Título: Chávez dá o troco
Autor: Seixas , Maria Fernandes
Fonte: Correio Braziliense, 06/07/2012, Mundo, p. 16

O presidente Hugo Chávez anunciou ontem a retirada dos adidos militares da embaixada venezuelana no Paraguai, sob a justificativa de que os funcionários eram perseguidos e ameaçados de morte, um dia depois de o governo de Assunção ter retirado seu embaixador de Caracas e declarado persona non grata o emissário da Venezuela no país. Chávez aproveitou ainda o discurso que pronunciou em uma data histórica para denunciar pedidos de suborno feitos a seu governo %u201Cpelos senadores paraguaios que deram o golpe%u201D %u2014 referência ao impeachment do presidente Fernando Lugo %u2014, em troca de facilitar a entrada da Venezuela no Mercosul. O pronto ingresso foi aprovado pelos presidentes da Argentina, do Brasil e do Uruguai, depois de terem decidido suspender o Paraguai do bloco.

%u201CSão uns mafiosos de verdade. Uma verdadeira máfia pedindo dinheiro%u201D, disparou o presidente venezuelano, que citou funcionários brasileiros e argentinos como testemunhas da tentativa de corrupção. Chavéz fez questão de rebater acusações da ministra da Defesa do Paraguai, Maria Liz García, de que o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, teria incitado militares paraguaios a impedir o impeachment de Lugo, horas antes de a medida ser aprovada pelo Senado, em Assunção. A denúncia foi o motivo invocado pelo presidente Federico Franco para impor as represálias diplomáticas ao governo de Chávez. %u201CEstão acusando Nicolás de fomentar um golpe ou de ter feito uma reunião com generais paraguaios. Claro que os generais estavam lá e ele estava com os demais chanceleres%u201D, argumentou o presidente venezuelano, mencionando a missão enviada pela União de Nações Sul-Americanas (Unasul) para acompanhar in loco o julgamento de Lugo.

Em meio à troca de farpas, o Paraguai segue buscando formas de vetar a entrada da Venezuela no Mercosul. Ontem, a Câmara de Deputados pediu ao governo cópias do Protocolo de Montevidéu, que define a plena vigência da democracia como condição para a integração e serviu de base para a suspensão do Paraguai. A ideia dos parlamentares é provar a nulidade jurídica da sanção e assim derrubar também a ampliação do bloco, já que o pedido de ingresso venezuelano esbarrava na ratificação pelo Legislativo paraguaio.