Título: Demóstenes sob processo disciplinar
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 14/07/2012, Política, p. 3

MP de Goiás abre investigação e ex-senador pode ser demitido do cargo de procurador

A Corregedoria-Geral do Ministério Público de Goiás (MPGO) instaurou, na manhã de ontem, procedimento investigativo contra o ex-senador da República e atual procurador de Justiça Demóstenes Torres. Em nota oficial, a instituição informou que a chamada reclamação disciplinar foi aberta "para apurar eventual infringência de dever funcional decorrente dos fatos trazidos pela Operação Monte Carlo." Já foram solicitados documentos ao Senado Federal e à Procuradoria Geral da República (PGR).

Demóstenes foi cassado, na quarta-feira, após denúncias de que era o braço político do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com base em escutas telefônicas promovidas pela Polícia Federal. O ex-parlamentar pode, inclusive, ser afastado das funções no decorrer da apuração. A assessoria de imprensa comunicou que a possibilidade de afastamento, enquanto durar a investigação, pode ser proposta pelo procurador de Justiça Pedro Tavares Filho, decano do Colégio de Procuradores do Ministério Público de Goiás.

O MPGO comunicou que a investigação disciplinar tem caráter sigiloso. Após a conclusão do procedimento, dependendo da gravidade do caso, o ex-parlamentar pode ser advertido, censurado, suspenso por até 90 dias, ter a aposentadoria cassada ou ser demitido do cargo. No novo emprego, Demóstenes receberá R$ 24 mil e será chefiado pelo irmão, o procurador-geral de Justiça do Ministério Público de Goiás, Benedito Torres. Ele ainda não se pronunciou sobre o assunto.

Ausente do Twitter desde 23 de março, Demóstenes voltou a utilizar ativamente a ferramenta desde que foi expulso do Senado. Na quinta-feira à noite, ele respondeu a vários usuários do microblog. Uma espécie de entrevista coletiva virtual. Foram mais de 100 postagens. Reclamou dos vazamentos das escutas telefônicas, disse que foi vítima de uma campanha maldosa e voltou a criticar a investigação da Polícia Federal.

"Já me desculpei mais de uma vez. Não é fácil enfrentar um sofrimento tão terrível e tão injusto durante tanto tempo", respondeu a um dos seus mais de 31 mil seguidores. Para outro, escreveu: "Todos estamos sujeitos a erros, mas, nesse caso, fui vítima de uma grande injustiça, como já provei."

Montagens Em várias mensagens postadas, o ex-parlamentar critica todo o processo que culminou na sua cassação. "Além de duvidoso e tendencioso, o vazamento é criminoso. Expuseram documentos tidos pela Justiça como sigilosos." Ele repetiu que muitas interceptações divulgadas pela imprensa foram editadas pela Polícia Federal. "Foram 250 mil horas de gravações, nem assim conseguiram algo relevante. Apelaram para montagens e transcrições erradas."

Com a cassação, Demóstenes fica inelegível até 2027. Ele assegurou que vai acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar recuperar o mandato de senador da República. Para isso, precisou trocar de advogados. Os antigos defensores entendem que a decisão do Senado é soberana e não cabe nenhum tipo de questionamento.

Deputado bate-boca com perfil falso Vice-presidente da CPI do Cachoeira, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) trocou ataques pelo Twitter com um perfil falso de Wilder de Morais (DEM-GO). A confusão teve início quando o petista anunciou que pediria a cassação do novo senador. "O suplente do ex-senador Demóstenes Torres deveria ser cassado pelo fato de a vaga ter sido conquistada pela organização criminosa", defendeu Teixeira. Em seguida, um perfil falso de Wilder respondeu que falaria da tribuna sobre os ataques "grosseiros e irresponsáveis". O petista rebateu dizendo que a chapa de Demóstenes nas eleições de 2010 estaria inteiramente comprometida. Depois do incidente, o perfil oficial do senador denunciou o farsante e disse que tomaria providências necessárias para identificar o autor dos ataques.