O globo, n. 31175, 14/12/2018. País, p. 8
Moro: polícia não terá esquadrão para matar
Cleide Carvalho
14/12/2018
Em entrevista à emissora de TV, futuro ministro da Justiça diz que confronto não é a melhor estratégia
O futuro ministro da Justiça, Sergio Moro, afirmou que o próximo governo não terá como objetivo criar esquadrões da polícia para matar criminosos. Segundo ele, o confronto nunca é a melhor estratégia, pois, diz ele, há risco para inocentes e para os próprios policiais.
Ainda segundo o ex-juiz, o sistema funciona quando o criminoso vai para a prisão e o policial vai para a casa.
— Não se tem objetivo de criar esquadrões policiais com o objetivo de matar criminosos — disse Moro, durante entrevista ao programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes, ao ser indagado se a legislação pode ser mudada para dar mais condições de confronto nas ruas.
O apresentador do programa chegou a afirmar que há muitos militares ligados ao futuro governo de Jair Bolsonaro favoráveis ao “confronto com bandido que tem fuzil na mão”.
Ao responder sobre confrontos entre policiais e bandidos, Moro admitiu que existem no país muitas organizações criminosas fortemente armadas, mas ressaltou que é preciso escolher o momento ideal para intervenção policial “e com força sobrepujante que torne o confronto algo indesejável para o criminoso”.
O futuro ministro disse que, também numa situação eventual de confronto, o policial não vai esperar levar uma bala de fuzil para reagir. Ressaltou, porém, que essas situações são cobertas pela legislação atual, mas que podem se colocadas de forma mais clara na lei.
Moro voltou a afirmar que é preciso ser mais rigoroso no sistema de progressão de penas, principalmente pessoas vinculados a organizações criminosas. Afirmou que os crimes com morte são tratados de forma condescendente no Brasil.
O ex-juiz deu como exemplo positivo o recente caso de um brasileiro condenado na Espanha a prisão perpétua. François Patrick Campos Gouveia matou, em 2016, o tio, a tia e duas crianças, uma de 1 ano e outra de 4 anos de idade. O rapaz, de 22 anos, recebeu a pena máxima prevista no Código Penal espanhol, que pode ser revisada após 25 anos.
O futuro ministro disse que ninguém questiona que a Espanha seja uma democracia consolidada e que, no Brasil, o rapaz não ficaria preso por mais de dez anos.
Ele lembrou ainda o caso de pessoas que matam o pai ou a mãe e têm direito à saída da prisão no Dia das Mães ou dos Pais, numa referência a Suzane Richthofen, condenada a 39 anos de reclusão pela morte dos pais. Em agosto passado, ela recebeu o benefício no no Dia dos Pais.
Condenação de Lula
Sobre a prisão do ex-presidente Lula, Moro disse que nenhum juiz criminal tem prazer em prender ou condenar, mas “faz parte do trabalho”.
—Da minha parte, não tenho nada, pessoalmente, contra o ex-presidente. Acho até lamentável que eu tenha sido o autor da decisão que condenou uma figura pública — afirmou o ex-juiz da Lava-Jato, para quem o petista “até fez coisas boas” em seu governo.