Correio braziliense, n. 20230, 10/10/2018. Política, p. 3

 

Governabilidade em xeque no Congresso

Rodolfo Costa

10/10/2018

 

 

O próximo presidente da República não terá uma governabilidade fácil com o Congresso Nacional. Independentemente de Jair Bolsonaro (PSL) ou Fernando Haddad (PT) conseguir a eleição, a alta fragmentação de legendas no Parlamento vai impor dificuldades para a sustentação. Não é para menos. Serão 30 partidos na Câmara e 21 no Senado. Para especialistas, só com muito traquejo e jogo de cintura o futuro chefe do Palácio do Planalto conseguirá aprovar projetos de interesse.

As articulações terão que ser muito bem feitas para aglutinar o maior número de parlamentares na base governista. Afinal, PT fará oposição ao PSL caso Bolsonaro seja eleito, e vice-versa. O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) calcula que petistas terão, no início, 130 deputados na Câmara, independentemente de Haddad ganhar ou não o pleito. Já o capitão reformado do Exército contaria com o suporte de 110 deputados.

A base petista seria formada por PT, PSB, PDT, PCdoB e PSol. O PSL contaria com os 52 parlamentares eleitos da legenda, além de PRB e PSC. A partir daí, o presidente eleito deverá trabalhar para conquistar, no mínimo, 280 votos para criar uma maioria, calcula o cientista político Antônio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Diap.

O caminho para PT ou PSL obterem a governabilidade passa por buscar votos de legendas como PP, MDB, PSD, PR e DEM. E a costura em torno das propostas encaminhadas ao Parlamento deverão ser cirúrgicas para não criar desgaste com os parlamentares, avalia Queiroz. “O presidente eleito costuma ter a boa vontade do Congresso, mas isso não é automático. Vai depender do conteúdo das propostas para a construção de um consenso. Tem que aprovar algo que seja factível e calibrar as medidas para não afugentar os partidos que dão a sustentabilidade”, ponderou.

O namoro com o Congresso deve durar seis meses. É o prazo que, normalmente, um presidente tem de bom convívio com o Parlamento. O principal desafio é manter o relacionamento por mais tempo. Para isso, será importante que o presidente eleito seja cirúrgico nas propostas encaminhadas para aprovação e obtenha resultados práticos. Afinal, o humor de deputados e senadores pode mudar a depender da insatisfação da sociedade, alerta o cientista político e sociólogo Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Os eleitores que voltarão às urnas em 28 de outubro para a votação do segundo turno querem mudanças no padrão de vida, destaca Baía. “Não existe demanda da sociedade por reforma tributária, previdenciária ou bancária. A população quer ter atendido o sentimento de medo e estabilidade pessoal”, explicou. Por isso, ele acredita que mesmo pautas polêmicas, como reformas, possam ser aprovadas com o Congresso e manter o humor, desde que conforte as famílias.

 

Frase

“O presidente eleito costuma ter a boa vontade do Congresso, mas isso não é automático. Depende das propostas para a construção de um consenso”

Antônio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Diap