O globo, n. 31176, 15/12/2018. País, p. 7

 

Queiroz indicou enteada para gabinete de Flávio

Juliana Castro

Juliana Dal Piva

Bruno Abbud

Igor Mello

15/12/2018

 

 

Além da mulher e de duas filhas, ex-motorista de Flávio Bolsonaro, mencionado em relatório do Coaf, levou ainda o ex-marido da atual mulher para gabinete de deputado na Assembleia Legislativa do Rio

O deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), primogênito do futuro presidente, empregou em seu gabinete mais duas pessoas ligadas ao ex-motorista Fabrício José Carlos de Queiroz. Além da mulher e de duas filhas, o ex-assessor indicou a enteada, Evelyn Mayara de Aguiar Gerbatim, e o ex-marido da atual mulher, Márcio da Silva Gerbatim, para trabalhar no gabinete.

Evelyn foi nomeada para o cargo de assessora parlamentar em 31 de agosto de 2017, justamente para a vaga da mãe, Márcia Aguiar, mulher de Queiroz, que integrou o gabinete de Flávio entre março de 2007 e setembro de 2017. Segundo o pai de Evelyn Mayara, no entanto, a filha cursa faculdade de manhã e trabalha em uma farmácia à tarde.

Aos 21 anos, a enteada de Queiroz aparece na folha de pagamento de outubro da Alerj com um salário líquido de R$ 7.549,75. Além dela, atualmente a filha de Queiroz, Evelyn Melo de Queiroz, segue lotada com salário idêntico no gabinete.

Há cerca de uma semana, um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ) anexado aos autos da Operação Furna da Onça, da Polícia Federal, revelou uma movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz no período de um ano.

Entre janeiro de 2016 e o mesmo mês de 2017, a conta recebeu R$ 605.552 —sendo R$ 84,1 mil da filha Nathalia Melo de Queiroz e R$ 18,8 mil da mulher, Márcia. Entre as movimentações atípicas, há na conta a compensação de um cheque de R$ 24 mil pago à futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro, além de saques fracionados em espécie. O presidente eleito afirma que o cheque é parte do pagamento de uma dívida de R$ 40 mil.

Pai desconhece cargo

Em entrevista a O GLOBO, Márcio Gerbatim, que foi lotado como motorista no gabinete de Flávio entre maio de 2007 ema iode 2011, informou desconhecer que afilha estivesse lotada no gabinete do deputado. Segundo ele, afilha cursa Psicologia em uma universidade na Taquara, na Zona Oeste do Rio, no período da manhã e trabalha em uma farmácia na mesma região. — Minha filha faz faculdade de Psicologia. Ela trabalhava antes numa farmácia, agora você está falando que ela está trabalhando lá na Alerj. Estou surpreso. Para mim, ela trabalhava na farmácia ainda — disse Gerbatim, que diz não se recordar do nome do estabelecimento.

Na tarde da última segunda-feira, O GLOBO encontrou Evelyn Mayara na viela onde está localizada uma casa que, segundo vizinhos, pertence a Queiroz. O imóvel fica na Taquara. Na ocasião, ela negou ter parentesco com o ex-assessor de Flávio e também com Márcia. — Conheço. (São) Conhecidos. Só tenho isso para falar. Você deixou o seu cartão. É com ele (Queiroz) mesmo. Não comigo.

A reportagem insistiu em dois momentos, mas foi interrompida por uma vizinha que acompanhava Evelyn. — Só isso mesmo, né, Evelyn. Não tem que responder, (isso) é coisa de adulto —disse a vizinha. Filha do ex-assessor, Nathália Melo de Queiroz foi nomeada de setembro de 2007 a fevereiro de 2011 no gabinete da vice-liderança do PP, partido de Flávio à época, com salário bruto de R$ 6.490,35.

Entre abril e agosto de 2011, foi do Departamento Taquigráfico e Debates da Casa, com salário bruto de R$ 2.950,66. De agosto de 2011 a dezembro de 2016 foi lotada no gabinete de Flávio como assessora parlamentar, com salário de R$ 9.835,63. No lugar dela, entrou a irmã, Evelyn Queiroz. Nathália deixou a Alerj e foi nomeada no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Foi exonerada em 15 de outubro, mesmo dia em que o pai deixou o cargo na Assembleia.

Barbeiro do presidente

Ex-paraquedista do Exército, Márcio Gerbatim é sobrinho de Maxwell Gerbatim, barbeiro que cortou os cabelos de Bolsonaro em 2 de novembro, durante uma visita à casa do presidente eleito na Barra da Tijuca. Maxwell também foi colega de Bolsonaro na Brigada de Infantaria Paraquedista. —Maxwell é meu tio. Vi ele cortando o cabelo do seu Jair. Meu tio é paraquedista assim como eu e o Bolsonaro. Lotado no gabinete de Flávio por quatro anos, Gerbatim disse desconhecer o motivo das transferências e depósitos de servidores e ex-servidores da Alerj para a conta de Queiroz.

— Eu ficava na função de motorista. Conheço o Queiroz, mas não tenho contato com ele já deve ter uns cinco anos e nem sabia nada disso que estão falando na televisão. Segundo diz, Queiroz indicou ele e a ex-mulher para trabalhar no gabinete. — Foi por indicação do Queiroz que eu e a Márcia fomos trabalhar lá. Ele já trabalhava há muito tempo com eles, acho que começou em 2002, 2001.

Ao todo, cinco pessoas vinculadas a Queiroz, além dele próprio, estão ou estiveram lotadas no gabinete de Flávio. O gabinete de Flávio Bolsonaro informou, em nota, que “em qualquer gabinete parlamentar há servidores que trabalham de forma descentralizada, o que é totalmente legal” e que“o trabalho de assessores também pode ser compatível como exercício de outra atividade”.“O deputado Flávio Bolson aro reitera que não é investigado, não fez nada de errado e que até o momento ainda não tomou ciência do que seu ex-assessor está sendo acusado”, diz um trecho da nota.