Título: França culpa os pilotos
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Fonte: Correio Braziliense, 06/07/2012, Brasil, p. 8

Três anos após o acidente com o voo 447 da Air France, que matou os 228 ocupantes da aeronave — sendo 58 brasileiros, o Escritório de Investigação de Acidentes Aéreos da França (BEA, na sigla em francês) divulgou ontem o relatório final sobre o caso. O inquérito responsabilizou principalmente os pilotos, alegando falta de treinamento da tripulação. O órgão francês também fez recomendações ao Brasil. Segundo o documento, o país precisa melhorar o controle do tráfego aéreo. De acordo com o relatório, a falta de comunicação e monitoramento entre controladores brasileiros e de Senegal, na África, — próximo ao local de queda no Oceano Atlântico — provocou demora das autoridades em perceber o sumiço do avião e dificultou a localização dos destroços. O comunicado da empresa aérea só foi feito seis horas após o ocorrido. A Aeronáutica Brasileira aprovou o relatório e garante que melhorias de comunicação já foram instituídas desde a tragédia.

As informações, divulgadas ontem pelo BEA, complementam as investigações feitas em julho de 2011. Segundo Alain Bouillard, responsável pelo inquérito, os pilotos em momento algum entenderam que estavam caindo e, por isso, não reagiram a tempo de recuperar a trajetória. Porém, gravações da caixa-preta, mostraram que o copiloto que comandava a aeronave gritou em seu último registro: "Nós vamos bater. Isso não pode ser verdade".

No dia do acidente, o avião voava com um comandante e dois copilotos. O recomendável são dois comandantes e dois copilotos por tripulação. Segundo o relatório, na hora da pane, o comandante repousava na cabine e o controle estava a cargo do copiloto mais jovem do Airbus A330. Por causa do congelamento dos sensores Pitot, o piloto automático foi desativado e a tripulação teve dificuldade em entender que o avião perdia velocidade (veja arte). O relatório revela que, mesmo após o retorno do comandante à cabine, ele também não adotou as medidas adequadas. Três minutos e meio depois, o avião caiu, de barriga, no Oceano Atlântico, a uma velocidade de 200km/h.

Equipamentos

Além das falhas humanas, o relatório reconheceu erros técnicos. O diretor do BEA que apurou as causas do acidente, Jean-Paul Troadec, admitiu que algumas ações dos pilotos foram motivadas por dados errôneos nos equipamentos. Um deles, é o diretor de voo, que fornece a posição da aeronave. O instrumento orientou os pilotos a continuarem subindo no momento em que o avião perdia a velocidade. A ação correta deveria ter sido o contrário.

As conclusões do relatório do BEA serão utilizadas pela Justiça francesa, que investiga o acidente para determinar responsabilidades penais da tragédia e já indiciou a Airbus e a Air France por homicídio culposo. O inquérito judicial será apresentado aos familiares na próxima terça-feira.