Título: Posse surpresa num Senado constrangido
Autor: Mascarenhas, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 14/07/2012, Política, p. 2

Suplente de Demóstenes, Wilder de Morais assume o mandato às pressas, com o plenário vazio, e escapa dos ataques pela relação com Cachoeira, mas o próprio colega de partido Agripino Maia avisa que o novo senador terá de se explicar

Com plenário vazio, sem a presença da imprensa e dos colegas, o agora senador Wilder Pedro de Morais (DEM-GO) tomou posse ontem, às pressas, sem avisar nem sequer ao presidente do seu partido, José Agripino Maia (DEM-RN). Ele aproveitou a sexta-feira, dia em que a maioria dos parlamentares está em seu estado, para comparecer ao Senado. Entrou em contato no início da manhã com os integrantes da Mesa Diretora e avisou que estava em Brasília para ser empossado. Chegou à Casa por volta das 8h30m, assinou o termo de posse, fez um juramento relâmpago e saiu logo em seguida, sem ser notado, a salvo dos ataques e questionamentos pela relação com o bicheiro Carlos Cachoeira, a mesma que custou o mandato do titular Demóstenes Torres, cassado na quarta-feira.

Passada meia hora do fim da cerimônia, só então, ele entrou em contato com o presidente do DEM, avisando que assumira oficialmente o posto que lhe caiu no colo. Assistiram à sessão apenas os senadores Ciro Nogueira (PP-PI), que presidia os trabalhos, Roberto Requião (PMDB-PR), Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) e Ana Amélia (PP-RS). Com o baixo quórum, Wilder escapou de ter de explicar a proximidade com Cachoeira. A mudança para o gabinete que era ocupado pelo titular ainda não tem data. O Congresso estará em recesso parlamentar de 17 de julho a 1º de agosto.

Agripino não escondeu a surpresa, mas preferiu não criticar o correligionário. "Eu realmente não sabia que seria ontem. Ele me ligou logo em seguida, dizendo que tinha ido ao Senado e pediu para marcarmos uma conversa nos próximos dias. Não fiquei incomodado com o fato de não ter sido avisado. Tomar posse é um direito individual, ninguém tem obrigação de comunicar isso a ninguém. A partir de agora, sim, ele passa a ser um senador do DEM e a ter obrigações com o partido", contemporizou Agripino.

Sob pressão A reunião entre Wilder e o senador potiguar será a primeira etapa de satisfações que o parlamentar goiano terá de prestar sobre suas ligações com Cachoeira. Em uma gravação feita pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, o novo senador e ex-secretário estadual de Infraestrutura de Goiás conversava com o bicheiro em tom de subserviência. No diálogo, atribui a Cachoeira o fato de ter sido escolhido primeiro suplente de Demóstenes e titular da pasta de infraestrutura do governado Marconi Perillo (PSDB-GO). "Carlinhos, pense em um cara que, enfim, nunca teria encontrado um governo, que nunca teria sido bosta nenhuma. Você está falando com esse cara", admitiu Wilder.

O presidente do DEM reconhece. Antes mesmo de assumir, Wilder já tinha muito a explicar. Dentro do partido, porém, avalia-se que as desconfianças em relação a ele são reflexos do efeito Demóstenes, uma ressaca de curto prazo. "Ao pedir esse encontro comigo, ele já adiantou que pretende esclarecer todos os fatos. Eu nem precisei pedir esse posicionamento. Wilder sabe que deve esclarecimentos. E eu confio que ele o fará com clareza. Passado isso, espero que cumpra as obrigações com o povo de Goiás e com a nossa legenda, naturalmente", afirmou Agripino, antes de confirmar ter pouquíssimas informações sobre o correligionário. "Não posso dizer se é ou não um político de potencial, talentoso. Sei apenas que se trata de um empreendedor, fez fortuna, o que é um bom sinal. Competente, ele deve ser."

No radar da CPI O nome do senador goiano já chegou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O senador Pedro Taques (PDT-MT), que classificou a posse de Wilder como inusitada, afirmou que se reunirá com os senadores Randolfe Rodrigues (PSol-AP) e Cristovam Buarque (PDT-DF) para discutir as suspeitas contra o novo colega, mas não adiantou se pretende apresentar um requerimento de convocação para que ele preste depoimento na comissão.

Em vez de marcar uma entrevista coletiva, como costuma ocorrer, Wilder optou por se pronunciar pelas redes sociais. Afirmou pelo Twitter que os diálogos com Cachoeira tinham como tema principal assuntos pessoais. O contraventor é casado com Andressa Mendonça, ex-mulher e mãe dos dois filhos do parlamentar. Ele pediu a separação para unir-se ao bicheiro, com quem está casada. Wilder terá mais seis anos e meio de mandato, tempo que restaria a Demóstenes.

"Não posso dizer se é ou não um político de potencial, talentoso. Sei apenas que se trata de um empreendedor (...) Competente, ele deve ser" Agripino Maia (RN), presidente do DEM

TUITADAS ...Discutíamos (ele e Cachoeira) sobre questões de foro íntimo, que resultaram na minha separação da esposa...

...Ao contrário do que vem sendo divulgado, meu real propósito não foi mostrar gratidão, mas pôr fim a uma conversa constrangedora...

...Se a íntegra da conversa fosse divulgada, a interpretação dos fatos certamente seria outra. Wilder de Morais (@wildermorais)