciar”.

A decisão de liberar os membros do partido está ligada a fatores regionais da legenda, que, além disso, disputa três governos estaduais no segundo turno. “Não vamos apoiar nenhum dos candidatos à Presidência; estamos liberando os correligionários para votarem de acordo com suas consciências e com a conjuntura estadual”, explicou o parlamentar.

Para Romero Jucá, a prática de construir maiorias por meio da ocupação de ministérios faliu. “Isso não deu certo”, enfatizou. Ele diz que o novo presidente já assume com essa lição. No entanto o cientista político da Universidade Federal do Ceará (UFC) Valmir Lopes entende que a declaração foi feita da “boca para fora”.

Segundo o professor, o MDB é justamente o partido que pratica o que foi criticado, ontem, por Jucá. Ele também ressalta que o chefe do Executivo precisa ter maioria no parlamento para aprovar medidas. O toma lá dá cá foi a forma encontrada para poder ter maioria. “Ele (o presidente) não tem outro instrumento para atrair os partidos fisiológicos”, explica.

Sobre a possibilidade de o partido não participar do governo, o pesquisador acredita que seria “algo inédito” e contrário à história da legenda. “Após a eleição em que lançou Orestes Quércia à Presidência, o MDB descobriu uma forma de permanecer como partido de centro e compor todos os governos seguintes”, lembrou.

Valmir Lopes diz que existe a possibilidade de o MDB ir para a oposição devido ao ineditismo desta eleição. Contudo, isso só acontecerá se ele for forçado a isso. A vitória de Fernando Haddad (PT) facilitaria a adesão do partido ao governo, porém, caso Jair Bolsonaro seja o vitorioso, existe a possibilidade de o PSL “não querer esse apoio”. “A diferença, agora, será porque o MDB diminuiu bastante. Mas isso não significa que ele não tentará ser o partido que dará apoio ao governo, independentemente de quem seja eleito”, afirma Lopes.

 

 

Legendas tradicionais, como PSDB e MDB, Nem  comandar o Senado. Na Câmara, o Centrão se articula para tentar barrar a candidatura de Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do favorito para conquistar o Planalto

O MDB declarou independência, ontem, ao anunciar que ficará neutro no segundo turno, mas deixou as portas abertas para um eventual apoio ao próximo presidente da República, independentemente de quem seja o eleito. Questionado se a legenda estaria na oposição a partir de 2019, o presidente do partido, senador Romero Jucá (RR), foi enfático: “ser oposição é ser contra o Brasil”.

Desde a redemocratização, o MDB sustenta — em especial, no âmbito congressual — governos de programas e visões que já chegaram a ser antagônicas. A ideia é manter esse padrão. Mesmo que tenha declarado autonomia e afirmado que a legenda “tende” a viver um novo momento, o partido é comandado por caciques regionais. Por isso, Jucá também afirmou que o MDB não será oposição. “Medidas que forem boas (para o país), nós vamos apoiar e votar a favor. As que forem ruins, vamos denunciar”.

A decisão de liberar os membros do partido está ligada a fatores regionais da legenda, que, além disso, disputa três governos estaduais no segundo turno. “Não vamos apoiar nenhum dos candidatos à Presidência; estamos liberando os correligionários para votarem de acordo com suas consciências e com a conjuntura estadual”, explicou o parlamentar.

Para Romero Jucá, a prática de construir maiorias por meio da ocupação de ministérios faliu. “Isso não deu certo”, enfatizou. Ele diz que o novo presidente já assume com essa lição. No entanto o cientista político da Universidade Federal do Ceará (UFC) Valmir Lopes entende que a declaração foi feita da “boca para fora”.

Segundo o professor, o MDB é justamente o partido que pratica o que foi criticado, ontem, por Jucá. Ele também ressalta que o chefe do Executivo precisa ter maioria no parlamento para aprovar medidas. O toma lá dá cá foi a forma encontrada para poder ter maioria. “Ele (o presidente) não tem outro instrumento para atrair os partidos fisiológicos”, explica.

Sobre a possibilidade de o partido não participar do governo, o pesquisador acredita que seria “algo inédito” e contrário à história da legenda. “Após a eleição em que lançou Orestes Quércia à Presidência, o MDB descobriu uma forma de permanecer como partido de centro e compor todos os governos seguintes”, lembrou.

Valmir Lopes diz que existe a possibilidade de o MDB ir para a oposição devido ao ineditismo desta eleição. Contudo, isso só acontecerá se ele for forçado a isso. A vitória de Fernando Haddad (PT) facilitaria a adesão do partido ao governo, porém, caso Jair Bolsonaro seja o vitorioso, existe a possibilidade de o PSL “não querer esse apoio”. “A diferença, agora, será porque o MDB diminuiu bastante. Mas isso não significa que ele não tentará ser o partido que dará apoio ao governo, independentemente de quem seja eleito”, afirma Lopes.