Título: Dilma inaugura obra com Paes e é vaiada
Autor: Braga , Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 07/07/2012, Política, p. 4

No último dia autorizado pela legislação eleitoral para inauguração de obras, a presidente Dilma Rousseff foi ao Rio de Janeiro prestigiar o prefeito Eduardo Paes e acabou vaiada. Durante o lançamento de 460 unidades do Minha Casa, Minha Vida, um grupo de estudantes e servidores interrompeu o discurso da presidente por diversas vezes e o protesto acabou em confusão. Questionada se havia visto o protesto, Dilma disparou: "Vi, querido. Nós vivemos em uma democracia. Vocês querem o quê?". Os manifestantes pediam atenção à greve das universidades, que já dura quase três meses.

Dilma tentou ignorar as interrupções e seguiu o discurso. "Meu querido, eu não vou brigar com eles, deixa eles gritarem", recomendou. Na tentativa de contê-los, seguranças rasgaram cartazes e houve tumulto. Em meio à confusão, o prefeito Eduardo Paes se levantou e começou a cantar "Ole olá, Dilma, Dilma", na tentativa de fazer a plateia cantar com ele e abafar o tumulto. Durante a tarde, na cerimônia de entrega da Coordenação de Emergência Regional do Hospital Miguel Couto, a presidente também enfrentou protestos, dessa vez dos servidores da saúde.

As inaugurações no Rio seguem uma agenda da presidente, que aproveitou os dois últimos dias para prestigiar o prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Luiz Marinho (PT), e do Rio, Eduardo Paes (PMDB). O carioca compareceu ao evento, mas permaneceu calado o tempo todo. O Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro entendeu que, como começou ontem oficialmente o período de campanha, sua participação poderia configurar uso da máquina pública para benefício próprio. Dois fiscais da Corte acompanharam o evento.

Não foi necessário discursar. A presidente destacou em sua fala a parceria com o prefeito e algumas de suas ações à frente da prefeitura, assim como fez com Marinho no dia anterior. "Muitas vezes, eu já cheguei aqui e vi como a situação era difícil, mas depois do governo Sérgio Cabral, e agora com o Eduardo Paes, quando foi eleito prefeito, eu fico muito feliz de vir aqui", elogiou.

Dilma também destacou a parceria que tem com os governos do estado e do município. Chamando Paes de "querido", a presidente afirmou que acreditava que a união de esforços na construção das unidades do Minha Casa, Minha Vida trazia bons resultados. "Nós todos sabemos que, quando nós pegamos juntos, que, quando a gente une os esforços, nós realizamos mais e melhor. E aqui nós realizamos mais e melhor nessa parceria com o governo do estado, com Sérgio Cabral, com a prefeitura municipal, o nosso querido Eduardo Paes", pontuou.

Articulações Apesar de interlocutores da presidente anunciarem publicamente que ela não se envolverá nas eleições em 2012 até o segundo turno, Dilma tem se movimentado para apagar os incêndios nas alianças do PT com o PSB em Recife e Belo Horizonte, onde a situação está mais complicada. A corda tem se esticado com o partido do governador Eduardo Campos, mas o PT ainda tenta preservar a relação com a legenda. O ex-presidente Lula telefonou para Campos esta semana e saiu com uma boa impressão da conversa. O comportamento do partido no Congresso também, que segue votado com o governo, tem sido avaliado pelo Planalto como um sinal de que a crise não é definitiva e pode se resolver, inclusive, depois das eleições.

Quem está se fortalecendo com essa crise é o PMDB, que aproveitou o espaço aberto pelo isolamento do PSB para se aproximar ainda mais do governo e tentar se manter na vaga de aliado mais próximo em 2014. Foi visto com bons olhos por Dilma e por dirigentes do partido a atuação do vice-presidente Michel Temer para retirar a candidatura de Leonardo Quintão à prefeitura de Belo Horizonte.

"Vi, querido. Nós vivemos em uma democracia. Vocês querem o quê? (...) Meu querido, eu não vou brigar com eles, deixa eles gritarem" Dilma Rousseff, presidente da República

O que diz a lei A Lei nº 9.504 de 1997 proíbe inauguração de obras nos três meses que antecedem o dia do pleito. A ideia é evitar que candidatos à reeleição usem a máquina pública em benefício próprio. Esse prazo se encerrou ontem, mesmo com a campanha já iniciada desde o fim do registro de candidaturas, em 5 de julho. Ainda assim, a Constituição proíbe o uso da máquina pública para benefício próprio. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio de Janeiro entendeu que, se Eduardo Paes discursasse no evento de ontem, estaria aproveitando a situação para fazer campanha. Apesar de já estar no período autorizado a pedir votos, foi recomendado a não discursar.