O globo, n. 31168, 07/12/2018. País, p. 4
As entranhas do PSL, via Whatsapp
Renata Mariz
07/12/2018
Mensagens vazadas mostram bate-boca e ação contra Rodrigo Maia
Mensagens em aplicativo revelam insatisfação e articulação contra reeleição de Rodrigo Maia para presidente da Câmara. Mensagens reservadas de um grupo de WhatsApp formado por alguns dos principais nomes do PSL, obtidas ontem pelo GLOBO, indicaram a articulação do presidente eleito, Jair Bolsonaro, para interferir na eleição da presidência da Câmara em fevereiro — embora ele venha dizendo que o Executivo não se intrometeria na Casa.
A estratégia estaria sendo colocada em prática pelo deputado Eduardo Bolsonaro (RJ), que admitiu, em uma das mensagens, moverse em sigilo para não desagradar o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que busca a reeleição, mas não conta com a simpatia da família presidencial.
Os textos também revelam uma insatisfação em parte da bancada do PSL, que já havia reclamado em reunião com o presidente eleito, há duas semanas, da falta de voz no processo de escolha de ministros. Iniciada ainda na madrugada de ontem, a discussão por espaços de poder no partido ocorreu entre o deputado e senador eleito Major Olímpio (PSL-SP) e a futura deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) e estendeu-se por boa parte do dia.
Por volta das 13h, Eduardo Bolsonaro decidiu intervir na confusão. Ao rebater críticas de Joice sobre a articulação política do partido, que, segundo ela, estaria “abaixo da linha da pobreza”, o filho do presidente revelou que atuaria em sigilo, a mando do pai, na costura de apoios na Casa e que, se o presidente da Câmara soubesse de seus movimentos, poderia deflagrar a votação de “pautas bomba” como represália.
Um dos partidos procurados nessa estratégia sigilosa, como o próprio filho do presidente relatou na conversa, foi o PR do líder José Rocha (BA), que aguarda entendimentos com o PSL para lançar o nome do deputado Fernando Giacobo (PR-PR).
Sem "botar a cara"
“O PSL está fora das articulações? Estou fazendo o que com o líder do PR agora? Ocorre que eu não preciso e nem posso ficar falando aos quatro cantos o que ando fazendo por ordem do presidente. Se eu botar a cara publicamente, o Maia pode acelerar as pautas bombas do futuro governo. Por isso, quem tem feito mais essa parte é o delegado Waldir no plenário e o Onyx via líderes partidários”, escreveu Eduardo Bolsonaro.
A atuação de Eduardo contra os interesses do presidente da Câmara não foi a primeira manifestação hostil do clã presidencial contra Rodrigo Maia. No começo da semana, em entrevista à GloboNews, o senador eleito Flávio Bolsonaro disse que o governo não apoiará as candidaturas de Rodrigo Maia à presidência da Câmara e de Renan Calheiros (MDB-AL), no Senado.
— Esses nomes precisam entender que estamos vivendo um novo momento. As urnas mostraram que a população quer mudanças. E tanto Renan quanto Maia não contemplam essa vontade (...) Rodrigo Maia já teve seu tempo à frente da Câmara e não conseguiu garantir o quórum suficiente para a votação da reforma da Previdência —disse.
Ao revelar no grupo de WhatsApp do PSL a atuação do pai na disputa da Câmara, Eduardo Bolsonaro acabou desconstruindo o discurso do presidente eleito, que repetidas vezes prometeu não usar a influência do Executivo para interferir na eleição das mesas do Congresso.
Ao ser procurado pelo GLOBO ontem para comentar as declarações do clã presidencial, Rodrigo Maia preferiu manter o silêncio. O líder do PR, José Rocha, afirmou que o filho do presidente eleito teria manifestado impressões sobre a disputa, mas negou que tenha articulado contra Maia. Além do candidato do PR ao comando da Câmara, Bolsonaro também elogiou outras três candidaturas desde o término da campanha eleitoral (leia no contexto abaixo).
Ação "temerária"
Ontem, auxiliares do gabinete de transição consideraram temerário o movimento do filho do presidente, ao discutir interesses diretos de Bolsonaro em um grupo de WhatsApp. Mais tarde, diante da repercussão da reportagem publicada no site do GLOBO, o próprio Eduardo Bolsonaro publicou o texto para cobrar os aliados pelo vazamento.
A origem de todo o entrevero no PSL foi uma reunião de Bolsonaro com os deputados Major Olímpio e Delegado Waldir (GO), na noite de quarta-feira. Integrantes do PSL foram informados de que Bolsonaro pretendia anunciar Waldir o líder do governo na Câmara em 2019. Postulante ao cargo, Joice Hasselmann criticou “disputas de espaço pouco republicanas” no partido. Ao GLOBO, Waldir disse que a escolha do líder se dará no ano que vem e criticou a colega de partido:
— Isso só vai ser decidido em 2019. Ninguém pode chorar antes do tempo. É preciso muito trabalho para construir os blocos.
Joice não quis comentar a polêmica.
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Para o comando da Câmara, oito candidatos
Natália Portinari
07/12/2018
Faltando pouco mais de uma semana para o fim dos trabalhos do atual Congresso, a disputa pela presidência da Câmara no período de 2019-2020 já tem oito deputados como candidatos. Além do projeto de reeleição do atual comandante da Mesa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a Casa deve ter postulantes de outros quatro partidos.
Contam com a simpatia do presidente eleito, Jair Bolsonaro, Alceu Moreira (MDB-RS), João Campos (PRB-GO), Capitão Augusto (PR-SP), lideranças das bancadas ruralista, evangélica e da segurança, respectivamente, além de Giacobo (PR-PR). Os outros nomes que já manifestaram a intenção de disputar são Fábio Ramalho (MDB-MG), JHC (PSL-AL) e Delegado Waldir (PSL-GO).
Aliados do atual presidente da Câmara dizem que os oponentes, por ora, não ameaçam sua vantagem e apostam que não conseguirão aglutinar apoio fora de seus próprios nichos.
—Bolsonaro disse que não poderia manifestar apoio à minha candidatura porque isso, para quem acabou de ser eleito presidente, não ficaria bem. Tem outros parlamentares que contam com a simpatia dele. Não tenho o apoio exclusivo do Bolsonaro, tenho também o apoio dele —disse Alceu Moreira ao GLOBO.
A predileção dada ao DEM na formação dos ministérios de Bolsonaro enfraqueceu, na visão de alguns, o favoritismo de Maia. Nas palavras do deputado Alberto Fraga (DEM-DF), os ministros do DEM causaram “ciúmes” na Câmara e geraram uma impressão de que o partido foi favorecido pelo governo. Dirigentes da sigla e o próprio Maia negam o desconforto e dizem que vão se manter independentes.
A aposta é que o nome de Rodrigo Maia consiga congregar, além de deputados do centrão, votos de deputados de esquerda em um eventual segundo turno, o que o torna mais viável do que os deputados alinhados mais claramente à direita. O bom trânsito de Maia com setores da esquerda, como PT e PCdoB, porém, gera desconfianças entre os bolsonaristas.
A força da bala
Campos é quem tem uma articulação cada vez mais visível nos corredores da Câmara. Além de ser da bancada evangélica, Campos é delegado e vice-presidente da Frente Parlamentar da Segurança Pública, a chamada bancada da bala. Ele também tem uma relação próxima com Bolsonaro. No último mês, esteve com o presidente eleito três vezes.
Já Giacobo afirma que aguarda uma deliberação de seu partido para decidir se vai, de fato, se candidatar.
Na bancada da bala há outro amigo do presidente que está na disputa: Capitão Augusto (PR-SP). Ele aposta que o fato de ser de São Paulo e representar os militares pode ajudá-lo. Ele compactua com a visão do filho do presidente eleito, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que o próximo presidente da Casa tem que “tratorar” a oposição.
Há divisão no próprio campo de Bolsonaro. O presidente eleito declarou que seu partido não terá um representante na disputa, mas Delegado Waldir diz que manterá seu nome. Cita como exemplo o próprio Bolsonaro, candidato em 2017 e teve quatro votos.