O globo, n. 31176, 15/12/2018. Artigos, p. 3

 

Caminhos na cooperação China-Brasil

Li Yang

15/12/2018

 

 

Cada vez mais veem-se aeronaves regionais produzidas no Brasil sobrevoando o céu da China. As famosas churrascarias brasileiras surgem de forma repentina. O refrigerante guaraná, a cachaça mineira e as marcas como Havaianas, Melissa e Schutz ficam mais acessíveis aos consumidores chineses. O café brasileiro e o própolis são bem acolhidos. Jogadores de futebol brasileiros lideram seus respectivos clubes chineses com a ambição de brilhar mais. No Brasil, existem diversas mercearias chinesas e lanchonetes espalhadas no centro das grandes cidades. A DJI —líder da indústria de drones — inaugurou a sua primeira loja física no Barra Shopping, no Rio de Janeiro. Carros de marcas chinesas como JAC e Chery têm conquistado os consumidores brasileiros devido aos seus preços acessíveis e bons serviços. Trens do metrô do Rio foram fabricados na China, com arcondicionado projetado especialmente para o mercado brasileiro.

Em vista disso, percebe-se que o Brasil e a China têm mantido uma colaboração mútua e benéfica ao longo do tempo. Nos últimos 45 anos, desde o estabelecimento das relações diplomáticas entre ambos os países, a cooperação tem se aprofundado, e os interesses estão continuamente interligados.

Os dois países assinaram acordos de cooperação em inúmeras áreas, como o setor aeroespacial, tecnologia da informação, biotecnologia, agricultura e pecuária, entre outros. O projeto China-Brasil de satélite de recursos da Terra é reconhecido como modelo de cooperação Sul-Sul. Ambos os países estabeleceram conjuntamente o Laboratório Agrícola, o Centro de Tecnologia de Inovação em Mudança Climática e de Energia etc. E atualmente está em processo a construção do Centro de Satélite Meteorológico e o Centro de Biotecnologia. A China é o maior parceiro comercial do Brasil há nove anos. Em 2017, o volume de negócios entre os dois países alcançou US$ 87,54 bilhões, dos quais o Brasil importou US$ 28,96 bilhões e exportou US$ 58,58 bilhões. O enorme poder de compra dos 1,4 bilhão de habitantes da China é um mercado que o Brasil não está em condições de perder. O mercado brasileiro tem se esforçado para melhorar a estrutura de exportação para a China, visando a vender mais produtos de alto valor agregado, em vez de commodities.

As empresas chinesas investiram US$ 24,7 bilhões no Brasil em 2017, considerado um recorde nos últimos sete anos. Mais de 200 delas têm sede no Brasil, e muitas estão entre as 500 melhores do mundo. Além disso, o Fundo de Cooperação Brasil- China para Expansão da Capacidade Produtiva, cujo montante total é em torno de US$ 20 bilhões, já iniciou as suas operações.

A China tem uma alta tecnologia no setor de construção de infraestrutura, incluindo a transmissão de ultra-alta voltagem, a ferrovia de alta velocidade e a tecnologia utilizada em estradas e pontes. A State Grid introduziu uma nova tecnologia voltada para a distribuição de energia elétrica, inserindo também uma metodologia de gestão mais avançada no Brasil, ajudando-o na redução dos custos de transmissão e melhorando a eficiência dos processos. As empresas chinesas concretizaram projetos de infraestrutura de grande porte, como termelétricas, gasodutos e dragagem de portos, criando um grande número de oportunidades de emprego para a sociedade brasileira. Devido às mudanças dos governos federal e estadual em janeiro de 2019, as empresas chinesas aguardam ansiosamente uma cooperação bilateral estável e de longo prazo, sempre confiantes em que o bom relacionamento sino-brasileiro não irá se desviar. No Jardim Botânico, há uma árvore do chá com dois metros de altura, que tem mais de 200 anos de história. Assim como a planta, a cooperação amistosa China-Brasil — enraizada no conceito de abertura e inclusão, benefícios mútuos e desenvolvimento igualitário —será ainda mais profunda e próspera com o teste das dificuldades e mudanças.