Correio braziliense, n. 20244, 24/08/2018. Política, p. 4

 

Ameaças  ao STF e a Rosa Weber

Renato Souza 

24/10/2018

 

 

Um coronel da reserva do Exército, identificado como Carlos Alves, será alvo de investigação após divulgar um vídeo em que faz uma série de ameaças contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além das duas cortes, foi alvo dos ataques a ministra Rosa Weber, que é chamada de “salafrária”. O comandante da Força, general Eduardo Villas Bôas, solicitou que o Ministério Público Militar (MPM) investigue a conduta do coronel. Os ministros da Segunda Turma do STF também reagiram e notificaram a Procuradoria-Geral da República (PGR) para que o caso também seja alvo de diligências no órgão. Ontem mesmo, a titular da PGR, Raquel Dodge, oficiou o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, para que a Polícia Federal abra investigação.

As reações começaram após o Celso de Mello destacar em plenário as declarações do oficial. “Circulou, na internet, um vídeo com criminosas ofensas morais à honra, à dignidade, à alta respeitabilidade e à integridade pessoal e ilibada reputação da eminente ministra Rosa Weber, presidente do TSE, juíza deste Supremo Tribunal Federal e magistrada de irrepreensível conduta profissional. O discurso imundo, sórdido e repugnante do agente que ofendeu a honra da ministra Rosa Weber exteriorizou-se mediante linguagem profundamente insultuosa, desqualificada por palavras superlativamente grosseiras e boçais, próprias de quem possui reduzidíssimo e tosco universo vocabular, indignas de quem diz ser oficial das Forças Armadas”, disse.

No vídeo, o coronel Alves fala em uso de poder militar para fechar o STF. A ameaça se concretizaria caso o TSE aceite a denúncia apresentada contra o deputado Jair Bolsonaro, concorrente do PSL à Presidência, acusado de receber o apoio de empresários para contratar pacotes de disparos em massa de mensagens no aplicativo WhatsApp. “Se você aceitar essa denúncia ridícula e tentar tirar Bolsonaro por crime eleitoral, nós vamos derrubar vocês daí, sim. Porque, aí, acabou. Lembre-se bem, povo brasileiro, que em 1964 foi exatamente por causa dessa corja da esquerda que o povo pediu e as Forças Armadas e o Congresso Nacional entraram em ação”, disse Alves.

Na gravação, que foi ao ar na última sexta-feira, o militar da reserva chama a Suprema Corte de um “Supremo Tribunal de canalhas, de corruptos, de vagabundos”, e diz que o “TSE é um “tribunal porcalhão”. Em seguida, ataca a ministra Rosa Weber por ter recebido representantes do PT em uma reunião que tratou das acusações contra Bolsonaro. “Essa ministra salafrária, corrupta e incompetente, se fosse patriota nem receberia essa galera no TSE”, completou o coronel.

Em nota, o Exército confirmou a identidade do militar e disse que ele “deve assumir as responsabilidades por suas declarações, as quais não representam o pensamento do Exército Brasileiro”. De acordo com fontes ouvidas pelo Correio, Alves é visto, dentro da corporação, como alguém “desequilibrado, sem credibilidade”, e a investigação foi solicitada pelo comandante da Força, general Villas Bôas, que viu nas palavras do militar da reserva uma ofensa direta também às Forças Armadas.

 

Procuradora

O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) aprovou, ontem, abertura de processo administrativo disciplinar contra a procuradora de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais, Camila Gomes Teixeira. Ela usou conta no Twitter para sugerir o uso de força militar, coação e violência contra ministros do Supremo. Se considerada culpada por ato criminoso, ela pode perder o direito a exercer a função pública.

Nas mensagens, ela pediu para generais expulsarem os ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli. “Parece que ela dormiu na década de 1960 e acordou em 2018, como se fosse da noite pro dia. Uma manifestação anacrônica, que despreza seu tempo. Isso representa um amadorismo no processo civilizatório”, disse o conselheiro Valter Shuenquener de Araújo durante a sessão que discutiu o assunto.