Correio braziliense, n. 20230, 10/10/2018. Política, p. 2
General recomenda humildade à campanha
10/10/2018
ELEIÇÕES 2018 » Ao comentar o favoritismo de Bolsonaro no segundo turno, Augusto Heleno - cotado para assumir o Ministério da Defesa num eventual governo do presidenciável do PSL - diz que um time não pode entrar em campo já com a faixa de campeão
Um dos principais integrantes do núcleo duro da equipe do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), o general Augusto Heleno disse ontem que, a despeito do clima de favoritismo, é preciso manter o foco na campanha. “No futebol, ninguém entra em campo com a faixa de campeão. A mesma coisa pode ser dita em relação à eleição. Temos ainda 15 dias até as urnas”, disse o militar em entrevista ao Correio. A euforia na equipe e entre os apoiadores do capitão reformado, reforçada pelos índices positivos da Bolsa e pela queda do dólar, ocorre por dois motivos. O primeiro é mais óbvio, dado o resultado francamente favorável ao deputado federal, que obteve 46,06% dos votos válidos no último domingo. O segundo, é a baixa capacidade de reação entre os petistas, principalmente em relação ao anúncio de integrantes da equipe econômica de um eventual governo a partir do próximo ano.
“Estamos no momento de reunir dados, produzir análises e pensar o tempo final de campanha, que ainda não acabou, ao contrário.” Parte da equipe, formada pelos filhos de Bolsonaro e políticos do PSL, começa a definir o tom do programa eleitoral com marqueteiros consultados (leia reportagem abaixo). Os primeiros nomes do time econômico e de postos-chaves, como o do Itamaraty, começam a ser sondados, inclusive com menor valor do ponto de vista orçamentário, mas não menos importante em relação à visibilidade, como o do Turismo. “A intenção é mostrar que o projeto de Bolsonaro não é algo de apenas uma pessoa, mas tem apoios em várias áreas”, disse um integrante da parte de comunicação da campanha, que defendeu, desde o início, a ideia dos anúncios antecipados do time. O acerto foi que o guru de Bolsonaro na área econômica, Paulo Guedes, teria liberdade para escolher a equipe, sondada, principalmente, entre executivos de teles, bancos e empresas de investimentos. Os demais cargos seriam definidos a partir da escolha direta do capitão reformado.
A principal cadeira do Itamaraty, segundo o Correio apurou, deve ser ocupada pelo embaixador do Brasil em Seul, Luís Henrique Sobreira Lopes, ministro de primeira classe do Ministério das Relações Exteriores. Outro cotado seria o diplomata Ernesto Fraga Araújo. Diretor do Departamento de Estados Unidos, Canadá e Assuntos do Itamaraty, ele havia enviado à cúpula da campanha de Bolsonaro um artigo sobre Trump e o Ocidente, que deixou os responsáveis pelo programa de governo e análises bem impressionados. “Estamos conversando com várias pessoas, que têm demonstrado interesse em colaborar, alguns deles com postos no atual governo, mas a definição do time só deve ocorrer no final da eleição”, disse um integrante da campanha, que é dividida entre grupos de Brasília e do Rio de Janeiro.
Educação
Outro cotado é o empresário Roberto Medina, que ficaria responsável pela Secretaria de Turismo, vinculada ao Ministério de Indústria e Comércio num eventual governo Bolsonaro. Ontem, em entrevista à Rádio Jovem Pan, o capitão reformado disse que busca um nome que tenha autoridade para comandar o Ministério da Educação. “Estou procurando alguém para ser ministro da Educação que tenha autoridade, que expulse a filosofia de Paulo Freire, que mude os currículos escolares”, disse. E concluiu: “Para aprender química, matemática, português, e não sexo”.
Bolsonaro fez duras críticas ao PT que, segundo ele, tem interesse em manter desinformação na sociedade para prendê-la ao Bolsa Família. Mesmo com a crítica, o presidenciável disse que pretende ampliar esse programa social, combatendo desvios. O candidato também afirmou que costuma ser chamado de extremista, mas que, na verdade, seus oponentes é que são. “Os apaixonados pela Venezuela, por Cuba, são eles”, disparou.
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Equipes montam programas eleitorais
10/10/2018
A campanha de segundo turno começou na segunda-feira, mas o ritmo dos candidatos à Presidência da República ainda é de adaptação. Enquanto Jair Bolsonaro já tem um consenso sobre o futuro da campanha para o segundo turno, o PT ainda fecha detalhes sobre qual caminho seguir. Algo em comum entre eles é que ambos ainda acertam os rumos da nova etapa do pleito, alinham os discursos com as equipes e traçam estratégias de comunicação. Na sexta-feira, é dada a largada no período de propaganda eleitoral na rede de canais abertos. E, segundo especialistas, quem deve sair à frente, mais uma vez, é Bolsonaro.
Embora não tenha deixado nada planejado para um segundo turno, o capitão reformado do Exército e os filhos Eduardo e Carlos Bolsonaro estudam implementar na nova campanha uma participação ampla dos eleitores. Com o intuito de apresentar um discurso de união da nação, cogita-se dar espaço ao povo brasileiro nos 10 minutos de propaganda eleitoral, com vídeos curtos de 30 a 60 segundos enviados e produzidos pelos próprios votantes do candidato.
“Queremos democratizar o horário eleitoral. Evidentemente, que haveria uma filtragem sobre o conteúdo recebido para saber se mantém sintonia com a campanha dele”, disse uma pessoa próxima da campanha dele. Contudo, ainda não houve uma decisão oficial. Ao passo que os dois filhos do candidato concordam com a ideia, a ala mais antiga e conservadora que apoia a candidatura de Bolsonaro acredita que o sucesso do pleito virá de um programa eleitoral tradicional — algo que o PT, que acumulou 13 anos de governo em campanhas vitoriosas, sabe bem como fazer.
As imagens fornecidas pelos eleitores do deputado se enquadrariam na legislação eleitoral, como “doação estimável”, quando a pessoa física contribui para a campanha, mas sem necessariamente recurso financeiro. Pode ser um imóvel, um vídeo ou um serviço. “Não há discriminado na lei o que pode ou que não pode. Mas precisa estar dentro dos limites legais e ser menor que 10% dos rendimentos brutos do doador no ano anterior à doação”, explica a assessoria de imprensa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Ontem, advogados de Bolsonaro se reuniram no Rio de Janeiro para discutir a estratégia de defesa do parlamentar durante o segundo turno. Um dos advogados é o brasiliense Tiago Ayres, primo do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Carlos Ayres Britto. No encontro, também estava presente o guru econômico do capitão, o economista Paulo Guedes.
Segundo mais votado, Haddad tenta apresentar um discurso mais conciliador com o país. O objetivo não é pescar apenas os eleitores dos candidatos que não migraram para a segunda fase do pleito, mas em tentar conquistar o eleitor de Bolsonaro. Análises internas do partido mostram que alguns votantes do postulante do PSL foram eleitores de Lula e, por isso, “não sentem ódio do PT”. Por isso, segundo um marqueteiro do partido, o presidenciável petista não atacará o concorrente, tampouco o eleitor dele. “O PT tem experiência de campanha tradicional que o Bolsonaro não tem. E isso pode fazer a diferença”, disse.
O cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, explica que, analisados os números da primeira etapa do processo eleitoral, em que Bolsonaro obteve 49,2 milhões de votos (46,03%) e Haddad, 31,3 milhões (29,28%), o capitão do Exército reúne uma lista de vantagens em relação a Haddad e, por isso, a inserção televisiva funcionará como bônus. “Ele precisa fazer muitas sinalizações principalmente para segmentos que mais o rejeitam, como é o caso do eleitorado feminino, por exemplo. Então, o tempo igualitário é uma boa oportunidade. Além disso, tem a sinalização com o Nordeste, muito necessária para a campanha”, pontua.
Ainda para Noronha, mesmo com mais experiência, o PT terá mais dificuldade para emplacar nas propagandas em mídias tradicionais: “Bolsonaro liderou com 16 pontos de vantagens tendo à disposição apenas oito segundos de tevê. E as últimas eleições mostram que quem ganha o primeiro turno costuma levar no segundo. Então, a experiência do PT em realizar campanhas desde 1989, que entraria como vantagem, não tende a alterar o cenário positivo do oponente”. (Colaborou Bernardo Bittar)
* Estagiário sob supervisão de Cida Barbosa