Título: BCs cortam juros para evitar recessão
Autor: Bancillon , Deco
Fonte: Correio Braziliense, 06/07/2012, Economia, p. 9

O medo de que o mundo mergulhe novamente em uma recessão prolongada e a percepção global de que as políticas adotadas para reverter esse quadro não estão surtindo o efeito esperado foram o pano de fundo de uma nova rodada de cortes de juros promovida ontem por autoridades monetárias da Europa e da China. Ainda pela manhã o Banco Central Europeu (BCE) levou a taxa básica para o menor patamar histórico — 0,75% ao ano. Logo depois, foi a vez do Banco da Inglaterra anunciar a ampliação do seu programa de compra de títulos em 50 bilhões de libras, levando o total para 375 bilhões de libras (US$ 585 bilhões). A medida, que visa aumentar o volume de dinheiro em circulação para ver se, com isso, a economia britânica se reaquece, seguiu-se ao inesperada redução de juros do Banco Central Chinês, a segunda em dois meses, derrubando a taxa básica do país para 6% ao ano.

As medidas tentam devolver o ânimo aos mercados após uma série de más notícias sobre o baixo ritmo de recuperação de algumas das mais importantes economias, como a dos Estados Unidos e a da Zona do Euro, que enfrentam um quadro de crescimento letárgico, e da própria China, onde o ritmo robusto de expansão das últimas décadas entrou em desaceleração.

Região mais devastada pela fraqueza econômica, a Europa tem provocado preocupações em todo o mundo. Por isso, a decisão do BCE de cortar novamente os juros, que em tese deveria encorajar os mercados, teve efeito contrário. "A sinalização que o BCE deu foi que a crise talvez possa ser mais intensa do que se imaginava, e isso caiu como um banho de água fria para os investidores", disse a economista Vitoria Saddi, professora do Insper.

Esse foi o segundo corte de juros adotado pela autoridade monetária europeia desde dezembro de 2011, quando já havia reduzido a taxa básica para 1% ao ano, que era, na época, o patamar mais baixo da história. Desde então, a queda das pressões inflacionárias na Zona do Euro e a perda de confiança na retomada econômica tem se tornado o inferno astral do presidente do BCE, Mario Draghi, apontado como maior responsável pelo desalento que tomou conta dos mercados durante a quinta-feira.

"Acredito que o maior problema é que ele dificilmente tomará uma postura mais enérgica de combate à crise, mesmo diante do agravamento da situação na Zona do Euro", avaliou o economista do BES Investimento Flávio Serrano. Ele acredita que a decisão do BCE, acompanhada de perto pelo BC Chinês, poderá incentivar novas rodadas de cortes de juros por outras economias afetadas pela crise financeira. "Tem vários bancos centrais reduzindo taxas e isso abre espaço para novas medidas de flexibilização monetária em outros países", disse.

Desconfiança A piora da crise também interferiu em países que tentam a todo custo se descolar da maré de pessimismo que toma conta da economia global. O Banco Nacional da Dinamarca reduziu sua taxa de depósitos para –0,2%, a primeira vez em que o mecanismo opera em patamar negativo. Já a Espanha, que precisou ir ao mercado para se financiar, teve que pagar mais caro para ter seus títulos aceitos por investidores cada vez mais desconfiados da capacidade do país de honrar seus compromissos. Por uma emissão de 3 bilhões de euros em bônus de 10 anos, o Tesouro espanhol pagou 6,430% ao ano, bem acima dos 6,044% pelos quais papéis semelhantes foram negociados em 7 de junho. Já a Irlanda, que não emitia títulos públicos desde setembro de 2010, voltou ontem ao mercado, e captou 500 milhões de euros em operações de vencimento em três meses com rendimento de 1,8%. A captação vai permitir à Irlanda equalizar gastos com medidas de estímulo econômico no país, um dos mais afetados pela crise financeira de 2008.

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O Brasil galgou três posições no ranking dos principais destinos de investimentos estrangeiros diretos (IED) na passagem de 2010 para 2011. Passou do oitavo para o quinto lugar, de acordo com a Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad). Em 2009, o país ocupava o 14º lugar entre os 20 maiores receptores de investimentos no globo. Conforme o estudo divulgado ontem, o ingresso de IED no Brasil foi de US$ 66,7 bilhões em 2011, volume 37,4% superior aos US$ 48,5 bilhões de 2010. Estados Unidos, China, Bélgica e Hong Kong mantiveram suas posições e ficaram a frente do Brasil que ultrapassou Cingapura, Reino Unido e Ilhas Virgens. Com isso, o país respondeu por 4,4% do fluxo mundial no ano passado, acima dos participação de 3,7% do ano anterior.