O globo, n. 31175, 14/12/2018. País, p. 6

 

Maia articula apoio da oposição para se reeleger

Catarina Alencastro

Bruno Góes

14/12/2018

 

 

Presidente da Câmara tenta neutralizar movimentação de filhos de Bolsonaro, que são contra sua recondução ao cargo

Enquanto os filhos do presidente eleito, Jair Bolsonaro, fustigam a candidatura à reeleição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), avança nos bastidores da Casa um acordo de partidos para transformar o deputado carioca no representante da oposição a Bolsonaro na disputa pelo comando da Mesa Diretora.

O GLOBO apurou ontem que Maia já teria apalavrado o apoio do PDT e estaria em conversas avançadas com PT e PCdoB. As bancadas dos três partidos, aliadas a outras sete siglas — DEM, PSB, PSDB, PR, PSD, Pode e SD —, já garantiriam 242 votos a Maia. Há sempre, no entanto, a possibilidade de traições na votação, que é secreta.

Correndo o risco de ficar isolado até mesmo na oposição, o PT deve acabar aderindo a Maia, mas, antes, quer obter compromissos do presidente da Câmara, como o de não “atropelar o regimento” para ajudar o governo. Donos da maior bancada eleita, com 56 deputados, os petistas também querem apoio para ocupar cargos na Mesa e nas presidências de comissões.

Os movimentos de partidos de esquerda em direção a Maia não são novos. Nas duas vezes em que foi eleito presidente da Câmara, ele contou com o apoio da esquerda.

— A Câmara não pode ser apêndice do governo. Creio que o desejo dele é manter o equilíbrio. Ele se comporta como quem manterá a independência — diz o líder do PCdoB, Orlando Silva (SP), sobre Maia.

Bloco contra Maia

A menos de dois meses para a eleição da Mesa Diretora, marcada para a primeira sessão de fevereiro, as costuras de apoios evoluem em ritmo intenso no Congresso. Anteontem, cinco candidatos à cadeira de Maia, todos alinhados a Bolsonaro, firmaram um acordo de apoio mútuo em caso de segundo turno. Fábio Ramalho (MDBMG), João Campos (PRBGO), JHC (PSB-AL), Alceu Moreira (MDB-RS) e Capitão Augusto (PR-SP) prometeram formar uma aliança para derrotar Maia. Os integrantes do grupo têm a simpatia de Bolsonaro, que já os elogiou publicamente. Quando recebeu a bancada do MDB, o presidente eleito chamou Ramalho de “meu presidente”.

Tido como maior empecilho aos planos de Maia, o novo governo tem declarado que não pretende se envolver na disputa. Anteontem, durante o encontro da bancada do DEM com Bolsonaro, o presidente da sigla, ACM Neto, deu mais um passo para tentar consolidar esse entendimento. Neto tratou de agradecer Bolsonaro pela decisão de não tomar partido, ainda que saiba dos movimentos em sentido contrário.